Está na lei: “entende-se por manezinho(a) todo aquele(a) que guarda o sentimento e o espírito das tradições culturais mais autênticas da gente florianopolitana, desde a velha Desterro…”. Esse é o texto da Lei 7.262, de 16 de janeiro deste ano, que estabelece a canção “Sô Mané”, de autoria de André Luiz Jesus dos Santos, o André Calibrina, como Hino dos Manezinhos.
O texto da legislação cita doze itens que seriam o exemplo das “tradições culturais mais autênticas” dos habitantes de Florianópolis. Entre eles, estão a reclamação do vento sul, a paixão por boatos e fofocas e o sentimento de saudades do campo da Liga (antigo estádio Adolfo Konder), do Abrigo de Menores, do Miramar, da pandorga, do hospital da Marinha, da Tita, do jornaleiro “Globo”, do Corvina e da Lourdes da loteria.
Segundo o proponente da lei, o vereador Márcio de Souza, o somatório de todos os elementos cria um sentimento de unidade cultural entre os habitantes da cidade. Para Souza, o texto compromete-se com o resgate e preservação da cultura local, o que ele considera ser uma obrigação do poder público.
Moradores e pesquisadores da cultura da Ilha de Santa Catarina, porém, ainda conhecem pouco a lei e não chegam a um consenso sobre o conceito de manezinho.
Quando se fala em manezinhos, logo se lembra dos pescadores e das populações do interior da Ilha. O historiador e empresário Arante Monteiro Filho, o Arantinho, nativo e morador do Pântano do Sul, conta que o termo manezinho era usado pelos habitantes da região central da cidade para depreciar quem morava nas áreas afastadas.
“No Centro, havia uma maior estrutura. Todo mundo da cidade tinha banheiro em casa, por exemplo, e nós do interior da Ilha, não. Até o jeito de se vestir era diferente.”
Com o tempo, o termo que era pejorativo virou motivo de orgulho. Os motivos para essa mudança, segundo ele, seriam a divulgação da cultura ilhoa feita pelo jornalista Aldírio Simões e o sucesso do tenista Gustavo Kuerten.
“O Aldírio ajudou a divulgar a nossa cultura localmente, e o Guga, nacionalmente.”
Ilhéu adquire identidade própria
Para o eletricista Anderson Vieira da Fonseca, nascido e criado em São José, não é bem assim: só é manezinho quem nasceu na Capital. “Quem é de São José não pode ser considerado manezinho. São culturas bem diferentes, assim como a de Palhoça é diferente das duas”, afirma. Fonseca, que trabalha na Capital há “quase 30 anos”, afirma que as referências culturais de sua cidade são quase todas importadas de Florianópolis. “O que é de lá mesmo é pouco divulgado.”
O aposentado Hélio Gonçalves diz que ter nascido na Ilha é motivo de orgulho. Para ele, o jeito de falar é a principal característica que identifica os manezinhos da Ilha. Ele acha errado pessoas de fora da cidade serem condecoradas com títulos de cidadão ou receberem prêmios que as caracterizem como ilhéus.
“Manezinho é todo mundo que nasceu aqui. Tem gente que nem conhece a Ilha direito e ganha troféu”, reclama, antes de começar uma partida de duplas de dominó nas mesas de concreto em frente à Praça 15 de Novembro – algo típico de manezinhos.
Xenofobia contra o desrespeito
Arantinho diz que manezinho é todo aquele que nasceu e mora no litoral catarinense, de qualquer descendência. “Assim como no Oeste e no Vale do Itajaí, nós também temos uma cultura própria, seja em Imbituba, Palhoça ou Governador Celso Ramos”, afirma. Segundo ele, o que caracteriza a personalidade do manezinho é a ausência de preconceitos, a hospitalidade e até uma certa ingenuidade.
O historiador considera que algumas manifestações xenófobas de nativos de Florianópolis, como movimentos que pregam a expulsão de migrantes, são fruto da falta de respeito à cultura da Ilha.
“É lógico que coisas desse tipo estão erradas, mas, assim como temos que respeitar a cultura de quem vem de fora, essas pessoas também têm que respeitar a nossa. E tem muita gente que chega aqui e quer impor sua visão de mundo, assim como há outros que gostam de dizer que são manezinhos também.”
O também historiador e museólogo Gelci José Coelho, o Peninha, caracteriza o manezinho como um sujeito simples e espontâneo.
Saiba mais
Lei 7262/2007
Características que definem manezinhos
• a hospitalidade;
• as músicas e danças tradicionais, boi-de-mamão e o pau-de-fitas;
• gostar de pirão branco com cardosa, lingüiça e ovo frito;
• a sadia gozação entre avaianos e figueirenses;
• a paixão pelo samba, pelas escolas de samba e pelo carnaval;
• a reclamação do vento sul;
• a procissão do Senhor dos Passos e as festas do Divino;
• o gosto por passarinhos e pescarias;
• a paixão por boatos e fofocas;
• o gosto de colocar apelidos em pessoas e coisas;
• ter saudades do Campo da Liga, do Abrigo de Menores, do Miramar, da Pandorga, do Hospital da Marinha, da Tita, do Globo, do Corvina e da Lourdes da loteria;
• ter respeito às bruxas e ao boi-tatá.
(Felipe Silva, A Notícia, 05/08/2007)
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2 Comentários
Bom eu tenho muito orgulho de ser mané e concordo com tudo que os colegas ai comentam,sou nascido e criado na Costera e atualmente moro no Rio tavares,e aproveito para mandar um abraço ao meu amigo Arantinho irmão do meu amigão Maido;e agradecer ao nobre vereador Marcio Souza pela criação da lei manézinho.
Felizmente o mundo é maior que Florianópolis. Cresçam manezada!