Um incêndio na tarde de ontem queimou um dos barracos construídos na Ponta do Coral, em Florianópolis, onde morava a catadora de materiais recicláveis conhecida como “Patrick”, que não estava presente.
O barraco era um dos dois que ficavam no local, próximo aos ranchos de pescadores, ao lado da Avenida Beira-Mar Norte, no Bairro Agronômica.
Um pescador que trabalha no rancho próximo e pediu para não ser identificado apontou a possibilidade do surgimento de uma nova favela ali. Disse ainda que o local é também um ponto de consumo de drogas, especialmente crack, e que detentos da penitenciária dormem ali quando saem temporariamente por indultos.
– Ficam uma semana e aprontam, né?
O catador de materiais recicláveis Paulo Braga Moreira, que mora no barraco a poucos metros de distância, explicou que escolheu o lugar para morar porque não tem família, nem para onde ir. Mantém todos seus documentos consigo, disse que procura trabalho e fica longe de confusões e que não se envolve com tráfico. Reconheceu que invadiu o terreno, mas avisou que pretende continuar lá “até ver o que vai dar”.
Ele contou que acordou com o barulho da agitação dos cachorros e viu o fogo no barraco de “Patrick” e em pilhas de capim ressecado, por volta das 15h30min, mas não temia que chegasse a seu barraco, já que construiu, com materiais encontrados na rua, fora da área de capim seco. Junto à ciclovia, dois policiais militares, de bicicleta, observavam, mas foram embora do local pouco após a chegada da reportagem do Diário Catarinense, cerca de 40 minutos depois.
– Quando acordei, eles estavam lá, mas não acho que tenham sido eles. A polícia não ia fazer uma coisa dessas – declarou Moreira, que se disse, entretanto, receoso, pois o incêndio foi pouco depois da matéria ser divulgada na RBS TV sobre a presença deles no local.
– Pode ser que aconteça comigo, que amanhã pegue fogo no meu barraco comigo dentro.
Ele mudou-se para a Ponta do Coral há sete meses, depois de deixar o presídio, onde cumpria pena por homicídio. Comparece regularmente ao Fórum da Capital, onde, afirmou, já informou que seu atual endereço é ali: Ponta do Coral, sem número.
Manifestação contra construção de hotel
Em 2001, houve a tentativa de construir um hotel de 11 andares no local, mas a comunidade organizou manifestações contra a obra.
Um projeto de lei que propunha a alteração da região para área verde de lazer foi criado na Câmara de Vereadores e modificado em 2005 por emenda, que tornou a Ponta do Coral área turística exclusiva: adequada para receber empreendimentos de hotelaria, lazer noturno, usos culturais ou complexos de múltiplo uso.
(Fábio Bianchini, DC, 02/08/2007)
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