Todos os dias, o bancário Adir Rosso usa a passarela da ponte Pedro Ivo Campos, a única ligação para pedestres entre o Continente e a Ilha de Santa Catarina, para ir de sua casa, em Coqueiros, até o Centro, onde trabalha. Ele calcula o trajeto em aproximadamente uma hora. Desse tempo, cerca de 15 minutos são gastos sobre a passarela. Para Rosso, o local é uma boa opção de travessia entre os dois lados de Florianópolis, mas poderia ser melhor explorado se houvesse mais limpeza.
Medo
“Pessoas que conheço nunca passam por aqui, pois temem roubo”, diz usuário
O bancário cita como exemplo o cheiro forte de fezes e urina que se pode sentir em alguns trechos da passarela. “O ideal seria ter um banheiro. Há pessoas que passam pela passarela e fazem as necessidades aqui mesmo.”
O desempregado Ronaldo da Silva Nascimento faz a travessia, em média, duas vezes por semana. Morador do Estreito, é mais ou menos com essa freqüência que ele procura por emprego no Centro da cidade. A sensação de insegurança, na opinião de Nascimento, afasta vários usuários da passarela. “Pessoas que conheço nunca passam por aqui, pois temem roubo.”
A insegurança também é apontada como responsável pelo afastamento dos pedestres da passarela pelo representante comercial Francisco Chammas, morador de Coqueiros. Ele relata que há não é raro ocorrerem roubos de fios de energia elétrica, que deixam alguns trechos da travessia às escuras.
Desde o aumento do preço das tarifas de ônibus deste ano, Chammas boicota o sistema de transporte de Florianópolis e usa a passarela da ponte como meio de chegar ao local de trabalho. “É um absurdo termos passagens caras desse jeito. Já que não podemos trancar pontes nem terminais, é o jeito que encontrei para protestar. Às vezes vou ao Campeche de bicicleta.”
De bicicleta, garante o protético Rogério Nazareno Silva, o trajeto entre as cabeceiras da ponte, que tem 1.252 metros de extensão, leva cinco minutos. É com esse meio de transporte que Silva atravessa todos os dias a ponte para ir de sua casa, em Coqueiros, até o Centro, onde trabalha. Ele acredita que deveria haver mais espaço para bicicletas.
Pescadores que sempre utilizam local afirmam não haver violência
Nem todo mundo, porém, usa a passarela da ponte Pedro Ivo Campos para ir ao trabalho. Há quem prefira passar o tempo livre no local, pescando. Ontem, por exemplo, havia cinco pessoas com linhas de pesca tentando fisgar alguma coisa.
Uma delas era o auxiliar de cozinheiro Josué Silva. “Faz 25 anos que venho pescar aqui. Venho desde pequeno. Mas é só por esporte, nada profissional”, relata. Segundo Silva, peixes como bagre, papa-terra e garoupeta são os mais comuns de se pegar. “Já matei bagre de quatro quilos aqui.”
A tarefa mais difícil é puxar o peixe lá de baixo. A linha, calcula o auxiliar de cozinheiro, tem cerca de 40 metros de comprimento. Como isca, ele usa geralmente pedaços de manjuva ou camarão.
Para Silva, o local é bastante tranqüilo. Ele nunca teve problemas com segurança na passarela. “Muita gente pesca aqui e nunca dá nada de errado.”
Deinfra garante que limpeza e manutenção são feitas toda semana
O presidente do Departamento Estadual de Infra-estrutura (Deinfra), Romualdo de França, afirma que a limpeza da passarela da ponte Pedro Ivo Campos é feita pelo menos uma vez por semana. “Podem ocorrer situações eventuais. Se recebermos a denúncia, vamos lá e fazemos a limpeza extra”, diz.
Segundo França, os pescadores que usam o local ajudam na manutenção, avisando quando há algo de errado.
França conta que passa pelo menos duas vezes por semana pela passarela, a pé ou de bicicleta. Ele avalia, como usuário, que a travessia está em boas condições de uso. O presidente do Deinfra lamenta apenas a ação de ladrões que furtam fios de energia elétrica ou de vândalos que destroem luminárias. “É um problema que temos em rodovias estaduais também. Mesmo assim, a iluminação da passarela atende bem à demanda.”
Segundo o tenente Alessandro Marques, do Centro de Comunicação Social da Polícia Militar (PM), a corporação faz rondas periódicas no local. Existe, por exemplo, duas guarnições de bike patrulha (dois policiais de bicicletas) que cobrem a área da avenida Beira-mar Norte e passarela da ponte Pedro Ivo Campos de manhã e à tarde. Outro policial circula de moto até as 20 horas.
À noite, a partir das 22 horas, a segurança é feita com rondas de viaturas nas duas cabeceiras da ponte. As bases operacionais na entrada e saída das pontes, mais usadas para disciplinar o trânsito, também ajudam a combater a criminalidade, de acordo com o tenente Marques.
(Felipe Silva, A Notícia, 18/07/2007)
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