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22/06/2007
Estação Carijós
25/06/2007

Em sua primeira entrevista desde que deixou a carceragem da Polícia Federal, no dia 15 de maio, onde passou 12 dias detido sob acusação de comandar um suposto esquema de compra e venda de licenças ambientais para favorecer empreendimentos imobiliários na Capital, o vereador Juarez Silveira (sem partido) rompe o silêncio sobre a Operação Moeda Verde, defende-se das acusações que o levaram à prisão e parte para o ataque:

– Ainda tem muita coisa pela frente, que vou falar perante o senhor juiz, seja do prefeito, seja de quem for.

Ex-líder de governo da administração Dário Berger (PSDB), Juarez diz se considerar “vítima da máquina da prefeitura”. Nega intenção de renunciar ao seu quinto mandato e garante que vai “até o fim” para se defender.

Juarez empareda os colegas na Câmara afirmando que “muitos vereadores vão se arrepender se eu for cassado”, porque, segundo ele, “a maioria” dos parlamentares fazia os mesmos pedidos que, para a PF, pode caracterizar crimes de tráfico de influência e advocacia administrativa.

Aos 51 anos, 13 quilos mais magro, visivelmente abatido, mas se esforçando para parecer o mesmo Juarez de antes da Operação Moeda Verde, o vereador conversou com a reportagem do DC por 54 minutos na tarde de quinta-feira, no Centro da Capital.

A entrevista, gravada em uma mesa ao ar livre da confeitaria Café Sorrentino, no calçadão da Rua Padre Miguelinho, a poucos metros da Câmara, foi interrompida nove vezes por pessoas – algumas anônimas, outras conhecidas – que queriam cumprimentar Juarez. Não houve manifestação hostil. O vereador, que não fuma, é casado mas não tem filhos, tomou dois refrigerantes.

Ao final da conversa, emocionado, lembrou que a primeira coisa que fez ao deixar a carceragem da PF foi tomar café com a mãe, de 87 anos. Agora, inclinado a deixar a vida pública, Juarez anuncia a intenção de retomar um antigo projeto: ter um programa de rádio em Florianópolis.

Deflagrada pela PF no dia 3 de maio, a Operação Moeda Verde resultou na decretação da prisão de 22 pessoas, entre políticos, funcionários públicos e empresários. Todos estão em liberdade aguardando eventual denúncia e posterior julgamento, se for o caso.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista exclusiva.

A prisão

É muito triste você ser preso. Eu me candidatei a vereador, estou no quinto mandato com muito orgulho, com o voto popular. Eu não cometi crime. Ainda não consigo dormir porque o barulho de cela é muito triste, foram os piores dias da minha vida. Não tenho nada do que reclamar da Polícia Federal no tempo em que fiquei preso. Só lamento a prisão, que foi dolorida injusta, não era necessária.

Acusações da PF

Eu fiz favores a todas as pessoas, de A à Z, do pobre ao rico. Desde antes de ser vereador já fazia favores. E essa cidade é muito provinciana, os serviços públicos ainda são de balcão. A prefeitura é desorganizada, cada vez mais, nesse período da administração Dário Berger. Tenho meu Imposto de Renda para provar que não recebi vantagens pessoais. Eles (PF) vão ter que provar. Isso é assunto de Justiça. Se tiver que prender, tem que prender mais gente. Fazer um pedido é uma coisa, quem autoriza é outra coisa.

Câmara

Eu não aprovo nada. Meu dever de vereador e de cidadão é pedir. As pessoas me pedem e eu passo os pedidos para frente. A Comissão de Ética está no seu papel, a Câmara também. Mas eu acho que quase todos os vereadores ou ex-vereadores pediram ou pedem o que eu peço. Então, estou com a consciência tranqüila, limpa. Meu dever de político fiz e faço, e se tiver que ser punido pelos meus colegas, lamento, porque quase todos fazem o mesmo pedido. Então, a Câmara tem que ter autocrítica e julgamento, ou então fechar a porta daqui para frente e não fazer mais nada, porque os pedidos são iguais. Se os vereadores me cassarem, muitos vão se arrepender. Eu não feri a ética, não fiz nenhum projeto de lei, a rua do Santa Mônica (atual shopping Iguatemi Florianópolis) eu aprovei com os votos de todos os vereadores, em todas as comissões. Procura no Ipuf, dentro da Câmara, se algum dia eu pedi para modificar qualquer parecer. Eu não fiz e não faço pedidos, respeito as comissões técnicas da casa. A Câmara tem que fiscalizar todos os atos do Executivo, que não está cumprindo o seu papel.

Dário Berger

A administração do prefeito Dário Berger não cumpre nem o regimento da Câmara, respondendo às comissões. Se alguém tem que ser cassado tem que começar pelo prefeito, que descumpre todo o regimento da casa legislativa. Temos que passar uma vassoura na cidade na próxima eleição, tanto para vereador quanto para prefeito. Acho que a prefeitura parou, a prefeitura precisa se organizar. Eu já fiz críticas à administração do Dário desde o início e não vou me calar. Eu não faço ameaça, eu faço e provo aquilo que digo. Ainda tem muita coisa pela frente, muita coisa vou falar perante o senhor juiz, seja do prefeito, seja de quem for. Eu só lamento que a prefeitura tá parada, que a administração tá parada, perdeu o rumo… o prefeito está com a consciência pesada (…) acho que tem várias consciências pesadas (…) porque a administração é fraca, o poder público é inseguro e foi essa insegurança que causou essa desgraça (Operação Moeda Verde), porque o prefeito ajudou os dois shoppings, entendeu? E acho que muita coisa vai acontecer na Justiça. Essa novela não acaba agora, tem muitas coisas que serão reveladas ainda. Muitas coisas na Justiça. O prefeito erra quando deixa de falar o que pensa. Quer ser bonzinho. O grande defeito do Dário Berger é não saber dizer não. Ele faz muita conversa paralela, o governo dele nunca está completo. O tempo vai dizer, o circo será desmanchado logo, o circo vai cair. Espero que a humilhação sirva de lição para os políticos e futuros políticos da Capital, me considero vítima da máquina da prefeitura.

Defesa

Não me arrependo de nada porque não cometi crime. Eu sou um dos mais inocentes. O que existe é que eu tenho um coração grande e a vontade de ajudar todas as pessoas. Não existe adversário político nem inimigo, ajudo todos. Todos os favores que fiz nunca foi para tirar multa, tirar impostos. Pelo contrário, só defendi empreendimentos que geram emprego. Eu nunca fui tirar um carnê de IPTU. Sempre defendi que a prefeitura tem que cobrar não só do pequeno; os poderosos deixam de pagar nessa cidade, e a administração não faz nada para mudar. Achei um grande pecado prender empresários que investem e dão emprego. Muitos são amigos meus há mais de 30 anos. O que eles sofreram eu sofri também.

Família

Hoje, o que existe para mim é uma tristeza muito grande porque o que ocorreu na casa da minha mãe e das minhas irmãs (ambas revistadas pela PF) foi injusto. Primeiro, a polícia deveria ter levado um médico para invadir o apartamento da minha mãe, viúva, de 87 anos, que mora sozinha. A primeira coisa que fiz quando saí (da PF) foi tomar um café com ela.

Futuro

Primeiro, eu quero saúde para mim e minha família. Saúde e paz não tem mandato que pague. Se você não tiver paz, tranqüilidade e saúde não adianta. Para mim, a vida pública perdeu a graça. A menos que venha um prefeito muito bom, com raízes fortes para administrar essa cidade com uma administração moderna. Minha vontade não é mais completar 20 anos de mandato.

Contraponto

O prefeito se nega a responder a Juarez
No início da tarde de sexta-feira, o DC esteve na sede da prefeitura da Capital. Em conversa com o secretário de Comunicação, Ariel Bottaro Filho, informou do teor das declarações do vereador Juarez Silveira sobre o prefeito e a prefeitura. Bottaro afirmou que Dário Berger não estava no prédio, mas seria contatado por telefone.

Às 16h15min, o secretário deu retorno à reportagem informando que o prefeito havia decidido não responder às declarações de Juarez Silveira.

(João Cavallazzi, DC, 24/06/2007)

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