O arquiteto e professor da Unisul Sílvio Hickel do Prado adverte que Florianópolis perderá o seu visual verde dos morros em cinco anos e se transformará no caos urbano em menos de duas décadas, se o seu crescimento continuar desordenado, sem a preocupação com o ser humano e o meio ambiente. Sugere que antes de se pensar em uma quarta ponte entre a Ilha e o Continente haja um planejamento urbano integrado, “para não se criar mais um apêndice na colcha de retalhos que já é a malha viária”.
Prado vê condições de a Ilha ser salva desde que se apressem leis severas para conter a ganância. Com a expansão dos bairros, como os de Santa Mônica e Saco Grande, onde se instalaram os shoppings Iguatemi e Floripa, o centro da cidade pode ser revitalizado e transformar-se em um corredor cultural com seus atrativos já existentes. Para isso, condiciona o professor da Unisul, é necessário que haja um conjunto de medidas, entre as quais incentivos à iniciativa privada para investir em empreendimentos e eventos, além da valorização de ruas tradicionais, como ocorreu em Paris, Londres e outras cidades centenárias.
Coordenador do Curso de Arquitetura da Unisul em Palhoça, Silvio Hickel do Prado lamenta que muitas favelas e a própria desordem do crescimento tenham o aval de políticos para obterem dividendos eleitorais, ao mesmo tempo em que a ocupação de bairros nobres esteja driblando leis e mesmo alterando o plano diretor com a conivência do legislativo.
– A lei proíbe a ocupação dos morros além da cota 100, mas se vê a olho nu o desaparecimento do verde nos morros, aleatoriamente ocupados sob a omissão dos governantes. No Balneário de Canavieiras, por exemplo, todos sabem que não existe mais pescador artesanal, mas a Prefeitura ainda libera alvará para ranchos de pescadores com todos os equipamentos para famílias passarem o verão. E muitos ranchos tiveram autorização para avançar em direção ao mar, denuncia Sílvio do Prado.
Antes de tudo o cidadão
Sílvio do Prado lamenta que ao longo de muitos anos a cidade tenha sido pensada e transformada para beneficiar carros, enquanto o cidadão é obrigado a conviver com os resultados das distorções.
– A humanização da Ilha poderia ter contemplado o transporte marítimo, mas o crescimento descomedido fez a cidade virar as costas para o mar. Com certeza, o transporte marítimo dispensaria uma outra ponte, reduziria o engarrafamento e daria um toque especial à vida na Ilha conjugada com o mar. Temos 42 praias e só pensamos nela no verão. Elas deveriam estar integradas no cotidiano da cidade, observa.
Simplesmente dilapidaram o patrimônio natural, lamenta Prado, para quem a cidade perdeu o magnetismo com a descaracterização de seus morros, da sua orla e, sobretudo da sua identidade histórica vinculada com o mar. “Não vejo, nas atuais circunstâncias, como evitar o caos urbano nas próximas duas décadas. A malha viária está esgotada pelos equívocos de planos mal feitos, os sistemas de água e de esgoto ultrapassados, os serviços de transporte coletivo são insuficientes e corporativos, enquanto que favelas crescem dentro da cidade, como ocorre, aliás, nas grandes cidades.
Tudo isto, somado à destruição do meio ambiente, torna a nossa cidade sedentária, quando deveria exibir o melhor nível de qualidade de vida pelo privilégio de dispor recursos naturais inigualáveis”.
Prado condena a pressa de se querer uma quarta ponte a qualquer custo. “São estas medidas que descaracterizam ainda mais a cidade. É preciso que o poder público, com seriedade e comprometimento com a Ilha, intervenha de forma a ordenar o crescimento, tomar medidas severas para coibir abusos e planejar a ocupação e preservação de áreas, de forma a fazer prevalecer a qualidade de vida como meta prioritária. A Ilha precisa de propostas sérias dos seus governantes, sob pena de precisar de muitas outras operações “Moeda Verde”, conclui.
(Unisul, Universia, 05/06/2007)
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