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Falta água potável em morro

Na comunidade do Alto do Caieira, localizada no Maciço do Morro da Cruz, acesso à água virou assunto para ser discutido na ponta do facão. É o que conta a representante dos moradores no Fórum do Maciço do Morro da Cruz, Tereza Ribeiro, que presenciou uma briga entre vizinhos por causa de uma ligação de água. “Tive de me meter no meio para apartar. Ainda bem que eles me ouviram e pararam, senão poderia ter ocorrido uma tragédia”, diz.

Tereza contou essa história em uma audiência pública realizada ontem na Câmara Municipal de Florianópolis (CMF) para discutir a implantação de rede de água e esgoto no Alto do Caieira. A reivindicação da comunidade é antiga, segundo a moradora. “Essa briga já vem de uns 15 ou 20 anos”, relata.

No Alto do Caieira, a água chega por meio de ligações feitas com mangueiras conectadas a um cano que abastece as emissoras de rádio e televisão localizadas no topo do morro da Cruz. “As brigas acontecem quando um tenta pegar a ligação do outro”, conta Tereza. Há cerca de cinco anos, os moradores usavam a água de um poço, mas com o crescimento populacional e a falta de saneamento básico tornaram impossível o consumo. “O pessoa também não cuidava e lavava roupa ali. Começou a aparecer muita doença na comunidade. Então, tivemos audiência com a Casan e eles permitiram que fizéssemos as ligações”, conta.

O diretor de operações da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan) para a Grande Florianópolis, João da Bega Itamar da Silveira, diz que o projeto de implantação da rede de água e esgoto no Alto do Caieira está protocolado e pronto para a licitação. A demora teria ocorrido por causa da falta de lei que estabelecesse a área como de Zona Especial de Interesse Social, o que ocorreu no ano passado. Do lançamento do edital ao início das obras, o prazo é de 90 dias, mas empresa não estima uma data para o começo do trabalho por causa de possíveis questões ambientais. “Mas como o zoneamento da área foi modificado, acreditamos que os órgãos de licenciamento não terão objeções”, afirma Silveira.

Troca garante o atendimento em residência de carpinteiro

Depois de 11 anos vivendo sem acesso à rede de água e esgoto no Alto do Caieira, o carpinteiro Luís Carlos Alves Soares agradeceu aos céus quando foi informado de que haveria uma audiência pública na CMF para discutir o assunto. “Ô, meu Deus! Finalmente ouviram nossas orações”, comemorou.

Para ter água em casa, Soares fez um acordo: permitiu que um vizinho fizesse um “gato” a partir da ligação à rede energia elétrica de sua residência. Em troca, ganhou uma extensão da mangueira que chega à casa do vizinho para uma caixa d’água localizada no terreno do carpinteiro. “Quando queremos tomar água, enchemos o balde e levamos lá pra dentro”, explica Soares, que é mineiro, morou em Lages e hoje habita a região com a esposa e os três filhos. A situação, conta Soares, piora no verão. Nos meses de maior movimento de turistas, dezembro e janeiro, falta água no Alto do Caieira, uma região que possui uma das vistas mais belas da baía Sul da Ilha. O jeito encontrado pelos moradores é apelar para uma bica no alto do morro, seja para matar a sede ou para tomar banho. “Para nós que somos homens, não tem problema – vamos lá e nos lavamos. Mas as mulheres não gostam muito de fazer isso”, relata.

(Felipe Silva, A Notícia, 17/05/2007)

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