Da coluna de Fábio Brüggemann (DC, 12/05/2007).
A operação Moeda Verde, além de ter mostrado à população como agem as pessoas que pretendem destruir o pouco que resta da Ilha de Nossa Senhora dos Aterros, salientou também a divisão de seus moradores, principalmente seus formadores de opinião. Da minha parte, não me envergonho de ser um enormíssimo ecochato, já que, pelo visto, é a banda dos contrários ao ecocrime, do mesmo modo como sou blibliochato, cidadãochato e justiçochato. Habitar uma ilha significa compreender suas limitações geofísicas além do horizonte do olhar. Mas o olho, já dizia minha avó, é sempre maior do que a barriga.
Modelos de desenvolvimento úteis para cidades continentais não servem de nada para cidades insulares ou costeiras, e não precisa ser engenheiro florestal ou biólogo para compreender isso. Muita gente acredita (ou por ignorância ou por safadeza) que a Ilha tem que crescer (pra onde, cara pálida?) com o mesmo modelo cruel que fez crescer cidades como Rio de Janeiro, por exemplo, (apenas para ficar numa pretensa similaridade costeira).
Mas o dinheiro, a virente moeda, compra tudo, menos inteligência, pelo que se vê pela declaração de alguns políticos, do prefeito (preocupado que ficou em “defender” seu governo, esquecendo que é pago para defender seus cidadãos) e do governador (que se apressou em criticar a operação e logo em seguida jantar fraternalmente com um dos acusados). O mesmo governador que já havia recebido da Rede de Organizações Não-Governamentais da Mata Atlântica, “Por sua contribuição significativa para a devastação da Mata Atlântica”, o Prêmio Motoserra 2006, pouquíssimo divulgado pela sua assessoria de imprensa, aliás.
É incrível que essa elite destruidora da Ilha dos Aterros não consiga ver que seus prédios são arquitetonicamente desprezíves e o que poderia fazer com que turistas “não poluidores” viessem para cá seria sua natureza e sua cultura, não esses empreendimentos que transformarão a cidade numa idêntica a qualquer outra, enchendo a cidade de turistas que amam shopping centers, cujo modelo é idêntico ao de suas cidades? Será que um campo de golfe (sob júdice por poluir um aquífero fundamental) é essencial mesmo, sendo que a ocupação de uma enorme área por meia-dúzia de riquinhos em detrimento de uma população imensa não é modelo de distribuição de riquezas, mas sim concentrador? Porque não construir museus, bibliotecas, investir em parques e espaços públicos de verdade?
Sou pela derrubada urgente da mais de metade das construções irregulares, segundo o diretor do Ipuf, Ildo Rosa, incluindo o centro de compras recém-inaugurado com compra de licença ambiental, como suspeita a Polícia Federal e o Ministério Público Federal. Ou se toma uma iniciativa radical dessas, ou aterrem tudo mesmo de uma vez logo, encham as burras de dinheiro, e façam como aconteceu com Lages, por exemplo, que tinha uma riqueza natural imensa com as suas coxilhas e araucárias e hoje está transformada numa paisagem desoladora, repleta de pinus pra meia-dúzia de herdeiros se locupletarem.
Já escrevi aqui 20 lições para destruir uma ilha que se espalhou pelo país afora, e que serviu, inclusive, de analogia para a degradação do Rio de Janeiro, pelo escritor Fausto Wolff, em sua coluna no Jornal do Brasil. E pelo jeito esse pessoal está levando bem a sério as lições. Ou a população da Ilha dos Aterros acorda e breca agora esse modelo ecoburro, ou não terá mais nem aterro pra morar daqui a 20 anos.
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1 Comentário
Conversando com pessoas nascidas na ilha, pude perceber que a opinião de que deviam ser demolidas as obras que conseguiram licenças ambientais de forma ilegal, é algo muito comum entre eles. Acho que há um movimento – por parte de pessoas que pouco entendem da ilha – de criar um modelo de desenvolvimento da ilha que está causando sua destruição. Portanto, acho que a idéia de demolição dessas obras pode ser de a de grande parte da população tradicional da ilha e pode ser uma boa saída para conter os abusos ambientais que acontecem aqui.