A agente de saúde Roseni Goulart Kuhnen, 43 anos, recorda com saudade da época em que era possível dormir com janelas e portas abertas em Canasvieiras. Agora, é uma das poucas moradoras da rua Francisco Germano da Costa com coragem de quebrar a ‘lei do silêncio’ imposta informalmente na comunidade pelos seguidos casos de assaltos, tráfico de drogas, homicídios e ameaças. Mas compartiha do medo generalizado na vizinhança, reforçado pela ausência de policiamento no bairro. “Parece São Paulo, não dá mais nem para ir ao mercado à noite. É muita malarada que se juntou por aqui”, desabafa.
O aumento da criminalidade na região conhecida como Freguesia de Canasvieiras ficou mais evidenciado após o verão, exatamente a partir do fim da Operação Veraneio da Secretaria de Segurança Pública (SSP). O ponto crítico está localizado entre os loteamentos do Quido e do Lili, morro do Pinho e Canto do Lamin, onde há concentração de tráfico. “Ali há uma disputa por pontos de venda de drogas, além de um dos grupos manter rivalidade com uma das gangues que domina a Vila União (na Vargem do Bom Jesus), deixando os moradores apavorados”, confirma um dos investigadores da 7ª Delegacia de Polícia, que prefere manter-se no anonimato. Segundo ele, a estrutura disponível para investigação é deficiente, principalmente porque são apenas dois policiais para atender todo o Norte da Ilha – Canasvieiras, Jurerê e praias vizinhas, Cachoeira do Bom Jesus, Ponta das Canas, Ingleses parte do Rio Vermelho, Ratones, Vargem Grande, Vargem Pequena e Vargem do Bom Jesus. Uma das alternativas apresentadas pela SSP é a implantação da 8ª DP, em Ingleses, ainda sem data definida.
O intendente Daniel Schroeder, presidente licenciado da Associação de Moradores da Freguesia de Canasvieiras, acrescenta que o policiamento só é reforçado quando a comunidade pressiona ou após algum caso de maior repercussão. “Chega de paliativo, estamos vivendo um clima de pavor. A polícia nos abandonou depois da temporada. Estamos nos sentindo órfãos de segurança”, diz. Schroeder confirma que a maioria do comércio está fechando às 20 horas, horário do toque de recolher informal na região em função dos assaltos, ao tráfico de drogas escancarado e constantes tiroteios.
“Faixa de Gaza” é a mais temida dos moradores de localidade
A servidão Manoel Monteiro, a principal do loteamento do Quido, é citada com ironia como a “Faixa de Gaza”. Alguns moradores estão colocando à venda suas casas para fugir da violência que ganhou novas proporções a partir de junho, com o acirramento da rixa entre um grupo local e traficantes da Vila União. A insegurança atinge toda a vizinhança dos loteamentos que surgiram nos últimos dez anos entre a SC 401, a rua Francisco Germano da Costa (antiga rodovia Virgílio Várzea) e o rio Papaquara.
Além da falta de policiamento ostensivo, a comunidade denuncia a falta de estrutura da 7a DP, onde são registrados em média 70 boletins de ocorrência por dia. Atualmente, a delegacia conta com apenas uma delegada e dois policiais na equipe de investigação, para atender o Norte da Ilha inteiro.
“Fomos abandonados após o verão. Outro problema é o constante rodízio no comando, o que impede a seqüência das estratégias de combate ao crime”, diz um integrante do Conselho Comunitário de Segurança (Comseg), que não quer se identificar temendo represálias.
Grupo de rap usa poesia para denunciar problemas
O lado obscuro de Canasvieiras não é novidade para Maicon “Calibre” Vieira, 24 anos, Geisson Max, 19, e Henrique “Irmandade” Baesso, 22, integrantes do grupo de rap Calibre do Sistema. Com o sotaque típico dos manezinhos da Ilha misturado com o linguajar característico da malandragem, o trio usa ritmo e poesia para denunciar arbitrariedade e omissão da polícia, corrupção, domínio do tráfico de drogas e falta de estrutura pública.
“Querem vender uma imagem bonita do balneário para atrair turistas, mas esquecem dos problemas graves que afetam a comunidade”, diz Maicon “Calibre”, fundador do grupo. Filho de policial civil, o músico teve o primeiro contato com as drogas aos 12 anos. Aos 17, uma overdose de cocaína mudou a vida dele. “Eu consumia maconha, cocaína, álcool. Mas não quero mais isso pra mim, nem para a rapaziada que está se formando agora”, explica.
Mesmo sem apoio público ou privado, os três rapazes conseguiram gravar um CD com 14 músicas que falam da crescente criminalidade na comunidade. “Fazemos música com linguagem simples, voltada às pessoas da periferia, das favelas, aqueles que não têm acesso a outro tipo de manifestação cultural ou mesmo de lazer”, diz Maicon.
Policiamento ostensivo na região é insuficiente
A falta de policiamento ostensivo na área é admitida pela Polícia Militar. O chefe do Centro de Comunicação Social, tenente-coronel Anselmo Souza, confirma a necessidade imediata de reforço com, pelo menos, o dobro do atual efetivo disponível nas ruas e ampliação da infra-estrutura – espaço físico, frota de viaturas e armamentos, principalmente. Moradores e comerciantes, no entanto, vão esperar um pouco mais. Não há ainda previsão de data para execução das melhorias planejadas.
Souza informou que a meta é criar uma guarnição especial para o Norte da Ilha. Esta nova estrutura dentro do organograma da corporação, “maior que uma companhia e menor que um batalhão”, teria 120 policiais para cuidar da região entre o bairro João Paulo e o balneário de Ponta das Canas e Rio Vermelho, no extremo Norte da Ilha, com aproximadamente 80 mil habitantes.
A sede do novo quartel também é incerta. A construção depende da doação de terreno por uma das comunidades atendidas, localizada preferencialmente na área central da região de abrangência, enquanto a mão-de-obra será formada no Centro de Ensino da Polícia Militar, na Trindade. “O comando sabe que falta pessoal e viaturas. Estão começando os cursos de soldados, cabos e sargentos na academia, para a criação da guarnição especial que vai duplicar o efetivo disponível. Mas não há previsão de data nem localização, estamos buscando parcerias com a sociedade”, acrescenta o oficial.
Atualmente, a 2a Companhia da Polícia Militar, localizada em Jurerê, dispõe de apenas 57 policiais para dar cobertura aos bairros do Norte da Ilha, alguns com proporções de pequenas cidades. A prioridade, segundo o tenente-coronel Anselmo Souza, é combater o tráfico de drogas, além dos furtos e assaltos ao comércio. “Para isso, estamos buscando ajuda da comunidade”, repete. Em Canasvieiras, informa o intendente Daniel Schroeder, esta parceria foi exercitada recentemente, quando associação de moradores e seccional da Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (Acif) bancaram o conserto mecânico de três motocicletas da PM.
Falta estrutura
Além das motos em Canasvieiras, conta com apenas uma viatura ocupada por dupla de policiais para rondas ostensivas também em Ponta das Canas, Lagoinha, Praia Brava, Cachoeira do Bom Jesus e Vargem do Bom Jesus. Para completar, um soldado percorre de bicicleta as ruas do balneário e monitora os horários de entrada e saída no Colégio Osmar Cunha. O sargento Gerson Ivanoski, um dos chefes do 3o Pelotão, reconhece que a estrutura é insuficiente. “A área de abrangência cresceu muito e o efetivo é pequeno. Mas, buscamos sempre maior aproximação com a comunidade para compensar as dificuldades do dia a dia”, afirma.
(Edson Rosa, A Notícia, 30/05/2005)
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2 Comentários
ola ,,eu estavo pra comprar um restaurante em canasvieira mas depois dessa reportagen fiquei com medo poi tenho mulher e filha ,,,gostaria de saber mais sobre a situaçao de segurança e violencia nas canasvieiras ,,sera por isso que ta baratinho orestaurante ???? obrigado
Oi, gostaria de falar com Daniel Schroeder sobre a violence em canasvieiras.
Estou comprando um restaurant ness a prai.