Os cientistas desenharam um cenário sombrio para a Terra nos próximos cem anos, com derretimento de geleiras, aumento do nível dos oceanos, temperaturas cada vez mais altas, ocorrência de fenômenos climáticos extremos. Um cenário que parece distante, mas que os catarinenses já estão presenciando. Como conseqüência, o Estado tem sofrido longos períodos de secas, fortes tempestades, ondas intensa de calor e frio. Até um furacão passou por aqui em 2004.
Os termômetros estão subindo por aqui. Nas últimas cinco décadas, a diferença entre as temperaturas mínimas e máximas ficou menor, fazendo com que a sensação térmica seja maior.
“Houve um aquecimento em todas as regiões do Estado, em decorrência do uso errado do solo, do desmatamento e da substituição de áreas vegetadas por asfalto”, explica a meteorologista e pesquisadora do Ciram/Epagri Cláudia Guimarães Camargo Campos.
Os estudos sobre os impactos do aquecimento global no Estado estão no início, mas as previsões detalhadas na página à direita são inquietantes. “Nos últimos três anos tivemos perdas consideráveis no campo. Se a estiagem se prolongasse por mais um ou dois anos, poderia acabar com a nossa agricultura e provocar êxodo rural”, avalia Mauríci Monteiro, meteorologista do Ciram/Epagri.
O litoral também corre riscos. O oceanógrafo Alexandre Mazzer, que estuda a vulnerabilidade da costa em relação ao aumento do nível do oceano, afirma que o mar pode engolir as faixas de areia. Há exemplos do avanço da água na praia da Guarda do Embaú, na Grande Florianópolis, como mostram as fotos à esquerda.
O aquecimento está entre nós. Mas há tempo para minimizar os efeitos. A receita é recuperar as dunas e fazer o planejamento das construções na orla. No campo, deve ser as pesquisa e na cidade na conscientização de que o grande vilão é o homem.
Um estado mais quente
A análise da distribuição das temperaturas nos últimos 60 anos mostra que SC está num processo de elevação das temperaturas mínimas entre um e três graus centígrados. Esse aumento é verificado principalmente na década de 90. O estudo do Ciram/Epagri se baseou em dados das estações meteorológicas do Estado que tinham dados mais antigos e contínuos. Em Urussanga, o aumento foi de 2,8°; em Lages, de 2,2°C; e Campos Novos, de 2,1°C.
Conseqüências no futuro
– Maior instabilidade e variação da temperatura e o volume de chuvas.
– Riscos para agricultura, que fica mais vulnerável às mudanças.
– Mais ocorrência de ondas de calor no inverno, alternadas com dias muito frios.
– Períodos prolongados de estiagem.
– Temporais rápidos que provocarão inundações.
– Maior evaporação da água, o que vai exigirá o armazenamento de um volume maior para abastecimento.
– O milho pode ter seu calendário de plantio alterado. Ao invés de setembro, que estará mais quente, será em julho.
– Êxodo rural por causa dos longos períodos de estiagem.
– As plantações de maçã hoje concentradas na região de Fraiburgo podem migrar para locais mais frios como São Joaquim.
– O café, que hoje é plantado na região de São Paulo, poderia migrar para Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
– Entre as conseqüências da elevação do termômetro, estão a ocorrência de ondas de calor e de frio com maior número de dias consecutivos e variação na freqüência de chuvas.Pode chover, por exemplo, numa semana o esperado para um ano inteiro. Em cidades como Florianópolis, Joinville, Blumenau, que são populosas, os meteorologistas revelam que as ilhas de calor serão mais evidentes.
– O turismo pode ser engolido pelo mar junto com as belas praias. Parece catastrófico, mas é um processo que já começou, claro que com uma colaboração do homem que aterrou e ocupou as dunas, restingas e mangues.
Os efeitos no litoral
1 – O nível do oceano poderá subir de 18 a 59 centímetros até o fim do século, o que causaria erosão das praias.
2 – Inundações das áreas mais baixas como aterros, mangues e lagos.
3 – Comprometimento do abastecimento de água. O lençol freático será invadido pela água salgada.
Oceano aquecido
– As correntes marítimas estão mudando e com isso a densidade das massas d’água.
– Isso diminui a circulação de água profunda, que redistribui o calor nos mares e reduz os nutrientes.
– A mudança de densidade afeta a quantidade de sal.
– Água menos salina captura menos dióxido de carbono e contribui para o aquecimento global.
– Os cardumes de anchoíta e sardinha, por exemplo, tendem a migrar para áreas mais frias. Hoje esses cardumes se concentram do Rio Grande do Sul ao Rio de Janeiro.
– Ocorrência de tempestades tropicais e até furacões como o Catarina
(A Notícia, 11/02/2007)
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