“A atracação foi perfeita e o comandante está muito satisfeito”, disse aliviada ontem de manhã a empresária Lisiane Schaussard, representante da empresa Island Cruises, que foi acompanhar de perto a chegada do navio Island Escape na enseada de Canasvieiras, ao Norte da Ilha. “Foi tudo perfeito”, acrescenta, observando o desembarque de cerca de 1,5 mil dos 1,7 mil passageiros no trapiche localizado ao lado da foz do rio do Brás, escolhido na última hora para a recepção aos turistas.
O navio chegou de Santos-SP por volta das 6 horas, mas os passageiros só começaram a chegar em terra após as 10h30, usando embarcações menores do próprio Island Escape, com capacidade para 150 pessoas. “O desembarque seria feito em Jurerê, no trapiche do Iate Clube Veleiros da Ilha, mas isso não foi possível. Então, optamos por Canasvieiras”, explica o presidente da Santa Catarina Turismo (Santur), Marcílio Ávila.
Com bandeira inglesa, construído em 1982, o Island Escape possui 40.132 toneladas, 185 metros de comprimento por 27 metros de largura e 756 cabines, chamando a atenção de quem estava nas praias de Jurerê, Canasvieiras, Cachoeira do Bom Jesus e Ponta das Canas. Na hora do desembarque, os passageiros do transatlântico se confundiram com os turistas que realizam passeios de escunas.
Nas imediações do trapiche, centenas de pessoas acompanharam o movimento de desembarque. “Não é sempre que a gente vê um navio desse tamanho, com tanta gente dentro”, assinala Orides Saveiro Silva, 37 anos, corretor de imóveis em Cachoeira do Itapemirim, no Espírito Santo. “É a segunda vez que venho a Canasvieiras e nunca tinha acompanhado um desembarque desses”, conta Clementina Pereira de Souza, 33 anos, dona-de-casa em Jaraguá do Sul.
Pouco antes do início do desembarque, uma área do trapiche foi isolada para a chegada dos passageiros do navio, recebidos por Flávia Kunradi, 30 anos, Caroline Locks, 21, e Cláudia Martins, 28, do Grupo Arcos de Biguaçu, com trajes típicos das etnias italiana, alemã e portuguesa, respectivamente, que entregaram aos visitantes sacolas com publicações sobre as atrações turísticas de Santa Catarina.
Os turistas também foram recepcionados por representantes das escolas de samba da Capital.
Secretário da Capital critica nova estrutura
“Desnecessário”. Foi assim que o secretário de Turismo de Florianópolis, Mário Cavallazzi, qualificou o esforço da Santur em instalar o sistema para a atracação de transatlânticos em Canasvieiras. “Existem estruturas metropolitanas que poderiam receber investimentos maiores e servir para a recepção desses navios”, disse, se referindo aos municípios de Imbitiba e Porto Belo.
“O grande problema é despejar 1800 pessoas de uma só vez na cidade, causando grande transtorno no trânsito. E o pior é que essas pessoas vão permanecer na cidade por no máximo quatro horas”, disse. Para ele, a SC-401 não comporta esse movimento, e o ideal seria a instalação da poita nas imediações da avenida Beira-Mar Norte, cujo trapiche poderia ser usado para o desembarque. “Com isso os turistas poderiam chegar diretamente no Centro de Florianópolis”, complementa.
O secretário de Cultura, Esporte, Turismo e Lazer do Estado, Gilmar Knaesel, defendeu a iniciativa da Santur, antes de conhecer a posição de Cavallazzi. “Estamos trabalhando para que os transatlânticos também possam desembarcar passageiros em Imbituba, Itajaí, São Francisco do Sul e Porto Belo”, enfatiza.
“Há 20 anos nem se sonhava com a chegada dessas embarcações em Santa Catarina, pois os cruzeiros eram exclusivos para magnatas europeus”, avalia. “Cada navio movimenta diversos segmentos da economia, pois esses passageiros são de renda altíssima”, destaca Knaesel. Segundo ele, estes visitantes poderão retornar depois de outras formas, atraídos pelas paisagem e a infra-estrutura oferecidas.
Polícia Federal confere todos os passaportes
Antes do desembarque de ontem, o Island Escape foi visitado por policiais federais encarregados de verificar os passaportes dos passageiros, a documentação da tripulação e o passe de saída do navio do porto de Santos, entre outros procedimentos. “É uma verificação de rotina que acontece sempre que um navio estrangeiro atraca em nossas águas”, explica o policial federal Luiz Henrique Pinho.
Segundo o empresário Ricardo Brunato, o ideal seria um terminal turístico com instalações para os ór-gãos públicos que cuidam dessas situações. Ele é da empresa Litoral Agência, que representa em Santa Catarina os armadores responsáveis pelos cruzeiros marítimos no Brasil. “O terminal deveria ter o sistema de alfandegamento, facilitando os embarques e desembarques”, assinala.
Nesse terminal, segundo ele, existiriam representações da Polícia Federal, Agência Nacional de Vigilância Sanitária e Receita Federal, agilizando os procedimentos. “Com o alfandegamento, um navio poderia sair diretamente de Florianópolis para qualquer lugar do mundo. E receber navios de qualquer parte do planeta”, destaca. Como isso não acontece, devem ser procurados portos com o serviço nas chegadas e partidas.
Brunato acredita que a instalação da poita em Canasvieiras vai promover aumento no número de transatlânticos em Florianópolis. “No ano passado chegaram mais navios do que esse ano”, diz, destacando que empresas como a CVC e a Costa deixaram de incluir a Capital nos seus roteiros, o que deve ser revisto a partir de agora.
Comércio e empresas de transporte têm dia com lucro extra
A chegada dos passageiros do Island Escape mobilizou um pequeno exército de guias, motoristas, corretores e vendedores, transformando a paisagem de Canasvieiras na região do trapiche, onde cerca de 50 vans e microônibus estacionaram, aguardando a hora de conduzir os visitantes a seus destinos. Os bares e restaurantes das imediações ficaram lotados.
“Tivemos que montar uma agência em Ingleses e outra em Canasvieiras, para dar conta de toda a demanda da temporada”, explica Salete Miranda, gerente regional de atendimento de uma empresa de aluguel de automóveis. “Estamos com 10 veículos com reserva confirmada, mas outros poderão se alugados”, acrescenta. A empresa teve que contratar 10 funcionários na temporada.
“Um navio desses movimenta vários setores da economia”, destaca o presidente da Santur, Marcílio Ávila. “Chegar a Florianópolis de navio é como experimentar uma lasca de queijo: se ele for bom, a gente compra a peça inteira”, acrescenta Ernesto São Thiago, coordenador geral da operação de instalação da poita e bóia na enseada de Canasvieiras. A chegada do Island Scape também garantiu renda para o Cidadão e a Cidadã Samba de Florianópolis, que foram a Canasvieiras trajados a rigor para recepcionar os passageiros. “Viemos mostrar um pouquinho do nosso samba para eles”, disse Alexandra Eulina de Lina, 31. “Mesmo sofrendo do jeito que sofre, o nosso povo ainda mantém a alegria, e é isso que estamos mostrando aos turistas que estão chegando”, destacou Edemar da Costa Pereira, o Ninho do Pandeiro.
(Celso Martins, A Notícia, 24/01/2007)
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