Os coletores de material reciclável não vão mais usar a área que ocupam ao lado da cabeceira insular da Ponte Pedro Ivo Campos, que liga o Continente à Ilha de Santa Catarina, para depositar o material recolhido nas ruas de Florianópolis. A partir do ano que vem, eles farão o trabalho de triagem dos resíduos em um terreno cedido pela Companhia Melhoramentos da Capital (Comcap) próximo ao Cemitério São Francisco de Assis, no Itacorubi. A mudança ocorre porque o local onde funciona atualmente a Associação dos Coletores de Material Reciclável (ACMR) é considerado de risco, já que há grande quantidade de produtos inflamáveis – papel, papelão e plástico, por exemplo – perto de fiações elétricas e de telefone que passam debaixo da ponte.
A mudança ocorrerá assim que um novo galpão para os coletores trabalharem ficar pronto no terreno do Itacorubi. Segundo o diretor administrativo e financeiro da companhia, Irineu Pheiss, até janeiro a estrutura deverá estar finalizada. “Podemos dizer que as obras hoje estão em fase final. Falta fazer apenas algumas melhorias para que eles tenham condições plenas de trabalho”, diz.
Na nova área, os coletores terão um espaço para depositar e fazer a triagem do material recolhido que depois é vendido a uma empresa. O galpão ao lado da cabeceira da Ponte Pedro Ivo Campos será mantido para guardar os carrinhos usados pelos catadores. “Será uma espécie de garagem para os carrinhos”, explica Pheiss.
Apesar da mudança do local de depósito e triagem do material, os coletores continuarão trabalhando na região central da cidade. Segundo o diretor administrativo da Comcap, haverá caminhões no Centro de Florianópolis que receberão os resíduos recolhidos pelos coletores e transportarão para o Itacorubi.
Sem emprego fixo, coleta de papéis foi alternativa na Capital
A Associação dos Coletores de Material Reciclável (ACMR) funciona há sete anos ao lado da cabeceira insular da Ponte Pedro Ivo Campos. A entidade tem hoje cerca de 70 associados e dispõe de um galpão, onde eles depositam e fazem a triagem do material recolhido, principalmente papel, papelão e plástico.
Já houve propostas do Departamento de Infra-Estrutura de Santa Catarina (Deinfra) para que eles mudassem de local neste ano, mas o terreno oferecido, próximo à Estação de Tratamento de Esgoto da Casan na entrada da cidade, foi recusado. “Teríamos de atravessar duas vias rápidas para chegar lá. É muito perigoso”, avalia o coletor João Batista Rodrigues dos Santos.
Migração
João Batista atua com coleta de material reciclável em Florianópolis há 14 anos. Foi nessa época que ele chegou à Capital, vindo de Chapecó, onde trabalhava como agricultor. Como a renda obtida com a lavoura não era suficiente para sustentar a família (tem cinco filhos), resolveu vir para o Litoral. Ele, no entanto, tinha 40 anos quando chegou a Florianópolis e não conseguiu emprego fixo. Por isso, começou a trabalhar como coletor.
Hoje, ele vive no loteamento Morar Bem, em São José. A maioria dos coletores é de comunidades pobres, como Vila Aparecida (Florianópolis) e Jardim Zanelato (São José). Alguns chegam a recolher quase uma tonelada de material reciclável por dia. O número depende de quantas “viagens” – idas até a sede da ACMR para depositar os resíduos e depois retornar para as ruas – que cada um faz. “A maioria chega aqui de manhã cedo, pega o carrinho e vai à luta. Tem gente que fica até 22 horas, 22h30 trabalhando”, relata.
O coletor diz que não gostaria de mudar o local de trabalho. Ele aponta a dificuldade com transporte como o maior problema do novo terreno no Itacorubi. “Vai ficar mais difícil para nós. Vamos ter de pegar dois ônibus”, reclama. A ACMR, no entanto, negocia com uma empresa de transporte a disponibilização de ônibus para levar e trazer os coletores do Centro até o Itacorubi.
(Felipe Silva, A Notícia, 07/12/2006)
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