A suspensão de novas ligações de esgotos na região central de Florianópolis, determinada pelo Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) à Companhia Catarinense de Águas e Saneamento
(Casan), pode estimular a informalidade e o conseqüente lançamento de dejetos em cursos d’água e na rede pluvial. A avaliação é do presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil da Grande Florianópolis (Sinduscon) Hélio Bairros, preocupado com “mais uma contradição de véspera de temporada, como sempre acontece”.
Bairros soube da medida pelo ANCapital de ontem, mas comentou que já tinha ouvido comentários sobre a demora na liberação de licenças de obras feitos por associados. “Qual é o turista que vai optar pela cidade ao saber que temos problemas com esgoto e o fornecimento de água”, perguntou. “Florianópolis ao invés de evoluir está regredindo e muitos investidores já procuram outras cidades devido à insegurança jurídica e a ausência de ações visando a geração de emprego e renda”, acrescentou.
Bairros afirmou que empresas sindicalizadas se preocupam com a preservação do meio ambiente e tomam cuidados com o saneamento, mas que há construtoras que atuam na informalidade. “Elas não têm esse tipo de cuidado, levando ao aumento da poluição nas praias. Uma situação dessas afeta toda a cidade, a construção civil formal, o comércio e sobretudo o turismo”, destacou o presidente do Sinducon. Ele lembra que cerca de 50% dos domicílios de Florianópolis não contam com o serviço de coleta de esgoto.
A situação preocupa esse setor do empresariado da Capital e por isso o Sindicato espera que tudo volte à normalidade rapidamente. Enquanto isso não acontecer, Bairros afirma que as pessoas não vão se sentir seguras para desenvolver seus projetos pessoais, profissionais ou empresariais e que diante da situação vivida por Florianópolis tendem a procurar outras cidades para se estabelecer.
O mais grave em tudo isso, complementou Bairros, é que a iniciativa está sendo tomada pelo próprio poder público. Mesmo com “o potencial que temos e as belezas naturais, preferem proibir ligações de empreendimentos que têm preocupações ambientais e sanitárias a apresentar soluções para um problema grave”, disse. O MPE encaminhou a recomendação para que a Casan não efetue novas ligações na região central com base em relatórios do Tribunal de Contas do Estado (TCE).
Sanitarista diz que problema está em rios
A péssima qualidade da água da baía Sul não é provocada pelos dejetos da Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) Insular, junto às cabeceiras das ponte de ligação entre a Ilha e o Continente. Os poluentes estão sendo lançados através de canais que atravessam o núcleo central urbano da Capital ou por cursos d’água como o Maruim e o Cubatão, entre outros.
A opinião é do professor Luiz Sérgio Philippi, do curso de Engenharia Sanitária da Universidade Federal de Santa Catarina, questionando a iniciativa do Ministério Público de recomendar a suspensão de novas ligações. Ele também duvida das projeções populacionais apresentadas pelo TCE, considerando “frágeis” os números mostrando que a estação estaria com sua capacidade de tratamento saturada.
“Muitas estações podem trabalhar com um volume acima de sua capacidade, ampliando o tempo de funcionamento”, salientou. Ele critica também a falta de um órgão de saneamento no município que possa cobrar medidas da Casan, “estabelecer prioridades, critérios e hierarquias”. Como esse órgão não existe, “a Casan deita e rola e só faz o que quer”.
Philippi teme que a ausência desse órgão orientador possa levar a cidade a “morrer pela boca”. Ou seja, caso não se estabeleça um planejamento de médio e longo prazo no setor, a população poderá ficar sem água e ver comprometida a qualidade das praias e do meio ambiente como um todo. “Florianópolis não merece isso”, complementou o sanitarista da UFSC.
(Celso Martins, A Notícia, 11/10/2006)
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