O Parque de Coqueiros será administrado nos próximos dois meses por um conselho de entidades e órgãos da Prefeitura de Florianópolis, anunciou na quinta-feira o secretário do Continente, Gean Loureiro. Depois deste prazo, será definida uma nova forma de administração. Criado em 1999 pela Sociedade Amigos de Coqueiros sobre um terreno cedido pela União ao Estado de Santa Catarina, o Parque passou para as mãos do Executivo municipal na semana passada, gerando polêmica entre os moradores e dirigentes da entidade.
“Não queremos o confronto e sempre atuamos em conjunto com as comunidades e suas entidades representativas”, assegurou Loureiro, preocupado com as repercussões da iniciativa. Na quinta-feira de manhã, o secretário liderou uma manifestação em apoio à nova administração do Parque, reunindo dezenas de moradores. As divergências entre os dirigentes da Sociedade e a Prefeitura vieram à tona depois que a Secretaria do Continente solicitou a área para realizar o Festival da Primavera no próximo dia 7 de outubro.
Os antigos administradores do parque negaram o empréstimo do espaço, alegando entre outros motivos que em ocasiões anteriores as instalações foram danificadas. Além disso, a liberação do estacionamento prejudicava a receita da entidade – quem não contribuía mensalmente para a manutenção do Parque tinha que pagar para deixar o veículo, recurso usado na manutenção do espaço.
O presidente da Sociedade Amigos de Coqueiros, Hamilton Schaefer, disse que cumpriu sua missão e não acredita que a diretoria da entidade vá entrar com ação na Justiça pedindo indenização. “Eu pessoalmente sou contra, mas os diretores é que vão decidir”, salientou. Magoado depois de oito anos de trabalho voluntário em favor do Parque, Scharfer afirmou que está satisfeito. “Fiz o que fiz por vontade própria e faria de novo”, assinalou.
Ele só teme que a Prefeitura deixe a área abandonada, o que é negado pelo secretário Gean Loureiro. “Assim que a Sociedade Amigos de Coqueiros comunicou à Gerência Regional do Patrimônio da União (GRPU) que estava devolvendo a área, ela foi ocupada por nossos funcionários”, assinalou, se referindo à Guarda Municipal e à Companhia de Melhoramentos da Capital (Comcap), além da Polícia Militar que vigia a área à noite.
Segundo o secretário, as instalações serão melhoradas com a implantação de um portal de acesso, um deck panorâmico, uma área de piquenique e a criação de um pomar, “onde os próprios moradores vão plantar as árvores”. Loureiro garante que vai “manter a qualidade do Parque e realizar novos investimentos, visando a melhora ainda maior desse espaço de recreação e lazer”.
No momento, apenas um fato une os dois lado: a surpresa diante do fato de o governo do Estado ter devolvido o imóvel em 2000, abrindo espaço para que no ano seguinte a responsabilidade passasse para a Prefeitura. “Fui saber disso no início de setembro”, salientou Schaefer. “Não sabíamos até meados de setembro que aquela área pertencia à Prefeitura”, complementou Loureiro.
Moradores do bairro têm opinião dividida
Pensando que se tratava de um funcionário da Prefeitura vistoriando o Parque, a moradora Lídia Serafim, 75 anos, procurou o repórter para reclamar da falta de um banheiro no local. “Quando era a administração antiga, o banheiro sempre estava aberto”, disse. “Muito idosos caminham aqui e precisam de um local para as necessidades”, acrescentou, sem entrar no mérito da mudança na administração do espaço.
“Essa alteração não me importa. Quem ficou responsável não pode se esquecer do banheiro”, complementou dona Lídia. A opinião dela é parecida com a do economista Maurício Lúcio, 42 anos, para quem “a mudança não pode prejudicar a comunidade. Se o que for feito beneficiar a comunidade, então estaremos satisfeitos”, disse.
“Estou com um filho que acabou de nascer e espero que dentro de alguns meses ele já esteja caminhando comigo por aqui”.
Contrário
Outros dois usuários, entretanto, condenaram a iniciativa da Prefeitura de assumir o parque. Sony Althoff, por exemplo, apontou a região do Hospital de Caridade e assinalou: “O verde que vemos é porque o Governo ainda não colocou as mãos. Se for para a responsabilidade dele, logo aquilo vai estar cheio de casas”, assinalou. Althoff acrescentou ainda que “no começo o Governo cuida direitinho das coisas, mas logo abandona e não faz mais nada”.
José Ferreira da Cunha, 77 anos, fala em apropriação indébita de um espaço comunitário por parte da Prefeitura. “É a mesma coisa que eu fazer uma casa e depois de pronta eles aparecerem para dizer que vão tomar conta”, comparou. “Há 20 anos que a gente se preocupa com isso, juntamos dinheiro da comunidade e dos empresários para transformar uma área abandonada em espaço de lazer e agora que tudo está pronto a Prefeitura vem com essa”.
Mesmo assim, ele continua a freqüentar o Parque de Coqueiros todos os dias. “Eu plantei diversas mudas e sempre venho dar uma olhada”, explicou, mostrando dois pés de tamareiras. “O pessoal que está responsável por isso aqui deve se preocupar em colocar adubo e molhar. Se eu não estivesse com problemas de saúde faria isso”, salientou. Como faz todos os dias, ele também vistoria as mudas de caju e maracujá vermelho que plantou no local.
(Celso Martins, A Notícia, 02/10/2006)
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