Cerca de 30% dos moradores das margens do riacho da Igreja, na região do Canto da Lagoa, não estão permitindo que a Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan) assente os tubos de coleta de esgoto local. O problema já ocasionou atraso de dois meses no cronograma das obras, que deveriam estar concluídas até março de 2007. Por esse motivo, a empresa está pedindo a interferência do Ministério Público Federal (MPF) no caso, visando obrigar os moradores a permitir a passagem dos equipamentos. “Muitas construções estão junto à margem do curso d’água e em algumas casas existem muros erguidos sobre ele”, disse ontem de manhã o gerente de construções da Casan, Fábio Krüeger.
Já foram assentados cerca de 55% da rede, tendo sido gastos cerca de R$ 1,1 milhão. A coleta vai se estender por 1,5 mil metros, possibilitando a coleta em aproximadamente 700 imóveis, num total de 4 mil ligações, investimento de R$ 4,6 milhões.
O riacho da Igreja, ou rio Apa, nasce nas encostas no morro do Santuário da Lagoa, atravessa a rodovia SC-404 e desemboca junto ao condomínio Saulo Ramos. Ao longo de todo o seu curso, recebe os esgotos de centenas de edificações, indo parar no trecho menor da Lagoa, ocasionando excesso de nutrientes e a conseqüente proliferação desordenada de algas.
“Cerca de 70% dos moradores estão colaborando e permitindo que a rede de coleta passe por dentro de seus terrenos, mas os 30% restantes não autorizam a entrada da equipe que executa as obras, ocasionando o atraso no cronograma”, destacou Krüeger. O esgoto coletado na região entre os morros do Badejo e da Igreja será levado para tratamento na estação da Casan na Lagoa.
O pedido de ajuda ao MPF decorre da existência de legislação proibindo qualquer edificação na faixa mínima de 30 metros de cursos d’água, o que não está sendo respeitado pela maioria dos moradores da região. “A rede de coleta é a espinha dorsal do sistema de saneamento e sem isso não será possível concluir a obra”, acrescentou Krüeger. A opção por assentar a tubulação nas margens do riacho vai permitir que “todo o esgoto da região seja coletado”.
Problema estaria na “falta de comunicação”
Para o jornalista Jeffrey Hoff, da Fundação Lagoa e do Comitê de Gerenciamento da Bacia da Lagoa da Conceição, a resistência dos moradores em impedir o acesso dos trabalhadores da Casan pode estar ocorrendo por “falhas de comunicação”. Ou seja, a Casan “deve ir de casa em casa distribuindo panfletos sobre a obra, esclarecendo sobre a importância do que está sendo feito”, disse.
Esse trabalho de educação e informação “precisa ser desenvolvido por todos os órgãos governamentais. Qualquer atividade ou ação a ser implementada por um órgão público, precisa ser antecedida por uma ampla campanha visando esclarecer a população sobre o que vai ser feito e quais os benefícios para as comunidades”, disse Hoff. “O próprio Comitê da Lagoa deveria ter sido procurado para ajudar nesse esforço”, complementou.
Mau cheiro atrapalha aulas na escola João Francisco Garcez
A janela da sala da professora Andréa Cidade, diretora da Escola Desdobrada João Francisco Garcez, no Canto da Lagoa, permaneceu fechada ontem de manhã, como tem acontecido nos últimos meses. Motivo: evitar que o odor de esgoto invada a sala e impeça que possa ser usada durante o dia. “Já verificamos a nossa fossa, as instalações sanitárias, e não encontramos nada de irregular”, disse.
Por esse motivo, ela desconfia que o mau cheiro esteja vindo do trecho sul da Lagoa da Conceição. “Depois de cada fim de semana, quando a escola permanece fechada, somos obrigadas a abrir as janelas para que o odor saia e nos permita trabalhar”, salientou a diretora. O problema tem preocupado também os pais dos alunos, devido às reclamações que eles levam para suas casas.
“Não chegamos a pedir a presença da Vigilância Sanitária porque desconhecemos a origem deste problema”, explicou Andréa Cidade. Segundo ela, o mau cheiro parece não ter relação com as chuvas que começaram a cair no domingo, mas se intensificou nos últimos dias. Porém, como o odor foi muito forte segunda-feira, as dúvidas aumentam ainda mais.
Devido a estiagem prolongada dos últimos meses, os esgotos lançados nos cursos d’água permaneceram represados e, com as chuvas, esse material foi levado pelas águas para dentro da Lagoa. Mas não é apenas a sala da diretora que sofre com a invasão do mau cheiro. As que são ocupadas pelos alunos sofrem o mesmo problema, tendo que permanecer abertas por longos períodos, principalmente após os fins de semana e feriados prolongados.
O odor se tornou tão comum na região que muitos moradores já não percebem mais seus efeitos. “Não há nenhum problema”, disse um pescador que não quis se identificar. “Deve ser por causa do boi-de-campo que a polícia matou no final de semana. O sangue do bicho pode ter causado essas reclamações”, argumentou. Para quem está chegando no Canto da Lagoa, entretanto, o mau cheiro é intenso.
A situação se repete ao longo da avenida Osni Ortiga, tanto nas saídas de águas pluviais, possivelmente contaminadas com esgotos, quanto nas áreas onde as algas mortas se concentram. Nada disso, entretanto, impede a presença de aves em busca de alimentos ou de pescadores com seus caniços, linhas e tarrafas atrás de peixes e camarões.
Limpeza de riacho é freqüente
Com certa freqüência, a Intendência da Lagoa executa a retirada de areia do leito do rio, junto com a vegetação, o que tem provocado desníveis e dificultado o curso da águas. “Cavaram muito perto da ponte e a água fica represada. Só com bastante chuva ela escorre para a Lagoa”, disse o comerciante Elenito Manoel da Costa, 56 anos, nascido na Costa da Lagoa. O riacho só se torna caudaloso um pouco mais abaixo, antes do acesso ao condomínio Saulo Ramos, após receber as águas que descem do morro do Badejo através de pequenos cursos.
O odor que exala da própria Lagoa da Conceição é bem menos intenso que o verificado nas dezenas de saídas de águas pluviais contaminadas por esgotos, o que pode ser constatado em diversos pontos da rua Laurindo Januário da Silveira – a estrada geral do Canto da Lagoa. Tudo isso desemboca na Lagoa, ampliando a poluição de um dos principais cartões postais de Florianópolis.
Em conseqüência, três dos oito pontos de coleta de amostras de água para exame de balneabilidade pela Fundação Estadual do Meio Ambiente (Fatma), são considerados impróprios. A informação está no Relatório de Balneabilidade no 23, do dia 29 do mês passado. Os pontos comprometidos são os seguintes: em frente a servidão Pedro Manuel Fernandes, no trapiche do serviço de transportes e em frente a rua Manuel Isidoro da Silveira (Canto da Lagoa).
Promessa
“Desde quando fizeram aquela estação de esgotos no meio das dunas da Lagoa da Conceição, na década de 1980, prometem trazer a rede de coleta para cá”, disse Costa. Por esse motivo, ele ainda acredita que as obras da Casan possam ser concluídas tão cedo. “Há anos que os políticos prometem esse esgoto, mas chega eleição e passa eleição e não acontece nada”, assinalou. Elenito fez esses comentários nas margens de um trecho do riacho da Igreja, cujo leito está coberto de vegetação. “Apesar das chuvas que estão caindo desde de domingo o rio não se mexeu. Só um temporal pode limpar tudo e fazer o rio correr novamente”.
(Celso Martins, A Notícia, 04/10/2006)
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1 Comentário
Solicito informações sobre o pedido de adoção da praça João Di Bernardi – Sta Mônica, cujo projeto inicial, foi deixado para ser entregue ao Sr. Ildo Rosa.
Fico no aguardo, obrigado.
Rodrigo
ro_dri_go@pop.com.br