O local onde a avó do pintor Anderson Ardigo Ferreira, de 23 anos, jogava a tarrafa para pescar camarão, hoje se tornou uma gigantesca poça de esgoto. Os dejetos que desciam da Costeira do Pirajubaé e iam para o mar acabam represados entre a encosta do morro e a Via Expressa Sul. Próximo às casas de cerca de mil pessoas, e ao lado do Centro Comunitário e de uma creche municipal, o mau cheiro é intenso, além de o material ser causador de doenças como leptospirose e hepatite. “Hoje o dia está nublado e frio e o cheiro de merda é insuportável, imagina como fica isso aqui nos dias de sol?”, disse Ferreira.
O problema surgiu a partir do aterro realizado para a instalação da Via-expressa Sul. O espaço onde antes era mar se tornou mangue e todo o esgoto que descia da costeira para o mar agora acaba depositado naquele local. “Agora só a água do esgoto que vem do morro vai para o mar. Os dejetos ficam todos no mangue”, falou o pintor.
Além do mau cheiro, Ferreira, a mulher e uma filha de um ano e meio convivem com o problema da maré alta. Quando este fenômeno acontece, a água do mar sobe até a casa e eles ficam ilhados dentro dela. Depois que a água do mar invade o pátio das casas e deixa os dejetos do esgoto, as crianças brincam no local onde há cães e galinhas soltos.
São cerca de mil famílias convivendo com o problema na Costeira do Pirajubaé. A situação mais grave é perto do Centro Comunitário e da creche municipal. Entre os prédios e as casas de alguns moradores há uma ponte construída com restos de madeira sobre o mangue. Em baixo dá para ver o material que desce do morro. O cheiro é forte. As crianças passam pela ponte para ir até a creche ou para ir até um espaço de grama para brincar.
Além do risco de cair e ser infectado por doenças, as crianças jogam bola na área verde. “É comum a bola no esgoto e eles a pegarem e continuarem jogando”, disse Tiago da silva Fontoura, de 22 anos, que também mora no local e já caiu da ponte. De acordo com o relato dos dois moradores, são comuns os casos de leptospirose e hepatite.
Comissão pede providências
Representantes da Comissão de Legislação Participativa da Assembléia Legislativa do Estado visitaram o local e constataram uma série de problemas decorrentes da falta de saneamento básico. O presidente da Comissão, Paulo Eccel, apresentou indicação pedindo à Prefeitura e à Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan) que tomassem providências urgentes para melhorar a área.
De acordo com o deputado, o objetivo é fazer algo semelhante ao que ocorreu na comunidade de Potecas. Foi realizada audiência pública entre moradores, Prefeitura, Casan e Ministério Público de Santa Catarina para discutir uma forma de acabar com o mau cheiro causado por uma estação de tratamento de esgoto. Na última quarta-feira, foi assinada a ordem de serviço para cobrir a lagoa.
Melhoria fica pronta em março
O gerente de construção da Casan, Fábio Krieger, informou que a rede coletora da Costeira do Pirajubaé está em fase de construção. De acordo com Krieger, a obra ficará pronta em março e deve resolver o problema dos moradores. A rede coletora terá 12 quilômetros, atenderá dois mil domicílios desde o começo do bairro até o trevo da Seta.
O gerente da Casan explicou que parte do problema é provocado pelos próprios moradores do morro que jogam material na rede pluvial, que receber apenas a água da chuva. Os dejetos então ficam depositados entre a Via-expressa Sul e a rodovia Jorge Lacerda. “A partir de março os moradores terão um tempo para se adequar à nova situação e ligar o esgoto à rede. A eficácia vai depender disso”, disse.
A rede de esgoto está sendo construída depois que o Ministério Público Federal entrou com uma ação civil pública contra a Prefeitura e a Casan. Krieger afirmou que para o problema ser resolvido antes de março, a Vigilância Sanitária deveria fiscalizar o morro e fazer com que os moradores não joguem dejetos na rede pluvial.
(Maurício Frighetto, A Notícia, 12/09/2006)
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