Antes de ter a forma e extensão que apresenta hoje, a região da Prainha, na Capital, passou por três aterros. Até o final do século 19, o mar naquela região chegava às proximidades de onde hoje está o muro do Instituto Estadual de Educação (IEE), na rua Bulcão Viana. As modificações na área começaram em meados de 1890, quando foi construída uma murada alguns metros mar adentro.
Já na década de 1940, o local foi palco de uma obra bem mais ambiciosa, quando foi aterrada toda a área localizada entre a murada e o que hoje corresponde aos fundos da Assembléia Legislativa de Santa Catarina. A terceira intervenção contribuiu para que o local ficasse com os contornos conhecidos hoje. Com o aterro da Baía Sul, na década de 70, foram construídas as vias de ligação com as pontes Pedro Ivo Campos e Colombo Salles e a avenida Governador Gustavo Richard.
Hoje é praticamente impossível imaginar a Prainha banhada pelo mar. Pelo local é escoado grande parte do trânsito do centro da cidade, seja para o túnel Antonieta de Barros ou para a avenida Mauro Ramos. Naquela região também estão centralizados os poderes Legislativo (Assembléia) e Judiciário (Tribunal de Justiça) do Estado.
Mas na antiga Desterro o mar chegava até as proximidades do IEE. A paisagem começou a mudar por volta de 1890, quando um muro teria sido construído, dentro da faixa de mar, nos fundos do Quartel do Campo do Manejo, onde hoje está o Instituto. O espaço entre o muro e a costa, ainda ocupado pela água, pouco a pouco foi sendo coberto por sedimentos, lixo e restos de material de construção.
Trapiche ligaria Rita Maria à Prainha
Não se tem notícia de quem foi o responsável pela construção da murada, que acabou se transformando no primeiro aterro do local. De acordo com Edson Luiz da Silva, o “Velho Bruxo”, que mantém um site com histórias da cidade (www.ufsc.br/~esilva), este foi o segundo aterro construído na Capital. O primeiro começou a ser feito pouco tempo antes, ligando o Rita Maria ao ponto onde hoje está localizada a Casas da Água. A técnica utilizada foi a mesma: uma murada construída dentro da faixa de mar coberta com entulhos posteriormente.
No início do século passado já havia um projeto para a construção de um trapiche que ligaria a Prainha ao Rita Maria. Mas o local permaneceu sem alteração até o início da década de 40, quando a Diretoria Nacional de Portos, Rios e Vias Navegáveis (DNPN) começou a planejar um novo aterro. Silva conta que um dos pontos que teriam influenciado a construção foi a necessidade de canalização do rio dos Bulhos (canal da Hercílio Luz). A área no entorno do rio tinha sido tomada por favelas, sendo que muitos dejetos passaram a ser lançados no canal.
Como a tubulação precisava ser feita alguns metros mar a dentro, para que a maré não devolvesse os detritos, foi construída uma murada de pedra seguindo o traçado do rio até o ponto onde hoje está está localizado o Fórum da Capital. Outra murada foi erguida paralela à praia, partindo da altura da antiga estrada de acesso ao Saco dos Limões até a tubulação do rio. Assim, uma área de mar foi cercada, correspondendo ao que hoje é o espaço entre o muro do IEE na rua Bulcão Vianna e os fundos da Assembléia Legislativa.
Local recebeu repartições públicas
Com a finalização do aterro começaram a ser construídos os primeiros prédios no local. O primeiro a ser levantado foi da Diretoria Nacional de Obras Sanitárias (DNOS), no local onde hoje está localizada a esquina da avenida Mauro Ramos e a via de acesso ao Hospital de Caridade. Já na década de 60 foram construídos os prédios do Sesc, o Ginásio Charles Edgar Moritz, o Senac e o Colégio Celso Ramos. As obras continuaram no início da década de 70, quando foram construídos o antigo DNR e a Assembléia Legislativa, seguidos pelo Tribunal de Justiça, Celesc, Tribunal de Contas e Fórum.
Mesmo com a urbanização do aterro, um terreno permaneceu vago, entre a Assembléia e a Celesc, prédio depois ocupado pelo Palácio do Governo. O espaço, que durante este período permaneceu abandonado e de chão batido, foi utilizado para fins diversos, como os ensaios da escola de samba Protegidos da Princesa, estacionamento de ônibus urbanos e por uma tradicional feira livre (anos mais tarde transferida para o Largo da Alfândega). Esta também era a área ocupada pelos circos que chegavam à cidade. “Foi neste local que vi pela primeira vez o Cinema de 180 graus”, lembra Edson Luiz da Silva.
O terreno foi finalmente ocupado na década de 80, com a construção do Centro Cívico Tancredo Neves. O local também ficou conhecido como Praça da Bandeira e como Praça dos Três Poderes, já que era cercada pelo Palácio do Governo (Poder Executivo), Assembléia Legislativa (Poder Legislativo) e Tribunal de Justiça (Poder Judiciário).
Material foi tirado do morro do Mocotó
Um fato curioso é que a terra utilizada no aterro foi toda retirada do morro do Mocotó, localizado nas proximidades. As escavações foram realizadas entre o Hospital Militar e a antiga estrada do Saco dos Limões. “Se observar bem, o morro do Mocotó não apresenta a inclinação natural. Mesmo antes da construção do túnel, a parte frontal já era reta, tanto que a entrada para o morro sempre foi pela lateral”, diz Edson Luiz da Silva. Naquela época, o morro do Mocotó já começava a ser habitado. Silva conta que estas pessoas moravam antes na ponta do Estreito, mas com a construção da Ponte Hercílio Luz, na década de 20, tiveram que ser transferidas.
Em 1935 o Exército deixara o Quartel do Campo do Manejo e em 1942 foi iniciada a construção do aterro, obra que, até 1944, prosseguiu em ritmo acelerado. Os funcionários traziam e assentavam a terra dentro da parte cercada, sendo que foi deixada uma abertura na murada para que a água pudesse ser escoada. Máquinas semelhantes a retroescavadeiras totalmente mecânicas, foram trazidas do exterior especialmente para a Capital. O maquinário era utilizado para escavar e carregar os caminhões, que depois seguiam para o local do aterro, onde eram descarregados manualmente, com pás. Próximo à área do aterro ainda foram construídos dois barracões para a fabricação da tubulação utilizada na obra.
A partir de 1945, em plena 2a Guerra Mundial, as obras no aterro tornaram-se mais lentas, sendo que nos dois anos seguintes poucas mudanças foram observadas na paisagem da área. Em 1948 os trabalhos foram encerrados e da grande área de mar sobrou apenas uma pequena lagoa, no ponto onde atualmente se encontra o Fórum e o Departamento Nacional de Infra-estrutura (Dnit). A lagoa foi coberta somente na década de 60, com terra retirada do Parque da Luz. “Eu lembro dos caminhões cheios de terra que desciam a Conselheiro Mafra e seguiam pela João Pinto até a lagoa”, conta Silva.
(Natália Viana, A Notícia, 11/09/2006)
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1 Comentário
Gostei muito da materia, faz uma bela trajetoria das mudanças ocorridas no aterro da Prainha. Porém venho buscando informações referentes ao periodo de 1989 a 2009. Período este que o aterro recebeu um complexo poliesportivo.
Quem tiver alguma informação poderá me enviar no e-mail balduinoudesc@gmail.com