Mais de 15 hectares do Parque Florestal do Rio Vermelho (PFRV) foram destruídos por um incêndio que iniciou na última quinta-feira e manteve focos pontuais até a tarde de segunda-feira. O coordenador da comunicação social da Corporação de Corpo de Bombeiros na Capital, capitão Flávio Graffi, explicou que a vegetação de pinus existente no local é de alto potencial para a ocorrência de sinistros.
“Os pequenos galhos e folhas formam resina, que se transforma em agente altamente inflamável em condições de calor demasiado ou seca prolongada”, explicou o militar. A operação foi prolongada porque este tipo de vegetação ocasiona incêndios subterrâneos. “O fogo apaga por cima e ressurge por baixo, potencializando novos pontos”, informou.
Graffi garantiu que não existe mais incêndio, mas que o local é totalmente vulnerável a novos registros. As características do fogo demandam um aparato logístico por parte dos bombeiros para combater as chamas. Nas operações são utilizados equipamentos de proteção especial contra os gases tóxicos liberados pela resina e batedores com pontas de borracha para apagar as chamas.
Para combater o foco, a corporação deslocou 12 homens e quatro viaturas por dia ao local. “Além do combate ao fogo, também é necessário fazer trincheiras para impedir o alastramento das chamas ocultas no subsolo”, destacou o capitão. Por conta da estiagem já ocorreram 46 incêndios na Ilha desde o início deste ano.
Licitação para derrubar pinus está temporariamente suspensa
A licitação para a retirada de pinus no Parque Florestal do Rio Vermelho está temporariamente suspensa em função de duas situações. A primeira delas foi o decreto 4.273, de 28 de abril de 2006, que transferiu a área total do Parque Florestal do Rio Vermelho (PFRV), antes de propriedade da Secretaria de Estado da Agricultura, para integralização de capital da empresa público-privada SC Parcerias. A outra questão diz respeito à necessidade de autorizações a serem fornecidas pela Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina (Fatma) para corte da espécie em Áreas de Preservação Permanente (APP) localizadas dentro do parque. O impasse gerado pela mudança de propriedade já foi resolvido com a assinatura de um convênio de cooperação há 15 dias, mantendo o Centro Integrado de Desenvolvimento Ambiental de Santa Catarina (Cidasc) como gestor da área, de acordo com o diretor administrativo e financeiro da entidade pública, Magno de Andrade.
O mapeamento solicitado pela Fatma para a liberação das licenças ambientais e realizado pelo corpo técnico da Cidasc foi entregue ao órgão, afirma o diretor. “Nossa expectativa é de que em dez dias os trabalhos reiniciem”, argumentou. Andrade lembra que a empresa já está contratada, mas o procedimento foi interrompido atendendo solicitações dos órgãos de fiscalização ambiental e de organizações não-governamentais. O macroprojeto de substituição da planta exótica por vegetação nativa causou polêmica na comunidade, que questiona a destinação dos recursos obtidos com a venda da madeira. São cerca de 100 mil pés ao valor de R$ 40,00 por unidade.
“Todos o incremento será investido na revitalização e conservação do parque”, garantiu o diretor.
Para evitar o impacto visual, o desmatamento será realizado em 36 meses. “Vamos retirar as árvores por partes. Dessa forma, em muitas áreas, boa parte da nova vegetação já terá crescido cerca de um metro”, explicou Andrade. Além disso, os estudos científicos realizados pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) apontam a necessidade de manter os pés de pinus em determinadas áreas do parque. “As plantas serão aneladas para que morram aos poucos com o objetivo de manter os pássaros até o crescimento de novas árvores”, destacou.
Andrade lembra que o programa de revitalização demanda diferentes procedimentos como a promoção de adensamento. ” Em algumas partes teremos de promover a indução de regeneração da mata”. Também estão no cronograma a colocação de placas de identificação e educação ambiental, o isolamento de APPs e o cercamento da área total. A Cidasc acumula a responsabilidade de manter um viveiro de mudas de cerca de 30 espécies nativas para promover o reflorestamento. A retirada de todos os pinus deve levar um total de cinco anos.
Entidades esperam por plano de manejo para categorizar parque
O grande questionamento das lideranças comunitárias do entorno da reserva e das organizações não governamentais é o fato de o parque, embora oficializado por decreto federal, não integrar nenhuma categoria do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). As entidades temem invasões na área do parque por conta do desmatamento. A reivindicação maior destes representantes é a elaboração do Plano de Manejo, que necessita ser precedido pela regulamentação da área como parque estadual, previsto no Sistema Estadual de Unidades de Conservação (Seuc), que segue as categorias do SNUC. “Os moradores e as ongs são grandes parceiros nas discussões sobre o futuro sustentável da área”, afirmou o diretor administrativo e financeiro do parque, Magno de Andrade. A conservação da área custa cerca de R$ 500 mil anuais à Cidasc.
O Parque Florestal do Rio Vermelho possui cerca de 1,45 mil hectares e foi criado em 1974. Por 12 anos foi mantido como uma estação florestal para a experimentação com espécies exóticas, como o pinus e o eucalipto. Andrade disse que existem duas versões no contexto histórico da área. Se os técnicos da UFSC sustentam que a área era um imenso banhado, os moradores mais antigos afirmam que o local possuía vegetação nativa variada e exuberante.
“A hipótese mais provável é que há 40 anos o governo do Estado tenha decidido plantar espécies exóticas de alta rentabilidade no local para inibir invasores”, argumentou. Na opinião do diretor, atualmente não existe justificativa para o Executivo manter um local tão nobre com plantação de pinus.
A Cidasc assumiu a administração do local há 26 anos. “O nosso planejamento, bem como o interesse da sociedade local, é a restauração da fauna e da flora nativa”, afirmou Andrade. Ele lembra que a área, apesar dos problemas, se encontra preservada, mesmo com a manutenção do camping que funciona nos domínios do parque e da circulação de turistas e freqüentadores da praia do Moçambique, “Os visitantes atendem regras para ocupar o espaço”, declarou.
(Gisa Frantz, A Notícia, 30/08/2006)
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