O projeto Pomar Floripa está abandonado, segundo as lideranças comunitárias do morro do Horácio e do bairro da Agronômica, fazendo com que centenas de mudas plantadas desde 2000 estejam sendo encobertas por espinheiros e outras vegetações. Além disso, as placas de identificação das árvores estão se perdendo, enquanto as comunidades que atuaram no projeto ficam privadas de áreas verdes para o lazer e trilhas. “Esse espaço poderia estar sendo utilizado pelas crianças das escolas da cidade, pois muitas não conhecem árvores como o pau-brasil e o garapuvu e a orquídea Laélia Purapurata, que são símbolos do Brasil, de Florianópolis e de Santa Catarina, respectivamente”, disse o presidente do Conselho Comunitário da Agronômica, João Batista Santos, um dos coordenadores da Agenda 21 Local de Florianópolis. Ele e o líder comunitário do Morro do Horácio, Cirilo Pereira da Silva, fizeram a denúncia do Pomar Floripa ontem de manhã.
Segundo os dois, foram investidos recursos públicos no projeto de recuperação das áreas degradadas do Maciço do Morro da Cruz, no qual está incluído o Pomar Floripa, “mas as mudas que estão virando árvores não recebem os devidos cuidados”, destacou Silva. O abandono é flagrante no pomar modelo no alto do Morro do Horácio, onde além do mato ter tomado conta, o local está abrigando cavalos e bois de moradores da região, deixando as trilhas e caminhos repletos de estrume.
“O projeto começou errado, pois primeiro iniciaram o plantio para depois desenvolver um plano de conscientização com a comunidade”, destaca Silva, um dos responsável por esse trabalho. “A iniciativa foi muito positiva, pois onde antes só havia vegetação queimada e lixo, agora está transformado numa floresta de árvores nativas e frutíferas”, destacou.
“Depois que os resultados começaram a aparecer, a comunidade passou a cuidar e deixou de colocar fogo no terreno e depositar lixo”, revelou.
A iniciativa foi coordenada pela Fundação Municipal do Meio Ambiente (Floram), com recursos do Ministério do Meio Ambiente, abrangendo as comunidades dos morros do Horácio e da Penitenciária, além do morro da Caieira do Saco dos Limões. Na primeira etapa estava previsto o plantio de 25 mil mudas, de um total de 100 mil, o que não chegou a acontecer. O trabalho de sensibilização das comunidades envolveu 4.320 pessoas das três comunidades e aproximadamente três mil alunos.
Floram negocia terreno
A Floram suspendeu temporariamente os trabalhos do projeto Pomar Floripa pelo fato de o terreno da iniciativa modelo, no alto do Morro do Horácio, pertencer a uma empresa de comunicação. “Estamos negociando para que esse terreno seja destinado à Prefeitura, mas enquanto isso não acontecer não podemos desenvolver nenhuma atividade na área”, explicou o superintendente da Floram, Francisco Rzatki.
“Aquele local é ideal para a localização da sede do Parque Municipal do Maciço da Costeira, pois fica perto de áreas de exclusão social e com fácil acesso”, disse Rzatki. “Inicialmente havia o entendimento de que o terreno pertenceria à Penitenciária Estadual e ao Estado, mas realizamos um levantamento e chegamos até a escritura, mostrando que ele é de um particular”, acrescentou.
Rzatki garantiu também que a Floram continua interessada em dar continuidade ao projeto Pomar Floripa e “já realizamos diversas vistorias na área, inclusive com a participação da secretária de Desenvolvimento Social, Rose Berger”. Todos os meses são realizadas reuniões sobre os trabalhos no Maciço do Morro da Cruz e “na próxima queremos resolver essa situação”, acrescentou.
Técnicos em Agronomia e Biologia da Floram realizaram uma vistoria nas áreas do projeto e “constataram que as mudas não correm riscos, por enquanto, devido ao mato que está crescendo em volta. Isso significa que não estamos perdendo o que foi investido na região”, acrescentou Rzatki. “A futura sede do Parque do Maciço do Morro da Cruz a ser instalada no local, será a base dos trabalhos de educação ambiental para todas as comunidades dessas áreas.”
Comunidades cobram limpeza de local
A principal reivindicação das comunidades, já encaminhada à Floram, é a de limpeza completa da área, manutenção das mudas crescidas e a reposição das placas indicativas das espécies, “o que pode fazer com que a população volte a contar com um espaço de lazer”, salientou o representante do Conselho Comunitário da Agronômica, João Batista Santos. Além disso, “a administração precisa manter alguém cuidando dessas áreas, mas não pode ser ninguém de fora. É importante que nossos adolescentes e jovens sejam aproveitados nesse trabalho”, acrescentou o líder comunitário Cirilo da Silva.
Ele sugere inclusive que sejam empregados nesse serviço um ou dois jovens que participaram do projeto Aroeira, onde passaram por cursos de capacitação profissional, como dois filhos de Natália Luciano Ouriques, natural de Fraiburgo, há 24 anos morando em Florianópolis. O mais velho, Jonas Miguel, com 18 anos, fez curso de eletrônica no projeto Aroeira, mas não conseguiu emprego no ramo. Depois de esperar por quase um ano, empregou-se como auxiliar de eletricista.
Daiana, 17 anos, também filha de dona Natália, se preparou num curso desenvolvido pelo Aroeira para atuar em supermercados, mas assim como o irmão, permaneceu quase um ano desempregada. “Hoje ela está trabalhando num restaurante, ajudando a servir marmitas, mas não foi para isso que ela fez o curso”, reclamou a mãe. “Meus filhos já estão colocados, mas existem vários jovens que continuam parados ou encostados em algum emprego até aparecer algo melhor”, complementou.
“Se trouxerem alguém de fora não vai dar certo. Para cuidar desse pomar tem que ser gente daqui, pois isso vai ajudar na valorização das pessoas e da comunidade”, defendeu Silva. “Nós já conversamos sobre isso com o pessoal da Floram, mas eles alegam a falta de pessoal e a ausência de previsão orçamentária para a continuidade do projeto”, acrescentou João Batista Santos. “Mais um pouco e essas árvores que custaram tanto dinheiro público vão estar perdidas”, alertou.
(Celso Martins, A Notícia, 05/07/2006)
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