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Os últimos 100 mil pés de pinus do Parque Florestal do Rio Vermelho, na região leste da Ilha de Santa Catarina, começam a ser cortados em julho, antes de sua adequação à lei 11.986/00, que criou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), gerando resistências de entidades comunitárias e ambientalistas da região.

A Associação Ecológica Aliança Nativa, por exemplo, defende que esse corte seja feito depois da legalização do Parque e com plano de manejo aprovado, o que poderia obrigar a aplicação integral dos recursos na própria unidade. “O Governo do Estado criou uma comissão em 2002 para definir o futuro do Parque, mas até agora não apareceu nenhum resultado”, reclamou o diretor executivo da Aliança Nativa, Alexandre Lemos.

Esse e outros pontos polêmicos do futuro do Parque do Rio Vermelho começaram a ser discutidos ontem à noite na sede da unidade, numa iniciativa da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc), empresa vinculada à Secretaria Estadual de Agricultura, com a participação de representações locais como a própria Aliança Nativa, Associação de Moradores do Rio Vermelho e Associação de Surfe do Moçambique.

“A concorrência para o corte das 100 mil árvores foi definida no último dia 19, com a escolha da empresa que vai efetuar os serviços”, informou o administrador do Parque, Nelson Silva, atividade que vai se prolongar pelos próximos três anos. Outras 45 mil árvores já foram retiradas e transformadas em tábuas para caixarias ou perfilados, gerando uma receita de aproximadamente R$ 3 milhões.

“Nas condições em que o Parque se encontra, sem estar adequado às exigências do SNUC, os recursos vão para a Secretaria da Agricultura. Achamos que eles deveriam ser aplicados na própria unidade, ajudando no reflorestamento com espécies nativas”, enfatizou o dirigente da Aliança Nativa. O reflorestamento já está ocorrendo naturalmente, reforçado com os resultados dos experimentos realizados pelo botânico da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Ademir Reis.

A experiência foi realizada numa área de 10 mil metros quadrados (um hectare), com a retirada prévia de pinus e o plantio de dezenas de espécies nativas da mata atlântica, cujos resultados positivos foram mostrados ontem de manhã por Nelson Silva. Em outra área do Parque, onde foram retirados parte dos 45 mil pés de pinus, a regeneração é visível, existindo centenas de pequenas árvores nativas.

É preciso explicar à comunidade

“Como vamos iniciar o corte dos 100 mil pés de pinus, tivemos o cuidado de realizar essa reunião para esclarecer a comunidade sobre o que será feito”, explicou Nelson Silva. Enquanto isso não aconteceu, os boatos dominaram o imaginário das comunidades das imediações do Parque. “Comentam que essa área vai ser transferida através de decreto para a SC Parcerias, visando o mesmo destino que está sendo dado a outras áreas da cidade”, citou o diretor da Aliança Nativa, Alexandre Lemos.

Segundo o administrador da reserva, Nelson Silva, “depois que o Parque for enquadrado na lei do SNUC, passando a ser de fato uma unidade de conservação com plano de manejo próprio, ele passará das mãos da Secretaria de Agricultura para a esfera da Secretaria do Meio Ambiente e da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Fatma), que vai gerenciar a área”, garantiu. Os moradores do entorno também não sabem qual o destino dos recursos da venda das árvores, gerando outra série de boatos e comentários.

“Os recursos vão para a Secretaria da Agricultura como forma de compensar os investimentos feitos aqui nos últimos 20 anos. Uma parte será aplicada no próprio Parque”, acentuou Silva. “A falta de informações faz com que muitos moradores se assustem com o corte das árvores e por isso realizamos a reunião”, reforçou o administrador. As divergências surgidas ontem vão ser avaliadas por uma comissão formada por funcionários da Cidasc, comunidade e entidades.

Lixo ainda é problema no local

As valas de drenagem abertas no interior do Parque do Rio Vermelho estão sendo usadas para o descarte de restos de materiais de construção, lajotas e meio-fio e lixos domésticos como plástico, isopor, papel, papelão e pneus velhos. O problema é mais grave ao longo das margens da rodovia SC-406, onde muitas sacolas de plásticos repletas de lixos são lançadas pelas janelas dos carros em trânsito.

“Eles passam e vão jogando fora, sujando tudo”, reclamou José Hermelindo Silva, residente na Barra da Lagoa. “Todo tipo de gente faz isso, seja com Fusca ou em carrões”, completou. A mesma situação pode ser verificada no acesso à praia de Moçambique e mesmo nos caminhos e trilhas internas do Parque, principalmente nas valas de drenagem.

Na altura do trevo de acesso à Barra da Lagoa, junto à SC-406, onde já foram retiradas alguns milhares de pés de pinus, pode ser encontrado lixo doméstico e restos de construções. O acesso a esse ponto ganhou um obstáculo, o que não impede o acesso a pé. Ontem de manhã havia uma pessoa cortando árvores para obter lenha, transportada aos poucos numa bicicleta. (CM)

Saiba mais:

· Surgiu como uma estação experimental em setembro de 1962 por iniciativa do governador Celso Ramos, sendo plantadas milhares de mudas de diversos pinus (Eliotis, Canariense, Marítimo e Pinheiro) e eucaliptos;
· Área de 1.465 hectares, incluindo 14 quilômetros de frente para o Oceano Atlântico (praia do Moçambique) e 11 quilômetros banhados pela Lagoa da Conceição;
· O Parque Florestal do Rio Vermelho foi confirmado pelo decreto estadual número 994, de 19 de agosto de 1974;
· Um de seus objetivos era “introduzir essências florestais e ornamentais, nativas e/ou exóticas, para fins econômico e de embelezamento”;
· Visava ainda o desenvolvimento de “técnicas silviculturais para o meio ambiente do litoral catarinense” e de drenagem para o “aproveitamento de áreas alagadiças”;
· Além de instalações da Polícia Ambiental, o Parque abriga um camping administrado pela Cidasc com capacidade para 400 barracas, além de uma sede de escoteiros, área de hipismo rural, viveiro de mudas e o Núcleo de Aqüicultura da UFSC;
· A Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan) está concluindo uma estação para o tratamento dos esgotos da Barra da Lagoa e Canto da Lagoa;
· O reflorestamento desenvolvido pelo botânico Ademir Reis inclui: capororoquinga-da-praia, feijão da praia, cereja da praia, araçá, canela-do-brejo, maria-mole, figueira-miúda, vassoura-vermelha, capororoca-da-praia, ora-pro-nobis, canemeira, catiguá, baguaçu, embaúva, jacatirão-miúdo, marmeleiro-da-praia, jasmim-leiteiro e aroeira-vermelha;
· Unha-de-gato, ou Mimosa catharineis, é o nome de uma planta que só ocorre na região do Parque (endêmica), não sendo encontrada em nenhuma outra parte do Planeta, o que aumenta a importância da unidade.
Fonte: Cidasc
(Celso Martins, A Notícia, 24/06/2006)

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