As florestas de Florianópolis são mais exuberantes do que eram até a década de 1950, embora a área de mata nem fique perto do que havia quando os primeiros europeus começaram a chegar à região. O grande desmatamento ocorreu após a chegada dos imigrantes açorianos, entre os anos de 1748 e 1756, quando foram abertas amplas clareiras para pastagens e plantações, destruição que chegou às encostas dos morros com a mesma finalidade.
“Nossas florestas estão mais conservadas e os morros estão mais verdes, pois a atividade agrícola que havia desapareceu, proporcionando a recuperação da cobertura vegetal”, explicou o biólogo Francisco Antônio da Silva Filho, gerente de unidades de conservação da Fundação Municipal do Meio Ambiente (Floram). Ele falou com a autoridade de quem estudou o processo de ocupação da Ilha e acompanha de perto os esforços pela manutenção das formações florestais remanescentes.
Um exemplo de como eram nossos morros até poucas décadas atrás ainda pode ser visto no Ribeirão da Ilha, onde as encostas apresentam alguns clarões nos locais de atividade agrícola, ao lado de capoeiras. “As regiões do Ribeirão da Ilha e de Ratones, mais afastadas da área central e com acessos difíceis, continuaram com as atividades de agricultura e pecuária até mais recentemente. Por isso, as florestas nessas áreas ainda estão em fase inicial de regeneração”, salientou Silva Filho.
Em outros locais, como no Norte da Ilha, onde a atividade tradicional das populações nativas foi substituída mais cedo pelo turismo, a vegetação teve mais tempo para se recompor. Estudo feito pelo Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (Ipuf) e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de julho de 1990 a fevereiro de 1991, identificou a existência de entre 2% e 3% de florestas primárias. Ou seja, a mata que não sofreu nenhum tipo de intervenção humana, permanecendo intacta.
Para o biólogo da Floram, “mesmo essas florestas consideradas primárias sofreram algum tipo de intervenção humana”, destacou, citando como exemplo os morros das regiões do Ribeirão da Ilha e da Costa da Lagoa, onde ainda podem ser encontradas árvores de grande porte, inclusive exemplares de canela-preta, peroba e cedro, entre outros. “Essas florestas eram usadas e nelas se praticava a extração seletiva”, afirmou Silva. Havia nestas matas desde árvores até bromélias, orquídeas e cipós, entre outros produtos, inclusive os medicinais.
Roubo de palmito é freqüente
Essa lenta recuperação das florestas ocorre apesar da prática da caça, da extração de palmitos e, em menor escala, da retirada de bromélias e das orquídeas sobreviventes, sem contar a supressão de vegetação para construções e abertura de estradas. “O que também ocorre com muita freqüência é o corte baixo”, explicou o biólogo Francisco Antônio Silva Filho. Ou seja, a chamada limpeza, quando a vegetação mais alta é mantida, sendo retiradas as menores.
“É muito difícil acabar com a coleta de palmitos, pois as áreas são muito extensas e as pessoas procuram agir em silêncio e com discrição”, lembrou o biólogo da Floram. A região sul da Ilha é a mais procurada: a extração teve início nos morros do Ribeirão, avançando sobre a área protegida do Parque da Lagoa do Peri. Apesar das investidas da Polícia Ambiental e dos fiscais da Floram, os responsáveis pelo furto de palmito não foram identificados.
Na década de 1960 houve uma corrida às orquídeas, destinadas principal à exportação, quando dezenas de pessoas entravam nas florestas em busca das mudas. Depois que elas sumiram, os catadores também desapareceram. Mais recentemente voltaram outros, agora interessados em orquídeas e um deles foi flagrado quando enchia o carro com mudas retiradas da Lagoa do Peri, destinadas a uma floricultura da cidade.
“A mudança da atividade agropecuária para a atividade turística acabou com as práticas antigas. Hoje sobrevivem alguns criadores de gado e uns poucos agricultores voltados à subsistência”, disse Silva Filho. Segundo o biólogo, esta foi uma das condições que propiciaram a recomposição florestal. “O que nos preocupa hoje é a ocupação imobiliária, com a venda de lotes em áreas de florestas. Mesmo assim, a qualidade da vegetação continua sendo bem melhor do que havia nas décadas de 1930 e 1940”, complementou.
Estudo detalha vegetação
Segundo o estudo do Ipuf/IBGE do início da década de 1990, a cobertura vegetal de Florianópolis era constituída por pastagens artificiais, vegetação secundária pioneira, capoeirinhas, capoeiras, capoeirões, floresta secundária e floresta primária com “interferência antrópica (humana) parcial”. Além disso, também existia a ve-getação fixadora de dunas, as restingas nas áreas planas e os manguezais.
As encostas do maciço cristalino (os diversos morros da Ilha), são cobertas pela Floresta Onbrófila Densa (Floresta Pluvial de Encosta Atlântica). Nas planícies arenosas do quaternário, “a cobertura vegetal é constituída por formações de restinga – arbustiva, sub-arbórea ou arbórea, dependendo do tipo de formação do solo e do uso que se procedeu sobre o mesmo”, assinala o estudo.
(Celso Martins, A Notícia, 09/06/2006)
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