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Ignacy Sachs ministra palestra sobre os desafios do desenvolvimento sustentável

Para um auditório da Reitoria regurgitante de ouvintes, o professor Ignacy Sachs ministrou memorável palestra, na manhã de quinta-feira, 9 de março, sobre a crise atual e os desafios do desenvolvimento sustentável.
Judeu, de origem polonesa (Varsóvia, 1927), veio para o Brasil como refugiado de guerra, aqui vivendo de 1941 a 1954. Graduou-se pela Faculdade de Ciências Econômicas e Políticas do Rio de Janeiro, atual Universidade Cândido Mendes, em 1951. Naturalizado francês, atualmente reside em Paris, onde dirige o Grupo de Pesquisa sobre o Brasil Contemporâneo na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS). Foi um dos primeiros economistas a trabalhar com o conceito de desenvolvimento ecológico.
O evento foi coordenado pelo professor Lauro Mattei, do Departamento de Ciências Econômicas, e promovido pelo Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA) e pelo Centro Acadêmico Livre de Economia (CALE) da UFSC.
Sachs iniciou falando, em português fluente e bem articulado, que as crises são encruzilhadas e que devemos aproveitar o momento, como sempre, para refletir : “ Estamos vivendo a conjunção de três crises: a da clássica conjuntural do sistema capitalista, a evolução da espécie humana com a biosfera — passando do uso de energias fósseis para alternativas— e saindo de um período que se caracterizava pela extraordinária explosão da população e da economia”, disse.
Recapitulou a relação da espécie humana com a biosfera e contou que passamos, há 12 mil anos atrás pela domesticação de animais e sedentarização. A segunda fase teve início entre os séculos XIV e XVIII com o uso de um conjunto cada vez mais intensivo das energias fósseis: carvão mineral, gás natural e depois o petróleo e seus derivados. A queima destes combustíveis gera gases que produzem o efeito estufa, um dos responsáveis pelo aquecimento global.
Para o pesquisador, às vésperas da extração de petróleo do pré-sal deveríamos nos guardar do otimismo e euforia, já que este processo tecnológico é um dos responsáveis pelos problemas da humanidade.
A escassez do petróleo facilita a transição para o pós-petróleo que seria necessária mesmo que o recurso fosse abundante como o carvão.
No início da década de 70 as prioridades eram sociais e o meio ambiente podia esperar. Sachs contou que na Conferência de Estocolmo, na Suécia, em 1972, o delegado brasileiro disse para ele: – “que venham todas as indústrias para o país”. Hoje presenciamos a posição inversa: é o meio ambiente que prevalece e o social pode esperar. O grande desafio do século XXI é encontrar estratégias de desenvolvimento social includente e economia sustentável.
O economista se disse feliz de estar numa universidade como a UFSC, que há anos discute o modelo de agricultura familiar, num Estado que vem implantando um modelo diferente do país, sem se deixar encurralar, mostrando que o desenvolvimento é um processo aberto e comporta pluralidade de modelos.
Alertou que devemos estar atentos ao fato de que condições humanas diferentes fabricam futuros diferentes. Sachs afirmou que os estudos comparativos são ferramenta importante nas ciências sociais, não para fins de construir rankings, mas para entender a diversidade. Destacou que precisamos desses estudos para criar “muletas” para o desenvolvimento social.
Sobre a crise conjuntural, deu um singelo exemplo da globalização : “Se como cerejas em janeiro, em Paris, é porque as cerejas vieram do Chile”. Para valorizar a produção local há que comer cerejas só no verão europeu, que é quando lá frutificam. O processo atual é assimétrico e favorece os países desenvolvidos. Por isto o paradigma energético é um tema fundamental. A crise ambiental é a do consumo excessivo. Deveríamos estabelecer um padrão que requeresse menos consumo, levando em conta a sobriedade e a eficiência energéticas e todas as possíveis substituições por energias alternativas: solar, fotovoltaica, eólica, geotérmica, entre outras. O leque dessas opções é grande e as bioenergias como a produzida a partir do etanol, são parte integrante.
Modos de produzir biocombustíveis
Para Sachs, o Brasil tem sido extremamente feliz na maneira que produz etanol de cana- de- açúcar a preços baixos para a indústria automobilística e os carros flex.
Numa segunda geração do processo de fabricação de biocombustivéis, o etanol deve ser obtido a partir da celulose. Desta forma não compete com produtos que têm função alimentar importante como o açúcar e são usados resíduos, os bagaços da cana.
Melhor utilização seria a terceira geração do processo, esperando-se que, no futuro, as algas e microalgas marinhas e aquáticas sejam a matéria prima para produção de biocombustíveis. Desse modo se deslocaria a produção de áreas agricultáveis. Esta transformação do panorama energético central é fundamental para se caminhar rumo a uma economia com baixas emissões de carbono. Disse que a mídia costuma usar o termo “baixo carbono”, mas o carbono seguirá sendo emitido, a questão é gerenciar essa emissão.
Sachs falou ainda sobre a quarta geração que se daria a partir da fotossíntese assistida (artificial), jogando gás carbônico numa estufa. Seria um modelo sofisticado em que a água do mar é dessalinizada e exposta à energia solar, gerando grandes quantidades de biomassa.
Elogiou o projeto Desertec que se propõe a gerar energias alternativas nas regiões desérticas da África para serem usadas na Europa.
Duas margens para desenvolver
O economista falou sobre duas outras margens para se progredir: a primeira seria promover por todos os meios possíveis a rede social para quem está fora do mercado, com acesso à escola, saúde, habitação. A outra é a expansão do perímetro da economia solidária, que na Europa se denomina social, dentro da economia de mercado. Desta forma o lucro potencial para as atividades é definido coletivamente. Deve-se, também, praticar maior seletividade nas relações exteriores e melhor aproveitamento dos recursos locais. Neste âmbito, citou duas obras: Vivir con lo nuestro. Nosotros y la globalización, do argentino Aldo Ferrer e Desarrollo desde adentro do chileno Oswaldo Sunkiel.
Keynesianos

Sachs disse que atualmente todos viraram keynesianos ( seguidores das teorias do economista inglês John Maynard Keynes 1883 -1946). Isto é defende-se a intervenção do Estado para regular a economia, ou colocá-la nos eixos. Mas, qual keynesianismo queremos? Que tipo de intervenção pública? Qual a preocupação com o impacto ambiental?
Planejamento
Para o palestrante, a seletividade traz à tona a questão do planejamento, uma das prinicipais vítimas a partir da reforma neoliberal.
O documento final da Eco-92 estava na contramão do Estado mínimo, numa época em que se vivia o auge do processo liberal. Os avanços no caminho do desenvolvimento sustentável foram maiores de 1972 a 1992 que de lá para cá, quando houve um retrocesso.
A Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável prevista para acontecer no Rio de Janeiro em 2012 – a Rio +20 , será uma chance de reverter esta situação, a partir de que a tomada de decisões seja feita em outra perspectiva.
Uma sugestão seria propor aos países membros da ONU que produzissem planos nacionais nos quais ficasse explícita a estratégia de relação com a biosfera.
O economista reforçou que não basta gerar oportunidades de trabalho, há que respeitar as noções propostas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) que prega que o trabalho deve ser digno e decente. Deve-se, portanto, voltar a ensinar planejamento, atualmente pouco presente nos currículos das universidades. Destacou que o planejamento jamais deve se dar nos moldes soviéticos, mas, deve ser dialógico, flexível e contínuo. Um diálogo permanente deve ser estabelecido entre Estado, trabalhadores, sindicatos e o poderoso ator que entrou no debate no pós-guerra: a sociedade civil organizada.O planejamento não deve se dar só em nível local, mas um processo interativo no qual se realizem diagnósticos participativos, avaliação dos problemas latentes e o que se deve fazer para solucionar isto.
Lembrou que o desenvolvimento do país não é a soma aritmética de desenvolvimentos locais, há uma dialética nos processos e compromissos que nos esperam.
Segundo sua análise não haverá mais um enfrentamento como houve entre capitalismo e socialismo, gerando a categoria dos não-alinhados. Para ele deve haver uma aliança e colaboração Sul mais Sul (hemisfério) e os emergentes Brasil e Índia devem se unir, já que a China escolheu outro caminho, está em competição acirrada e entrando de maneira forte na África.
Uma proposta para o Brasil seria um planejamento para 2022, bicentenário da independência, já que um planejamento com uma perspectiva de quase 15 anos é viável.
Aos futuros economistas
Aos futuros economistas, grande parte da plateia, disse que um enorme desafio os espera e que é tempo de sair do debate teórico e colocar a mão na massa. “Estou certo que vocês se divertirão muito”, finalizou.
(Por Alita Diana, Agecom/UFSC, 15/03/2010)

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