Florianópolis pretende ser a primeira capital lixo zero do Brasil. A cidade implantou coleta seletiva há mais de 30 anos e apresenta um dos melhores desempenhos do país em recuperação de resíduos. Mas, para atingir as ambiciosas metas fixadas pela administração municipal, terá de andar mais rápido.
De acordo com o presidente da Autarquia de Melhoramentos da Capital Comcap, Márcio Luiz Alves, o destino do resíduo é decidido pelo cidadão, dentro da sua casa. É o gerador que escolhe o caminho adequado, separando o resíduo em três frações: orgânico (restos de alimentos e de podas), reciclável seco (papel, plástico, metal e vidro) e rejeito (lixo sanitários e outros materiais para os quais não há ainda mercado de reciclagem).
Hoje, Florianópolis já ganha R$ 6,6 milhões ao ano com os recicláveis que desvia do aterro sanitário. Entre o que deixa de gastar com aterro para orgânicos que são compostados e com recicláveis secos que são doados para associações de triadores.
Metas até 2030
Ao decidir encaminhar os resíduos orgânicos para compostagem no seu quintal ou em pátios comunitários, o morador ajudará a cidade a deixar de encaminhar mais de 100 mil toneladas por ano ao aterro sanitário em 2030. São as metas do Plano Municipal Integrado de Gerenciamento de Resíduos Sólidos, aprovado pela sociedade, e que a Prefeitura de Florianópolis pretende antecipar.
“Serão quase R$ 40 milhões em ganhos ao ano, sem contar as vantagens ambientais, a redução na emissão de carbono tanto no aterro quanto na coleta. É só imaginar que Florianópolis deixará de mandar para o aterro, lá em Biguaçu, a 46 quilômetros do Itacorubi, algo como 27 caminhões de lixo por dia”, aponta Márcio Alves. Se acrescentar a meta de desvio dos recicláveis secos, com maior participação das pessoas na coleta seletiva da Comcap, será como 40 caminhões de lixo a menos por dia a caminho do aterro sanitário.
Reciclagem de hábitos
A primeira atitude é de reduzir a geração de lixo. Quanto o resíduo é produzido, há apenas três caminhos: reciclagem (coleta seletiva de recicláveis secos como papel, vidro, metal e plástico), aterro sanitário (rejeito recolhido pela coleta convencional) e compostagem para os resíduos orgânicos como restos de alimentos e podas.
Na última década, Florianópolis foi a capital que mais cresceu no Sul do Brasil. De um ano para outro, a população aumentou em média 2,5%. Mas, com alto poder de consumo, grande atração regional e orla turística, a geração de lixo aumentou muito mais, à razão de 6% ao ano.
De tudo que é gerado em Florianópolis, por moradores e visitantes, caracteriza o presidente da Comcap, 78% poderiam ser reaproveitados, apenas 22% são rejeito, como lixo sanitário que, de qualquer jeito, terá disposição final em aterro. A meta é que em 2030, a cidade desvie do aterro sanitário 90% dos resíduos orgânicos gerados e 60% dos recicláveis secos.
O tratamento dos resíduos exige nova ética, novo design e, principalmente, que os hábitos sejam reciclados. Acabou o tempo para uma sociedade que joga coisas fora, o modelo produtivo de retirada e descarte de materiais da natureza está sendo substituído por economia circular e regenerativa. “É disso que precisamos participar, temos de tornar Florianópolis a primeira capital lixo zero do Brasil”, propõe Márcio Alves.
Márcio Luiz Alves, presidente da Comcap
Como será possível reciclar mais em Florianópolis?
O objetivo da Prefeitura de Florianópolis, por meio da Comcap, é focar no resíduo que pode ser recuperado, reaproveitado. Isso passa pela reeducação da comunidade e pela melhoria da estrutura da Comcap para poder coletar. A ideia do lixo zero é essa e vamos começar a separação dos resíduos em três frações (orgânicos, recicláveis secos e rejeito) inclusive nos órgãos públicos municipais.
Tudo está muito voltado à reeducação, ninguém muda a cultura, mas a educação muda atitudes. A pessoa tem de começar a separar de maneira adequada e a Comcap ampliará a estrutura para coletas diferenciadas. Dou um exemplo da mudança que já ocorre. Antes, a Comcap fazia licitação para compra de equipamentos e 90% eram para a coleta convencional. As licitações em curso, são o inverso, 90% para a coleta seletiva e 10% para a convencional, já partindo para esse novo momento de tornar a capital uma cidade lixo zero.
Quem deve se preocupar com essa meta?
A meta é da cidade. O desempenho de Florianópolis é razoável, mas muito aquém do que nos interessa. Nosso custo de disposição final, com o aterro, é muito alto. Isso pode ser reduzido em torno de 70%. Vamos ampliar de forma significativa a coleta exclusiva de vidro e inovar com a coleta verde, de restos de grama e podas.
Temos 28 pontos de entrega voluntária de vidro (PEVs). Estamos em negociação com empresa para aumentar em mais 20 e temos a possibilidade de aquisição imediata de mais 30 PEVs. Nosso objetivo é, no final do ano que vem, Florianópolis estar com 168 PEVs que é o cálculo para atender os principais pontos de geração de embalagens de vidro.
Quais são as linhas de atuação previstas para a Comcap?
São várias linhas de atuação. Tanto na questão do reciclável seco, quanto do reciclável orgânico e numa nova linha que a Comcap tem trabalhado que é o controle da informação.
Os índices que a Comcap apresenta hoje não são do município, mas apenas da Comcap. Pesa-se tudo o que passa pela balança da Comcap. Mas a meta de desvio do aterro sanitário é do município e não da Comcap, então temos de evoluir no controle da informação. A Comcap hoje desvia do aterro sanitário, por meio da reciclagem, 6% do total de resíduos coletados. Mas há outras empresas que atuam com grandes geradores, mantém contratos de destino só de papelão ou outros materiais. Essas empresas já fazem o trabalho de desvio de resíduos gerados em Florianópolis que também devem ser computados nesse índice.
Vamos alinhar e acertar o controle da informação para saber realmente quanto o município está desviando do aterro, por meio da reciclagem, e não exclusivamente a Comcap. Hoje o índice da Comcap é de 6%, mas somando-se o orgânico, papel e papelão, metal, acredita-se que deve passar de 10%.
Florianópolis já foi contemplada com recursos do Fundo Nacional de Meio Ambiente, com mais de R$ 1 milhão. A partir desse primeiro semestre, será implantada a coleta de orgânicos por pontos, é piloto ainda, mas vai contribuir muito para o desvio de resíduos orgânicos do aterro sanitário. Hoje são cinco toneladas por dia destinadas à compostagem só no Centro de Valorização de Resíduos (CVR) e a meta é dobrar para 10 toneladas dia só ali na Bacia do Itacorubi.
Essa coleta de orgânicos por ponto, pelo sistema público de coleta, é inédita no Brasil. O piloto vai abranger a Bacia do Itacorubi e região do Monte Verde. Vão ser disponibilizados pontos onde a pessoa levará o resíduo orgânico, a Comcap recolherá para tratar, através da compostagem no CVR. Nas bases Sul e Norte da Ilha, a Comcap vai atuar com parceiros, para também ampliar o processo de compostagem. Também será implantada, ainda no primeiro semestre, a coleta exclusiva de verdes. Foi uma surpresa perceber que 11% da coleta convencional são resíduos verdes, como grama e poda. Mandamos para o aterro em 2018, 193 mil toneladas, então em torno de 20 mil toneladas são resíduos verdes que pagamos para enterrar em Biguaçu. Se conseguir desviar isso do aterro, será matéria prima para compostagem. Se recuperar também os restos de alimentos por meio da compostagem nas casas e nas comunidades, Florianópolis poderá deixar de mandar 27 caminhões de lixo por dia para o aterro. Além de diminuir o custo com aterro, passaremos a gerar mais renda para empresas, associações, famílias.
Mapa dos resíduos movimentados em 2018 pela Comcap
Orgânicos encaminhados para compostagem 3,4 mil toneladas/ano ganhos de R$ 614 mil (R$ 520 mil em economia com aterro e R$ 94,5 mil em valor com cepilho e composto produzidos)
Coleta seletiva (porta a porta, pontos de entrega voluntária e Ecopontos) 12 mil toneladas/ano doação associações de catadores ganhos de R$ 6 milhões (R$ 1,8 milhão em economia com aterro e R$ 4,3 milhões em receitas geradas para 240 famílias que trabalham nas associações da Grande Florianópolis)
Coleta convencional (rejeito) 193,8 mil toneladas/ano custo destino final aterro sanitário = R$ 29 milhões.
Ciclo Floripa Lixo Zero meta 2030
Orgânicos encaminhados para compostagem 65,9 mil toneladas/ano ganhos de R$ 11,7 milhões (R$ 9,9 milhões em economia com aterro e R$ 1,8 milhão em valor com cepilho e composto produzidos)
Coleta seletiva (porta a porta, pontos de entrega voluntária e Ecopontos) 54 mil toneladas/ano doação associações de catadores ganhos de R$ 27,6 milhões (R$ 8 milhões em economia com aterro e R$ 19,4 milhões em receitas com encaminhamento para reciclagem)
Coleta convencional (rejeito) 89 mil toneladas/ano custo destino final aterro sanitário = R$ 13,5 milhões (redução de R$ 15,8 milhões em relação a 2018).
(PMF, 08/05/2019)
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1 Comentário
[…] O presidente da Autarquia de Melhoramentos da Capital Comcap, Márcio Luiz Alves, explica que o destino do resíduo é estabelecido dentro da casa de cada habitante, quando o separa em orgânico (restos de alimentos e de podas), reciclável seco (papel, plástico, metal e vidro) e rejeito (lixo sanitários e outros materiais para os quais não há ainda mercado de reciclagem), de acordo com publicação da FloripaAmanhã. […]