(Por Rafael Martini, Diário Catarinense, 01/06/2017)
Após revelar, com exclusividade, o furto do único computador do cemitério do Itacorubi com a lista dos nomes e sepulturas na terça-feira, relatos sobre o esquema que funciona naquela área publica chegaram à coluna. Há 17 anos a prefeitura de Florianópolis adia a licitação para prestação de serviços funerários. Uma demora inexplicável, mesmo para os padrões brasileiros de burocracia. Enquanto isso, quatro funerárias atuam no local e realizam uma espécie de autorregulação sobre valores do funeral e respectivos encaminhamentos. Na ausência de um servidor municipal para operar a central de óbito, função exclusiva do poder público, disponibilizam até um funcionário para a função.
As denúncias sobre vendas de túmulos, realizadas por até R$ 15 mil, acumulam-se e já estão sendo investigadas pelo Ministério Público, além de outras irregularidades já documentadas. Um verdadeiro mercado paralelo foi montado por aproveitadores autônomos que frequentam a área e conhecem os trâmites, com possível anuência inclusive de servidores. Tentam fisgar os clientes exatamente na hora em que as pessoas estão mais fragilizadas e em busca de apoio. Oferecem velas, flores e até tampos decorados para as sepulturas. Tudo é negociável. Um fiscal da prefeitura bate ponto lá diariamente, mas ao que parece o bloco de notas das autuações sobre eventuais irregularidades segue em branco.
Paralelamente a isso tudo, o grau de abandono do cemitério impressiona. As obras das 560 novas gavetas estão paradas desde novembro. Por conta da estrutura inacabada foi constatado elevado nível de necrochorume, resíduo que vaza por causa da falta de vedação das sepulturas. Um estudo será apresentado agora em junho e os níveis foram considerados muito acima do aceitável.
Os relatos são escandalosos, mas ao que parece não interessa à Câmara de Vereadores. Na sessão de terça-feira, um simples pedido para que a prefeitura apresentasse explicações sobre os problemas do maior cemitério da Capital foi rejeitado pelos parlamentares. Renato Gerske (PSOL) chegou a sugerir em plenário um possível interesse de colegas que reiteradamente negam-se a investigar um tema tão sensível à cidade.
Aliás
João Cobalchini, secretário-adjunto de Meio Ambiente, Planejamento Urbano e Desenvolvimento, disse nesta quarta em entrevista à RBS TV que os dados com nomes e localização das sepulturas, arquivados no computador furtado, também constam num livro de registros. Detalhe: as informações foram atualizadas somente até 2013. De lá para cá não existe outro livro com dados sobre quase 3 mil pessoas. O único arquivo era do micro que sumiu. Imagine só agora para encontrar alguém naquele labirinto com 36 mil sepulturas.
Enquanto isso
A prefeitura disse que está investigando as denúncias e pretende tomar medidas nos próximos dias. Até mesmo uma espécie de intervenção para levantar todas as irregularidades está sendo avaliada. Que seja rápida, porque os relatos vão além da esfera administrativa e podem acabar virando caso de polícia
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