Desperdício
29/09/2015
Um monumento ao desperdício
29/09/2015

Vanguarda do atraso

(Por Sergio da Costa Ramos, DC, 29/09/2015)

Passam os anos e as gerações, e a Ilha-Capital continua sem uma sala condigna para recepcionar suas visitas. É inacreditável o imbróglio envolvendo TCU, Infraero, governo federal e a passiva indiferença das autoridades estaduais e municipais.

O aeroporto Hercílio Luz está “no limbo”, como diagnosticou o deputado Esperidião Amin. Além do buquê de entidades ambientalistas que tentam “embromar” a rodovia de acesso e o novo terminal, há uma inenarrável inércia por parte da burocracia estatal.

Só falta ao malsinado aeroporto retroagir ao final dos anos 1920, quando Antoine de Saint-Exupéry aterrissava, às vezes já sem luz natural, numa pista debruada de archotes embebidos em óleo de baleia. No galpão de madeira da Latécoère, futura Air France, dois manezinhos da Ilha valiam-se da única “infraestrutura” presente na gare de passageiros: dois bules fumegantes, um de chá, outro de café.

Quando o cirurgião paulista Roldão Consoni desceu de um Douglas DC-3 da Panair do Brasil, em 1942, o aeroporto era o mesmo, com mais um “puxadinho” improvisado como balcão de atendimento. Mais 20 anos, em 1962, o governador Celso Ramos recepcionou o príncipe Philip, da real casa de Windsor, numa estação assemelhada a um barraco de zinco, ao lado da base aérea. Tomaram chá e conversaram por 40 minutos – o príncipe chegou a recusar uma carambola – tempo consumido para o reabastecimento do Viscount da Royal Air Force, a caminho da Argentina. A estação de passageiros não podia ser mais provinciana: uma meia-água de alvenaria e zinco, removida da paisagem só lá pelos anos 1980.

Vizinho de aeroportos futuristas, como o Afonso Pena de Curitiba e o Salgado Filho de Porto Alegre – há 20 anos entre os maiores e mais funcionais do país –, o Hercílio Luz, primo pobre, vive de meias-solas, desmazelos e negligências. De aeroporto internacional só tem o nome.

Um dia – quando? – os atuais e acanhados seis mil metros quadrados passarão para cerca de 22 mil, com dezenas de pontos de check e pelo menos quatro fingers, para o acesso às aeronaves. Mas o novo terminal, concebido em 2001 para ser inaugurado em 2007 – e, depois, “barrigado” para 2010 –, agora, é esperado só para a terceira década do século 21.

Sob o olhar inerte dos administradores, perpetua-se no sul da Ilha a vanguarda do atraso.

 

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