Criadas com o intuito de desatar os nós da mobilidade urbana na Região Metropolitana de Florianópolis, propostas elaboradas pelo Plamus (Plano de Mobilidade Urbana Sustentável da Grande Florianópolis) pretendem – dentro de cronogramas de curto, médio e longo prazo – devolver à Capital e municípios do entorno uma condição de desenvolvimento e qualidade de vida baseada principalmente no uso massivo do transporte coletivo. O estudo, que diagnosticou os principais problemas de mobilidade urbana da região, entra agora em uma fase decisiva, onde a equipe do Plamus avaliará as melhores formas de implantar soluções para tentar colocar fim aos gargalos nos próximos anos.
Segundo os dados levantados pelo Plamus, os problemas de mobilidade enfrentados atualmente têm origem, dentre outros fatores, no modelo de crescimento urbano com base na concentração de empregos e serviços no Centro da Capital, provocando grandes movimentos pendulares diariamente. “No Continente temos mais moradia do que emprego, enquanto na Ilha ocorre o contrário. No longo prazo, o Plamus pretende implantar mais opções de indústrias e empresas na área continental”, expõe Murilo Flores, secretário de Estado de Planejamento, que ao lado de Cassio Taniguchi, superintendente da Região Metropolitana de Florianópolis, concedeu entrevista aos veículos do Grupo RIC na manhã de ontem.
Na travessia das pontes Pedro Ivo e Colombo Salles, por exemplo, 85% das viagens são de pessoas que moram no Continente e trabalham ou estudam na Ilha, e mais da metade dessas pessoas fazem esse percurso de automóvel ou motocicleta. Também nas pontes o Plamus observou que as travessias estão com 99% das capacidades saturadas.
Em resumo, o estudo, embrião de futuras ações, centra a maioria das iniciativas no modal ônibus, na tentativa de construir alternativas ao carro por meio de um transporte coletivo de qualidade, com eficiência e conforto. “Encerramos os diagnósticos e agora buscaremos a melhor forma de viabilizar as ações. Uma medida em análise para ser implantada em 2015 é a implantação de faixas reversíveis nas pontes até a BR-101, sempre em horários de pico e de acordo com o fluxo mais intenso de cada período do dia”, avalia Taniguchi, ex-prefeito de Curitiba.
Taniguchi pondera a necessidade de haver negociações com o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) para pôr em prática a faixa reversível. “Precisamos tratar das questões dos acessos, da sinalização e da fiscalização nas transversais à Via Expressa. Precisamos de uma gestão inteligente”, diz.
Uso de BRTs e sistema de transporte coletivo troncal “2 H”
A grande aposta do Plamus para resolver o problema da mobilidade urbana na Grande Florianópolis é a implantação do sistema BRT, sigla em inglês para trânsito rápido de ônibus. O BRT, destacou Cassio Taniguchi, trata-se de um novo conceito de transporte com ar-condicionado, conforto, segurança, regularidade nos horários, boa frequência e plataforma de embarque acessível, reduzindo o tempo de embarque.
Além disso, o BRT é mais flexível porque não está atado a trilhos e pode ter suas rotas rapidamente expandidas ou alteradas. Com o BRT, o Plamus espera diminuir em média cinco minutos as viagens de ônibus na região metropolitana. “O BRT tem custo e velocidade de implantação mais interessantes do que o VLT (veículo leve sobre trilhos), cuja implantação não seria viável para a realidade da região”, diz Taniguchi.
“2 H” é o nome que os especialistas do Plamus atribuíram ao modelo de sistema troncal integrado de transporte de grande capacidade entre os municípios da Grande Florianópolis. O termo surgiu da imagem evocada pelo traçado das vias que estabelecem novos eixos que visam reestruturar as relações entre os municípios margeados. O novo sistema ligará Norte e Sul da Ilha e Norte e Sul do Continente, com uma conexão entre eles, criando uma forma parecida com a letra “H”.
Para garantir o crescimento ordenado da região continental, a proposta prevê a implantação de um novo eixo de transporte de média capacidade, no sentido Norte-Sul a Oeste da BR-101. Vai interligar os municípios de Palhoça, São José e Biguaçu, articulando as relações entre os municípios do continente, promovendo acessibilidade para as áreas além da BR-101.
Sistema de gestão integrada
O superintendente Cassio Taniguchi ressalta a importância de haver engajamento dos prefeitos dos municípios da Grande Florianópolis em tornar possível o planejamento de uma agenda para construção de um sistema de gestão integrada. Pré-requisitos como reestruturação das concessões de ônibus no Continente, para incluir a nova visão integrada e metropolitana da mobilidade, por exemplo, estão sendo alinhados com os prefeitos de Florianópolis, São José, Biguaçu e Palhoça. “Além disso, o recém-criado estatuto da metrópole melhorou as condições para operações urbanas consorciadas. Vamos buscar também uma ampla comunicação com a população, com os usuários dos sistemas de transporte, para colocar em ação soluções realmente atrativas e competitivas”, afirma Taniguchi.
Questionado sobre o prazo para abrir edital de licitação no sistema de transporte intermunicipal de passageiros da Grande Florianópolis, o secretário Murilo Flores calculou que em quatro ou cinco anos será possível implantar um novo sistema na região. Após essa implantação, ele lembra que o contrato entre a Prefeitura de Florianópolis e o Consórcio Fênix, que tem duração de 25 anos, terá que ter suas atuais bases renegociadas para estar de acordo com o que se planeja para a região metropolitana. “Em um sistema interligado é preciso que as cidades trabalhem a questão do transporte de forma integrada e alinhada”, pontua.
Uso do carro em Florianópolis acima da média nacional
Os resultados dos levantamentos realizados pelo Plamus apontam o alto percentual de utilização de meios de transporte individual, como carros e motos, chegando a 48% em comparação com o transporte coletivo, com 24%, e os pedestres e ciclistas que somam 25% dos deslocamentos diários. O índice de transporte individual na Capital é o mais alto no Brasil. “Estamos muito acima da média nacional revelando um uso ineficiente da infraestrutura disponível”, observa Cassio Taniguchi.
Por outro lado, o sistema de ônibus nesse mesmo trajeto está subutilizado, operando com apenas 60% de sua capacidade. Estudos detectaram também características do sistema de transportes coletivos que levam à baixa adesão, como irregularidade nos horários, baixa frequência e indução a deslocamentos desnecessários como, por exemplo, ao fazer um trajeto entre dois pontos do Continente.
Muitas vezes o usuário deverá, para isso, se deslocar ao Ticen, onde terá que fazer uma baldeação para retornar ao Continente, no destino desejado. O tempo médio gasto nas viagens, relativamente a outras alternativas, como os automóveis, também foi identificado como um fator de forte desincentivo ao uso do transporte público. “Enquanto em média os deslocamentos em automóvel levam 30 minutos, o transporte coletivo tem o dobro deste tempo”, revela o secretário Murilo Flores.
O estudo
O estudo é proveniente de um acordo de cooperação técnica entre o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e o Estado de Santa Catarina, por meio da SC Parcerias, e foi desenvolvido por um consórcio contratado diretamente pelo BNDES, por meio do FEP (Fundo de Estruturação de Projetos). O consórcio formado pelas empresas Logit Engenharia, Strategy & e Machado Meyer Advogados, coordenou os estudos, levantamentos, análises e proposições que resultaram em um trabalho pioneiro no Brasil. Foi o primeiro estudo focado em mobilidade urbana com abrangência regional desenvolvido pelo BNDES por meio do FEP, e a expectativa do banco é que a metodologia possa ser aplicada nos demais municípios e regiões metropolitanas do país.
O Plamus fez no ano passado um levantamento de dados sobre a mobilidade urbana em 13 municípios da Grande Florianópolis: Anitápolis, Rancho Queimado, São Bonifácio, Angelina, Antônio Carlos, Águas Mornas, São Pedro de Alcântara, Santo Amaro da Imperatriz, Biguaçu, Governador Celso Ramos, São José, Palhoça e Florianópolis. As pesquisas foram realizadas durante o verão, para análise da movimentação na alta temporada de turismo e no período normal. Foram visitados mais de 5.400 domicílios para entender o perfil de mobilidade das pessoas, além das pesquisas de contagem e fluxo de veículos em diversos pontos da região metropolitana e minuciosas pesquisas no sistema de transporte coletivo.
Ações de curto prazo
Ligação Ilha-Continente
– – Implantação de faixas reversíveis nas pontes e na Via Expressa nos horários de pico
– – Redução de velocidade, canalização e organização do fluxo nas pontes e vias de acesso
– – Corredores de ônibus nas vias de acesso às pontes
– – Implantação de pórticos indicando pistas abertas e fechadas
– – Melhorias na gestão operacional nas pontes
– – Revitalização de ruas no Centro de Florianópolis
Ações de médio prazo
– – Transporte aquaviário como complemento ao transporte público coletivo
– – Expansão das redes de ciclovia
– – Implantação de zonas 30 e ruas completas (calçadas, ciclovias e vias para automóveis)
– – Implantação do BRT
– – Reestruturação das concessões do transporte público coletivo
– – Melhorias na gestão do tráfego nos municípios da Grande Florianópolis
Ações de longo prazo:
– – Incentivo à criação de empregos em toda a região metropolitana, buscando equilíbrio entre moradia e emprego
– – Soluções integradas para problemas comuns dos municípios da região metropolitana
(Notícias do Dia Online, 11/03/2015)
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