Problemas na qualidade da água fornecida e no tratamento de esgoto em Florianópolis resultaram em mais de R$ 11 milhões em multas à Casan (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento) pela Prefeitura da Capital desde 2008. Altos índices de alumínio e coliformes encontrados nas amostras coletadas por equipes da Secretaria Municipal de Saúde justificaram a maior parte das punições. A concessionária informa que os altos índices de alumínio na água só devem ser sanados após a conclusão de obras na ETA (Estação de Tratamento de Água) José Pedro Horstmann, localizada no Morro dos Quadros, em Palhoça. As multas estão sendo discutidas na Justiça.
Todos os meses, equipes do Lamuf (Laboratório Municipal de Florianópolis) coletam amostras de água de 59 pontos da Capital. O resultado é enviado para a Diretoria de Vigilância Sanitária e Ambiental, que publica o resultado no site da prefeitura. Diversos tipos de bactérias e compostos químicos adicionados na água são mensurados.
Na última pesquisa divulgada, em novembro de 2013, os líquidos coletados nos bairros Córrego Grande e Saco dos Limões apresentaram quantidade de alumínio acima do permitido pelo Ministério da Saúde: 0,2 mg/l (miligramas por litro). “Esse trabalho faz parte do projeto Vigiágua, de iniciativa do governo federal. As multas são consequência da falta de resposta que temos da Casan. Eles não conseguem manter a qualidade do serviço”, explicou Artur Jorge Amorim Filho, diretor de Vigilância Sanitária e Ambiental de Florianópolis.
De acordo com Artur, a soma das multas aplicadas desde 2008 ultrapassou a quantia de R$ 11 milhões. “A maior parte é por causa da péssima qualidade da água fornecida para as pessoas. Também houve irregularidades no tratamento de esgoto, e também na sua destinação. Os valores só chegaram a esse ponto por esses erros serem sistemáticos”, afirmou.
Solução apenas no segundo semestre
Apesar do alto valor, a Casan ainda não pagou um centavo referente a multas aplicadas pela Vigilância Sanitária e Ambiental da Capital. A concessionária recorreu de todas as punições na Justiça. Para José Luciano Soares, chefe do setor de qualidade de água e esgoto da Casan, os problemas devem continuar nos próximos meses. “Infelizmente, a questão da quantidade de alumínio só será resolvida quando a obra na ETA de Palhoça for concluída, o que só deve ocorrer em agosto deste ano”, disse.
Engenheiro químico, Soares explica que a estação José Pedro Horstmann precisa de um sistema que separe o alumínio usado para diminuir a sujeira na água. “Quando chove, a água fica mais turva, então usamos uma solução de sulfato de alumínio para melhorar a coloração do conteúdo. No entanto, depois o alumínio decanta e nós não temos como retirar esse resto porque a estação de tratamento não tem estrutura para isso. Ela foi construída há mais de 20 anos. Por isso, até a obra ser concluída, essa situação não vai mudar”, contou.
Ferver água não evita problemas com alumínio
Excesso de alumínio e coliformes, além de falta de cloro na água, podem causar sérios problemas para os consumidores. Para evitar riscos à saúde, a coordenadora do curso de oceanografia da Univali e doutora em química orgânica, Kátia Naomi Kuroshima, dá algumas dicas aos usuários do serviço da Casan. A única exceção é o alumínio, que só pode ser retirado da água por meio de processos químicos. Algumas pesquisas já relacionaram o consumo do metal a doenças que afetam o sistema nervoso, como Alzheimer e Parkinson.
Coliformes totais e fecais foram encontrados em amostras estudadas pelo Lamuf. Nesses casos, para evitar problemas de saúde, Kátia sugere uma solução bem simples: “Como os coliformes são bactérias, eles morrem após ferver a água. Essa é a primeira coisa que uma pessoa deve fazer antes de consumir a água”.
Mas a fervura é insuficiente se a contaminação for por outras substâncias. “O alumínio é um metal que o organismo não consegue eliminar com facilidade. Ele fica por vários anos no corpo depois de ingerido. Se isso ocorrer por alguns dias, não há tanto problema. Mas, se for por um longo período, alguns estudos defendem que a pessoa pode sofrer doenças bem sérias que afetam o sistema nervoso”, disse.
A professora explica por que o alumínio é usado no tratamento de água. “O sulfato de alumínio funciona como um imã para a sujeira. Quando a água está turva, usa-se essa solução para ‘limpar’ a água. Mas o alumínio decanta e depois precisa ser filtrado. Muitas estações de tratamento não fazem isso”, detalhou.
(Notícias do Dia, 14/01/2014)
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