Em um passeio no centrinho da Lagoa da Conceição, o estudante de engenharia elétrica, Gabriel Costa, não pode admirar a paisagem como gostaria. A imagem que ele vê é uma grande quantidade de espuma em meio ao lixo das margens. “O cheiro é desagradável e o visual que é lindo acaba ficando feio”, relatou o estudante, que tem critérios na hora de ir para a praia na Ilha. “Gosto de surfar, então sempre busco as mais limpas”, argumentou.
Mais da metade dos pontos analisados pelo último relatório no local é imprópria. O documento foi divulgado em 27 de setembro. Em comparação com o mesmo período do ano passado, o aumento de pontos contaminados é de 53,8%, sete a mais. No total, das 64 análises coletadas, 20 pontos têm problemas. Dos nove locais coletados na Lagoa, cinco são impróprios, três a mais que no mesmo período do ano passado e dois em relação a março deste ano, último relatório do verão emitido pela Fatma.
A pesquisa de balneabilidade monitora a qualidade da água do mar para o banho. Em todo o Estado, são 200 pontos, 64 só em Florianópolis, e mais de 7.200 análises que identificam a existência e a quantidade de coliformes fecais e totais no mar. Além da Lagoa, as praias dos Ingleses e Campeche também têm análises negativas. No relatório de 2012, os pontos da praia no Sul da Ilha eram todos próprios para o banho, porém nos outros dois relatórios, um aparece como impróprio. Nos Ingleses, os cinco pontos analisados em 2012 estavam limpos, dessa vez, apenas três continuaram com a certificação.
Clima influencia na análise
O oceanógrafo e analista técnico de gestão ambiental da Fatma, Carlos Cassini, afirmou que as questões climáticas influenciam na análise feita pela pesquisa de balneabilidade. No inverno, a quantidade de chuva e o vento Sul são fatores que contribuem para deixar a água mais limpa. “A chuva torna a vazão da água mais fácil e o vento segura na costa a água de rios e riachos, que é a que contém o esgoto”, observou Cassini. No verão, o turismo é um fator que possibilita o aumento de números de pontos impróprios. “Há mais pessoas produzindo esgoto e a rede de coleta não dá conta, levando os resíduos para a praia”.
Durante sete meses do ano, a análise da água é feita mensalmente. A partir de novembro, os cinco meses da temporada de verão têm relatórios semanais. Uma dica do analista técnico aos banhistas é ficar de olho nos locais que oscilam na qualidade da água. “Se muda muito entre própria e imprópria é porque este local está sujeito a receber grande quantidade de esgoto em qualquer chuvarada. É preciso desconfiar”, orientou.
Apesar de importantes, os dados servem apenas como monitoramento. Ações para resolver os problemas ficam sob responsabilidade dos municípios e representam um grande desafio ao poder público no país todo.
Rede de coleta de esgoto abrange 56% da população na Capital
A falta de tratamento de esgoto não é um problema exclusivo de Florianópolis. A Capital conta com 56% da população urbana atendida pela rede de coleta e tratamento de esgoto sanitário, conforme dados da Casan. Estão previstos investimentos de R$93 milhões em esgotos para os próximos anos em Florianópolis, financiados pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e mais R$12 milhões pelo PAC II, além de R$19,3 milhões em recursos próprios. A expectativa, segundo a Casan, é aumentar o percentual de cobertura com rede de coleta e tratamento de esgotos para 75% da população urbana do município e 100% da parte continental da Capital com a conclusão das obras.
A prefeitura de Florianópolis tem como principal projeto o “Floripa se Liga na Rede”, que prevê o aumento da fiscalização de esgotos irregulares nas praias. O projeto é desenvolvido pela Secretaria de Habitação, em parceria com a Vigilância Sanitária, Floram (Fundação Municipal de Meio Ambiente) e Casan e tem prazo de cinco anos para execução. “Estamos montando a equipe técnica e a partir da primeira quinzena de outubro vamos iniciar o trabalho nos locais mais críticos, Canasvieiras, Ingleses e Lagoa da Conceição, com prazo de 12 meses para finalizarmos”, destacou o secretário de Habitação, Rafael Hahne. Segundo ele, o projeto vai fiscalizar e vistoriar as instalações que existem para ver se estão adequadas.
(ND, 01/10/2013)