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Aeroporto impulsiona o crescimento do bairro Carianos no Sul da Ilha

Há cinquenta anos, os moradores do bairro Carianos não imaginavam que a região se tornaria uma das mais movimentadas da cidade, muito menos que um empreendimento mudaria a vida da comunidade. Na próxima terça-feira, dia 15, o governador Raimundo Colombo assinará a ordem de serviço para o início da construção do novo acesso ao aeroporto de Florianópolis e mais uma vez a área será expandida. Seu Tuca, nativo do Carianos registrado como Osnelito Ambrosenio Martins, aguarda com expectativa a mudança na comunidade, assim como na década de 1960, quando foi instalado no bairro o primeiro aeroporto de Florianópolis.

Ele nasceu em março de 1946, na casa dos pais, próximo ao atual aeroporto, com auxílio de uma parteira. Não tinha luz, nem transporte público. A terra era de chão batido e a maioria dos trajetos era feito a pé ou de bicicleta. A chegada da energia elétrica causou estranhamento: “A gente achava estranho, não tinha mais aquela fumaça da lamparina no nariz. Era engraçado, ficávamos imaginando como a luz chegava ali”, recordou.

Hoje, quem corre às pressas até o sul da ilha para não perder o voo e reclama do movimento e trânsito congestionado até o aeroporto, pode não imaginar como era a área do aeroporto antigamente. Era uma região pacata, onde todos se conheciam. Uma grande fazenda, rodeada por mangue e habitada por pequenos núcleos familiares que viviam basicamente do que era produzido na terra, especialmente dos engenhos de Farinha.

Terminal de passageiros mudou a vida da comunidade

Em 1922 tudo começou a mudar. Um decreto nacional estabeleceu o Sistema de Defesa aérea do litoral do Brasil com bases navais e uma dessas bases foi instalada na Capital no ano seguinte. Hoje a história do bairro se confunde com a do próprio aeroporto que promoveu o desenvolvimento, geração de emprego e inúmeras mudanças na região e na vida das famílias que ali nasceram.

A região da Ressacada foi escolhida para a instalação da base aeronaval por ser uma área plana, afastada dos morros e de ventos fortes, na época a aviação era feita apena por hidroaviões. Só na década de 1950 o primeiro terminal de passageiros começou a ser construído. Em 1955 o aeroporto tinha uma torre de controle, uma pista de concreto de 1500 x 45 metros e um pátio gramado para estacionamento de aeronaves.

Seu Tuca sempre trabalhou em um engenho de Farinha, seu primeiro registro na carteira de trabalho foi como servente de pedreiro na construção da pista do aeroporto Hercílio Luz. Ele lembra que faltava mão de obra e quase todos os vizinhos e amigos de infância trabalhavam ali. Depois serviu no setor de serviços gerais do aeroporto, foi engraxate e “carregador de mala”, como ele mesmo descreve. Com as malas ganhava apenas gorjetas, mas foi trabalhando assim que ele conheceu algumas personalidades das quais não esquece jamais: Sergio Reis, Tinoco, e Chitaozinho, Sandy e Junior.

Dono das terras do aeroporto

No fim da década de 1960 Seu Tuca conheceu Lourenço Calandrini de Azevedo Coelho, um soldado da base naval que veio de Belém do Pará com a família para servir na base da Ressacada em Florianópolis. Ele chegou à Capital em 1928 e comprou terras no entorno da base aérea. Tenente Calandrini, como ficou conhecido, era especialista em manutenção de aeronaves e se tornou piloto. Conta-se que em uma das últimas viagens do aviador Saint-Exupéry à Florianópolis, o tenente o teria recebido e avaliado seu avião.

Por meio de um processo e acordo de desapropriação, as terras em que Calandrini criava galinhas, gado e tinha toda espécie de fruta, foram cedidas ao governo para a construção do aeroporto da Capital onde está hoje. Em 1976 o aeroporto passou à jurisdição da Infraero, mesmo ano da morte do tenente, que não pôde ver o crescimento que o terminal trouxe à comunidade.

Helio Pietrowsky Calandrini Coelho, neto do tenente, vivia na chácara dos avós com seus pais e irmãos. Ainda pequeno viveu o começo da mudança que o aeroporto trouxe à região. Ele guarda as boas referências que o fizeram buscar um caminho semelhante ao do avô. “É Coisa de sangue, sem dúvida cada pouso e decolagem influenciaram na minha vida”, relatou. Aos 18 anos se alistou na aeronáutica e serviu como bombeiro. Há 21 anos trabalha Infraero, na gerência de operações. Orgulhoso da história de família acredita que o aeroporto naquela área foi a oportunidade do bairro se desenvolver e “revolucionou a comunidade”.

O carregador de malas queria ter voado

Aos 66 anos Seu Tuca aprova o crescimento e desenvolvimento da comunidade em torno do aeroporto, mas lamenta uma coisa: não poder mais pescar na Praia do Baixio. O balneário que foi área de lazer e trabalho dele, hoje fica no pátio da base aérea e tem acesso restrito. Ali ele aprendeu a fazer tarrafa, mas com a dificuldade de acesso e a morte do seu irmão e parceiro de pescaria em 1994, desistiu da pesca.

Hoje, ao entrar no aeroporto, ele fica impressionado com o tamanho do local e de pensar o terminal não supre mais, está pequeno para a quantidade de pessoas que circulam por ali. lamenta por não ter estudado além da terceira série. Apesar de ter ajudado a construir a estrutura e história do aeroporto e ter entrado e saído de tantos aviões enquanto trabalhou na limpeza e organização das aeronaves em terra, Seu Tuca nunca embarcou para uma viagem aérea, um sonho distante para ele.

As únicas vezes que saiu de Florianópolis foi para Curitiba e Porto Alegre, a trabalho e de carro num “bate-volta”. O antigo pescador não tem ideia de como é ver de cima o seu bairro, o aeroporto e o mar onde costumava pescar, também não consegue descrever o que imagina ou como seria se um dia pudesse voar. Emocionado ele diz que não tem destino, mas sente-se feliz por ainda fazer parte dessa história e poder viver mais uma vez este momento de mudança, que ele acredita que será bom.

Obras do novo aeroporto e novo acesso

O novo aeroporto será construído em duas partes, primeiro será a parte de infraestrutura, trabalhos de pista e pátio e em seguida no terminal propriamente. As obras de terraplenagem de todo o empreendimento, construção de pátio de estacionamento de aeronaves, pista de taxi way, pistas de rolagem e estacionamento de veículos iniciaram em julho de 2012. As máquinas estão finalizando a terraplenagem da área onde será feita a construção do terminal, prevista para iniciar no dia 15 de fevereiro.

Esta etapa da obra de construção do novo complexo terminal de passageiros do Aeroporto Internacional de Florianópolis custará R$ 188 milhões e tem previsão de ficar pronta no segundo semestre de 2014. O novo terminal terá 35.817m² e possibilitará o atendimento de 6,7 milhões de passageiros por ano.

As obras do novo acesso serão divididas em dois lotes. O primeiro trecho inicia no trevo da Seta e vai até o bairro Carianos, contornando o estádio da Ressacada, onde a via já existente será duplicada. O segundo trecho é a intersecção com a SC 405 que inicia próximo ao trevo de acesso ao Campeche e Tapera, e segue até a área onde será futuro aeroporto. O projeto prevê ainda a elevação e ampliação da ponte sobre o Rio Tavares em 30 metros. O governo do Estado investirá 65,7 milhões em oito quilômetros de rodovia.

(ND, 14/01/2013)

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