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Balanço dos catarinenses sobre o documento da Rio+20

A conferência Rio +20 terminou sexta-feira no Rio de Janeiro e, de modo geral, com um balanço positivo, mas com ressalvas, de instituições governamentais e não governamentais de diferentes segmentos da sociedade catarinense. O fato de debater e expor questões sobre a erradicação da pobreza e, principalmente, sobre o desenvolvimento sustentável durante dez dias foi produtivo no ponto de vista de todos. Para essas instituições catarinenses, o assunto em destaque no mundo durante os 10 dias da Rio+20 trouxe maior consciência e mobilização a respeito das causas negociadas na conferência.
Apesar disso, para as entidades catarinenses, o texto final deixou a desejar em alguns pontos. A queixa principal é a falta de envolvimento e comprometimento dos países e de ações mais práticas sobre as questões discutidas durante as negociações. Muitos conceitos foram revistos, mas houve pouco avanço nas ações, nas agendas e cronogramas definidos.
A Cúpula Mundial dos Estados e Regiões abriu oportunidades e foi elogiada, assim como a Cúpula dos Povos, eventos paralelos à Rio+20. A Cúpula dos Estados começou no dia 15, organizado por entidades da sociedade civil e movimentos sociais de diferentes países. Para as entidades, estas reuniões tornaram a participação da sociedade civil mais efetiva, permitindo organizações e mobilizações sobre propostas de ações mais palpáveis do que as poucas estabelecidas entre os países. A seguir, os depoimentos das instituições consultadas.
“A expectativa foi frustrada em relação aos chefes de Estado. O compromisso político global foi fraco, faltaram ações mais concretas. Houve pouco acréscimo ao que já estava sendo feito desde a Rio 92. Como as conferências anteriores já foram conceituais, esperávamos ações mais objetivas, a definição de um certo padrão global. Por outro lado a Cúpula Mundial dos Estados e Regiões foi algo inovador. É um novo espaço de poder político se engajando e assumindo compromisso para o desenvolvimento sustentável. Houve uma significante mobilização dos participantes regionais com debates e propostas de ações reais à ONU” – Murilo Flores, presidente da Fatma.
“Não é fácil caminhar rápido num grupo de ações tão grande, é como coordenar os passos de uma centopeia. Mas o debate é fundamental para manter o assunto vivo. Entramos nos grupos sub nacionais, regionais, que tem uma agenda mais realista. De modo geral foi produtivo, não havia expectativa de mecanismos efetivos de todos os países, então conquistamos mais ganhos do que poderíamos imaginar. O processo dos países é sempre mais lento, não envolve apenas questões de sustentabilidade, entram também disputas comerciais políticas. Os Estados e municípios são a base e nós estamos fazendo nossa parte” – Paulo Bornhausen, Secretário de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável.
“O resultado é positivo pela discussão sobre o meio ambiente, preservação e biodiversidade. Independente do texto final é importante ter este apelo, mesmo que seja temporário. O que deixou a desejar foi a falta de compromisso dos países com as metas de redução e de diversas ações que devem ser tomadas, os objetivos foram jogados para outros eventos. A conferência serviu também para mostrar que há um descaso em relação aos órgãos ambientais do Brasil, se comparado a outras instituições em nível mundial. Este apelo da conferência sensibiliza, traz mais valorização e faz o nosso trabalho mais conhecido no país”, Ricardo Castelli Vieira, coordenador regional do ICMBio em Florianópolis.
“A Rio+20 não atendeu às expectativas. O texto base da conferência, elaborado nos últimos meses em encontros preparatórios, já era fraco e em nome do sucesso diplomático o Brasil cortou os poucos pontos mais relevantes do documento. O que a Rio+20 entrega é um conjunto de promessas sem metas ou compromissos concretos. Mas isso não significa foi um fracasso. Devido à intensa cobertura da grande mídia e aos eventos paralelos, a popularização de temas como eficiência energética, uso sustentável de recursos naturais e tratamento de resíduos deu um grande salto em poucos dias. Isto é uma grande conquista.” – Rui Fernando Müller, diretor executivo do Instituo Carbono Brasil.
“Não estivemos diretamente envolvidos na conferência, mas sempre esperamos mais. Eu almejava ações mais efetivas, palpáveis. Porém, o que vemos são declarações que não dizem muita coisa, não há maior compromisso dos países, ficou superficial, aquém das expectativas. A intenção é muito boa, mas na prática infelizmente não acontece como deveria. Tomara que desta vez, a partir do que está saindo desta conferência, seja diferente. Temos que acompanhar de perto pra saber se haverá resultados e fazer pressão política para alcançar os objetivos”, Karina Groch, diretora do Projeto Baleia Franca.
“O Brasil teve a oportunidade de mostrar o que fez nos últimos 20 anos e em minha opinião teve avanços enormes. O evento foi altamente positivo. O Desenvolvimento Sustentável está consolidado e no setor industrial é um tema estratégico. A Rio+20 mostrou que a questão é ampla e proporcionou discussões sobre a inclusão social, que é parte importante no desenvolvimento. A credito que o padrão de consumo, discutido durante a conferência, será pauta do dia a dia, é difícil implantar, mas devemos continuar discutindo. O único item que ficou pendente é a falta de compromissos mais claros na alocação de recursos dos países desenvolvidos aos subdesenvolvidos”, José Lourival Magri, presidente da câmara de qualidade ambiental da Fiesc
“A expectativa agora é positiva. Não é possível agradar a todos, mas participei junto com a confederação nacional de agronegócio e pecuária do Brasil e em relação a nossa área foram apresentados avanços, especialmente a partir de Santa Catarina. A presença do Brasil como anfitrião rendeu essa imagem de país consciente, que buscará avanços econômicos sem prejudicar o sistema ambiental. Os termos do documento que foi aprovado estão dentro da realidade atual. Fica a ressalva de que sempre se espera muito mais, porém acredito que foi feito o que era possível para o momento”, José Zeferino Pedrozo, presidente da Federação da Agricultura de Santa Catarina.
“Um dos aspectos mais positivos da Rio+20 foi o reconhecimento do Brasil como um dos países que tem a sua matriz energética limpa – composta, em sua maioria, por energia limpa, renovável. Nós, da Eletrosul, que retornamos à geração de energia, após a perda de nosso parque de geração, há 12 anos, quando foi privatizado, temos orgulho de poder contribuir para o desenvolvimento sustentável, com a produção de energia limpa, tanto hidráulica quanto de outras fontes renováveis, como a produção eólica e solar. Vamos continuar contribuindo, a partir de novos projetos que utilizem energia limpa, em implantação e também prospecção.” – Eurides Luiz Mescolotto, presidente da Eletrosul.
(ND, 23/06/2012)

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