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Estaca da Ponte Hercílio Luz segue desaparecida

Aparelhos estão sendo aguardados para auxiliar na busca do pilar que afundou na quarta-feira
Aparelhos de filmagem e fotografia estão sendo aguardados para auxiliar na retirada do pilar que afundou na quarta-feira, e que está sendo usado na restauração da Ponte Hercílio Luz, em Florianópolis. Ontem, por causa do mar agitado, mergulhadores não conseguiram seguir com os trabalhos.
Só com a retirada da coluna será possível fazer a perícia, que vai apontar o que pode ter acontecido. Assim será possível, também, saber se será necessário fazer análise nos outros três pilares próximos ao que afundou e que foram fixados numa mesma profundidade (cerca de 36 metros, até a rocha). Hoje, os mergulhadores vão continuar tentando chegar à estaca, que deve estar a 24 metros de profundidade.
O Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra) e a empresa responsável pela obra, Consórcio Florianópolis Monumento, aguardam o laudo. Em entrevista coletiva, na quarta-feira, o presidente do Deinfra, Paulo Meller, disse que pode ter havido um acidente com a estrutura, ter sido levada pela correnteza, ou ter havido falha na execução da obra.
Especialistas opinam sobre o que pode ter ocorrido
O engenheiro Júlio Timerman, especialista em pontes e delegado regional da Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural, aponta alguns problemas que podem ter ocorrido. Ele explica que estacas resistem a forças verticais, mas que movimentos feitos na horizontal podem derrubá-las.
– São 36 metros onde as forças do mar podem atuar de maneira horizontal. Até mesmo uma embarcação pode ter batido na coluna e derrubado – avalia.
Timerman acrescenta que geralmente as colunas têm 12 e 15 metros de comprimento e, por isso, vão sendo soldadas até chegar à altura desejada. Como a estaca já estava há cerca de um ano fixada, a emenda pode ter sofrido com a ação do tempo. Erosão do solo e desgastes na estrutura são outros fatores que podem ter contribuído para a coluna afundar.
– Mas isso são conjecturas. É preciso aguardar o laudo, que vai apontar o que de fato ocorreu, até mesmo para que isso não aconteça mais – ressalva.
Para engenheiro mecânico e professor da UFSC, Honorato Tomelin, a estaca ter saído do lugar é normal, mas não comum. Ele é da mesma opinião de Timerman: ação de correntes marítimas e ventos podem ter ajudado a levar a estrutura.
– Claro que isso quem vai nos dizer é o laudo – pondera.
Tomelin ressalta que, se talvez, o cronograma não tivesse atrasado e a estrutura provisória estivesse montada, o incidente poderia ter sido evitado, porque as colunas não ficariam tão suscetíveis.
(Por Julia Antunes, DC, 13/01/2012)
AS DEVIDAS EXPLICAÇÕES
O presidente do Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra), Paulo Meller, garante que o afundamento de uma das pilastras de sustentação da estrutura da Ponte Hercílio Luz cartão-postal e patrimônio histórico e cultural da Capital não vai atrasar o cronograma da obra de restauração da primeira ligação Ilha-Continente. É pagar para ver, eis que, desde a data em que o trabalho foi iniciado, ainda na administração estadual anterior, o cronograma da obra vem sofrendo atrasos sobre atrasos e enfrentado dificuldades técnicas não previstas.
Como registramos em nossa edição de ontem, se o cronograma estivesse em dia, todo o estaqueamento já estaria pronto. Também estariam prontas a colocação das treliças, do cabo alternativo e outras providências necessárias ao prosseguimento da recuperação da travessia, que é considerada uma verdadeira obra-prima da engenharia do ferro das primeiras décadas do século passado.
A pilastra, a mais próxima da cabeceira insular, foi parar no fundo do mar a uma profundidade de 24 metros. Acidente provocado por alguma colisão ou pelas fortes correntes marítimas da baía? Erro de cálculo, falha na execução? A resposta só será conhecida com a divulgação do imprescindível laudo da perícia técnica, prometido para a próxima semana. E explicações à opinião pública são devidas, sim, pois além da importância histórica e cultural deste patrimônio coletivo, trata-se de um investimento público cujo custo foi orçado em R$ 213,8 milhões.
Cabe razão ao presidente da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), Joceli de Souza, que tenta captar, junto ao Ministério da Cultura, recursos da Lei Rouanet para a restauração, ao afirmar que o episódio fará com que todos passem a acompanhar mais de perto e com maior interesse o andamento do trabalho. Com efeito, o olho do contribuinte é o melhor “fiscal de obras públicas” nas democracias.
Contratado pelo consórcio responsável pela recuperação da Ponte Hercílio Luz, o engenheiro Khaled Mahmoud, especialista internacional neste tipo de trabalho, em novembro do ano passado advertiu para o risco de desabamento da ponte a qualquer momento, e que esta hipótese só seria evitada quando a estrutura provisória estivesse pronta. E citou o exemplo da Silver Bridge, construída em 1928, sobre o Rio Ohio, nos Estados Unidos, em tudo semelhante à Hercílio Luz, que desabou, repentinamente, em dezembro de 1967, causando 46 mortes.
Aqui, há urgência na resposta à pergunta que não cala: será que a estrutura em montagem, e que acaba de perder para o mar uma das suas estacas, vai “segurar” a ponte durante a restauração do vão? O poder público deve respostas e garantias. A defesa permanente do seu patrimônio histórico e cultural também atesta o grau de civilização e de qualidade de vida de um povo. A Ponte Hercílio Luz é de todos os catarinenses.
(DC, 13/01/2012)
Capitania descarta acidente como causa da queda de pilar que sustentará ponte Hercílio Luz
Relatório da Capitanaia dos Portos não registrou nenhum incidente nos últimos 12 meses próximo ao local onde as estacas estão cravadas
A Capitania dos Portos de Santa Catarina descartou a hipótese de uma embarcação ter causado a queda de uma das estacas que sustentaria a ponte Hercílio Luz durante o período da reforma. Nos últimos 12 meses não houve nenhum incidente envolvendo embarcações na área onde os pilares estão cravados. Mesmo com a informação, o presidente do Deinfra (Departamento Estadual de Infraestrutura), Paulo Meller, só fala sobre o assunto quando o laudo for concluído.
Meller adiantou, na quarta-feira, que havia duas linhas de investigação. A primeira é que uma embarcação poderia ter colocado a estaca no fundo do mar. Já a segunda linha, apura se houve falha na estrutura da estaca. Essa última alternativa obriga o Deinfra a periciar os outros oito pilares que já estão concretados.
O comandante da Capitania dos Portos de Santa Catarina, capitão Cláudio da Costa Lisboa, argumentou que se houvesse uma colisão, a embarcação sofreria grandes avarias devido ao tamanho das estacas. “Não temos nenhum registro de acidentes nesse ponto. A obra não afeta o canal, que possui sinalização náutica”, afirmou.
O Deinfra informou, por intermédio da assessoria de comunicação, que o Consórcio Florianópolis Monumento, responsável pela obra, aguarda a chegada de uma equipe de mergulhadores. Os profissionais vão descer até onde a estaca foi localizada, a uma profundidade de 24 metros, para fazer vídeos e fotos da estrutura.
A perícia deve ser concluída até a próxima semana. O resultado também define quem vai pagar pelo prejuízo, estimado em R$ 1 milhão. Se for acidente, o custo fica com o governo do Estado. Caso contrário, o consórcio se responsabiliza pela correção do problema.
Vídeo mostra estrutura balançando
A reportagem do jornal Notícias do Dia teve acesso a um vídeo feito no dia 16 de agosto do ano passado. A imagem mostra o pilar que ruiu, balançando bastante. O registro foi feito por um engenheiro mecânico. Ele defende que a força da maré e as correntes marinhas podem ter contribuído para a ruptura do pilar, junto à rocha que ele estava cravado.
A estrutura, feita com um tubo de aço, preenchido com concreto armado, fica presa no fundo do mar. “A rocha suporta esforços de cima para baixo, mas não tem flexibilidade. Ela pode ter rachado. O que permitiu o tombamento da estaca”, atestou.
O professor do curso de engenharia mecânica da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Honorato Tomelin, não acredita na hipótese levantada. “O projeto de construção das estacas considerou as cargas resultantes da variação das marés e a força dos ventos. Especialistas no assunto garantem que a inflexão que ocorre é absolutamente normal”, afirmou.
Entenda o caso
– A restauração da ponte Hercílio Luz começou em 2009. Até agora, apenas as cabeceiras estão concluídas.
– Para recuperar os olhais, é preciso apoiar o vão central. Para fazer isso, o Consórcio Florianópolis Monumento trabalha na colocação de 16 estacas. Os pilares sustentarão uma plataforma sob a ponte. Das 16 estacas, apenas 9 foram finalizadas e uma está em fase de concretagem.
– Na quarta-feira, um policial militar que fazia rondas no forte Santana, na Ilha, notou a ausência de uma das estacas. O pilar está ligado ao mesmo conjunto onde um mergulhador profissional morreu afogado em janeiro do ano passado.
(ND, 13/01/2012)

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