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A questão da biodiversidade

Pesquisadores da Universidade de Blumenau (Furb), em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri/SC), realizaram um levantamento das florestas e da flora do Estado com base em 550 pontos de amostragem. O resultado do inventário, que foi divulgado ontem, surpreende, ao revelar que o Estado tem cobertura vegetal em 36% de seu território e não em apenas 23%, como se acreditava. Mas o estudo revelou, também, que a maioria das florestas catarinenses é secundária, num total de 857 espécies, das quais 25% estão sob ameaça de extinção, e que as formações são irregularmente distribuídas. Em São Miguel do Oeste e em quase toda a região, remanescem apenas 10% de florestas, enquanto, em Blumenau, a cobertura chega a 65%.

Os especialistas dividem-se nas interpretações técnicas que dão ao resultado do inventário. Como quer que seja, o estudo, que é pioneiro no Brasil, traz à pauta a questão da proteção à biodiversidade, que se relaciona, diretamente, às dramáticas mudanças no clima do planeta. Na conferência Eco-92, promovida pela ONU no Rio de Janeiro, 192 países assinaram um tratado para a defesa da biodiversidade, ou seja, para a manutenção das múltiplas manifestações de vida na Terra. Dezenove anos depois, as metas do tratado continuam, praticamente, no papel.

Recentemente, o novo relatório Panorama Global da Biodiversidade, do programa ambiental da ONU, predisse o risco do colapso dos sistemas naturais se a situação não for revertida a tempo. Não apenas a devastação da cobertura verde, mas também a erosão e a contaminação de ecossistemas frágeis – como mangues e recifes de corais, por exemplo, podem alcançar em breve um ponto de “não retorno”.

Neste panorama, cabe ao Brasil, que detém as maiores florestas tropicais do planeta, grande responsabilidade. Desmatamentos e queimadas aceleram tragédias climáticas. Não se trata, portanto, de preservar a biodiversidade por preservar, mas de mantê-la e dar-lhe uso sustentável em nome da própria vida. Para tanto, a agenda da biodiversidade – tão oportunamente resgatada pelo inventário do verde em Santa Catarina – precisa tornar-se uma prioridade planetária. Para valer e correndo contra o tempo.

(Editorial, DC, 12/07/2011)

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