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Menos uma praia no mapa?

Estudo feito a partir de fotografias aéreas revela que a paisagem da praia mudou muito nos últimos 16 anos

As caminhadas pelas areias brancas e finas da Barra da Lagoa, no Leste da Ilha de Santa Catarina, podem estar ameaçadas. A faixa de areia, que há 16 anos vem gradualmente desaparecendo da praia, uma das mais frequentadas de Florianópolis, agora, sumiu de vez. Nesta semana, as ondas, conhecidas como suaves, deram lugar à fúria do mar. O efeito foi um estrago inimaginável pelos 4,3 mil habitantes do balneário.

Desde quarta-feira, os números da ressaca aumentam: nove construções foram destruídas, cinco, interditadas e mais de 50 pessoas foram afetadas. A razão, de acordo com o geólogo voluntário da Defesa Civil Rodrigo Sato, é a ação do homem em um ambiente que deveria ser preservado. Para o especialista, a construção do molhe provocou a destruição da praia.

Sato, a pedido da Defesa Civil, elaborou um estudo sobre as causas da ressaca da Barra da Lagoa. Através da análise de oito fotos aéreas, obtidas no arquivo do Geoprocessamento Corporativo da prefeitura de Florianópolis e Google Earth, ele concluiu que a erosão começou depois das primeiras obras da construção do molhe na década de 1990. Desde a inauguração em 1994, o mar já avançou mais de 50 metros.

– O molhe modificou o sentido da corrente litorânea e alterou a linha de costa da praia. Com isso, a areia não conseguiu mais se depositar na orla e a erosão marinha chegou ao nível máximo, já que não há mais areia disponível na costa – afirma.

O especialista alerta que o avanço do mar na praia que tem 650 metros de extensão, mas que chega até oito quilômetros porque não é separada da Praia de Moçambique, não teve influência significativa da ocupação humana litorânea.

– Construções litorâneas sempre existiram na Barra. Não foi elas que avançaram no espaço do mar, foi o mar que avançou contra elas por causa do molhe – complementa.

Medidas urgentes para a praia não sumir

Para que a Barra da Lagoa não suma, como ocorreu na Praia da Armação, no Sul da Ilha, ele propõe a retirada imediata do molhe e medidas naturais para reverter a situação. O engordamento da praia (retirada de areia da jazida do fundo do mar e colocada na orla) é a opção mais indicada, com custos que podem variar de R$ 5 a R$ 25 milhões.

Para a Secretaria Municipal de Turismo, a preservação da Barra da Lagoa é prioridade. O secretário executivo de Turismo, Homero Gomes, disse que se empenhará para que a ressaca não respingue na frequência de turistas. As medidas adotadas serão anunciadas na próxima semana.

Uma comitiva formada pela Fundação de Apoio ao Meio Ambiente, Ministério Público Federal (MPF), Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) devem visitar a Barra da Lagoa neste final de semana.

(Por Francine Cadore, DC, 30/05/2010)

O mar é salgado; o diálogo, doce

O mar é salgado. Mas o diálogo é doce.

– Não chora, meu filho. Se perdeu, paciência.

O colóquio de um pai consolando o filho que parece ter perdido um brinquedo. Cena comum, não fosse a idade e as circunstâncias. Esmeraldino, o pai, tem 87 anos. Sílvio, o filho, 41 anos. Não existem brincadeiras. Mas uma realidade que há dias tira o sono de uma das mais tradicionais famílias da Barra da Lagoa.

– Olhem o que o mar fez com os 52 anos de vida de pescador do meu pai – diz Sílvio Timóteo, abraçado ao pai e a mãe, Odete, 78 anos, no pedaço que resta do bar da família. O prédio foi ao chão pela força das ondas.

Trabalhadores do mar, gente simples, com pouca escolaridade. Assim é a vida dos Timóteo. Do casamento entre Esmeraldino e Odete nasceram 15 filhos que esparramaram uma penca de netos e bisnetos. Vida humilde, cidadãos corretos. Enquanto o marido trabalhava na pesca em Rio Grande, Extremo-Sul do Brasil, Odete fazia renda de bilro e cuidava das crianças.

Com as economias, ajudaram a casar os filhos e compraram o terreno onde moram. Aposentados, engordam a renda com o aluguel do bar batizado de Sombrero. Lugar simples, que nos meses de temperada serve petiscos à base de frutos do mar.

Desde o começo da semana, as paredes verdes vão aos poucos sendo tragadas pela água.

A família se juntou e, com pedras e areia, tenta conter o avanço do mar. Entre quinta e sexta-feira depositaram 2.500 sacas. Carregavam entulho de uma obra e areia de uma construção. Utilizavam carrinho de mão e sacolas.

– Sou um homem sem vergonha de chorar. A gente sabe o que significa este lugar para nossos pais – conta Sílvio – com os pés e dedos sangrando.

Odete é cardíaca e se mostra acuada. Esmeraldino tem um ferimento na perna e está tenso.

– Tudo o que temos foi construído em cima do mar – conta Sílvio, que depois da separação voltou a morar com os pais.

Descendente de açoriano, o casal deu origem a uma família que conserva os hábitos dos típicos moradores do distrito da Barra da Lagoa: gente que gosta de pirão d’água, de boi-de-mamão, com histórias de bruxas e que mantém a fé em São Pedro, o padroeiro dos pescadores. Localizada entre o Oceano Atlântico, a Lagoa da Conceição e o Morro da Galheta, a Barra da Lagoa é traspassada pelo Canal da Barra.

A vida simples dos Timóteo talvez tenha-lhes tirado o direito de conhecer o poeta Fernando Pessoa. É dele Mar Português, e seus épicos versos Ó mar salgado, quanto do teu sal/São lágrimas de Portugal. Para a família Timóteo, o mar é mesmo salgado.

Por sorte, o diálogo é doce.

(Por Ângela Bastos, DC, 30/05/2010)

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