Manifestantes chamaram a população para participar da caminhada, que complicou o trânsito no Centro da Capital, ontem
A manifestação contra o aumento das tarifas do transporte coletivo de Florianópolis conseguiu reunir 4 mil pessoas ontem, segundo o comandante da Polícia Militar da Capital, tenente-coronel Newton Ramlow. Durante mais de quatro horas, os manifestantes caminharam pelas ruas centrais, com cartazes, bexigas e apitos, chamando a população para participar do protesto.
Quatro momentos tensos marcaram o percurso dos manifestantes. Três deles relacionados com a direção da caminhada. Depois de mais de uma hora concentrados em frente ao Terminal de Integração do Centro (Ticen), os estudantes seguiram pela Avenida Paulo Fontes.
A orientação do tenente-coronel da PM era impedir a chegada dos estudantes nas avenidas Governador Gustavo Richard, que dá acesso às pontes, e Beira-Mar Norte.
Na esquina da Avenida Hercílio Luz, houve uma negociação entre estudantes e PM e o protesto conseguiu seguir em frente. Os manifestantes fizeram uma breve pausa em frente à Assembleia Legislativa e depois foram para a Avenida Mauro Ramos, caminhando pela contramão até a altura do Cefet, próximo a Rua Doutor Zulmar Lins de Neves. Neste momento, houve discussão entre os manifestantes.
Eles discordaram sobre o trajeto. Alguns queriam seguir para a Beira-Mar Norte. Depois de 30 minutos, houve consenso e eles foram em direção à Avenida Hercílio Luz, como era o previsto pela PM.
Durante todo o percurso os policiais militares caminharam lado a lado com os estudantes. Próximo ao Instituto de Educação (IEE) houve empurra-empurra.
Mais de 500 policiais monitoraram o protesto
Manifestantes tentaram romper a barreira policial para tomar a outra faixa. Ao total, 550 homens da PM acompanharam a manifestação. Às 20h, o protesto chegou à Câmara dos Vereadores, depois foi para frente da prefeitura e retornou para a Av. Paulo Fontes. Em assembleia, os estudantes prometeram continuar a mobilização. Um grupo invadiu o Ticen e um jovem foi detido. Segundo o tenente-coronel Ramlow, ele pulou a catraca, não quis pagar a passagem do ônibus e desacatou os policiais.
Muitos moradores preferiram assistir à caminhada da sacada dos prédios. Mesmo não aderindo, eles se manifestavam a favor dos estudantes, com palavras de apoio.
(Por Nanda Gobbi, DC, 14/05/2010)
Será que eles conseguem?
Nove estudantes passaram seis horas presos a cadeiras no Setuf em protesto ao aumento nas tarifas de ônibus em Florianópolis
Com os pés acorrentados aos bancos do Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Florianópolis (Setuf), João Gabriel, 18 anos, era um dos nove estudantes que protestavam contra o aumento das passagens do transporte coletivo da Capital, entre 11h e 17h de ontem. – É um ato simbólico. Estas correntes representam as catracas, que impedem a mobilidade dos moradores da Capital.
Assim como João, os manifestantes de ontem querem uma mudança no transporte público. Mas, primeiro, querem que o aumento das passagens seja revogado.
Os protestos que aconteceram ontem em Florianópolis refletem uma tendência que começou no início da década, com o debate pelo passe livre para estudantes. Teve seu ápice em 2004 e 2005, com a chamada Revolta da Catraca, quando milhares de pessoas foram às ruas para barrar o aumento das passagens. Na época, conseguiram.
O estudante da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Bruno Mandelli, 20 anos, foi um dos que debateram o assunto naquela época.
– Em 2004, eu assisti; em 2005, participei. Hoje tenho uma bolsa de estudos e ganho menos de um salário mínimo, e o preço se torna alto. A minha atuação política é por meio dos movimentos sociais. E, hoje, o transporte público é uma das formas de exclusão social – filosofa o rapaz.
Bruno participa do Movimento Universidade Popular (MUP) na UFSC, uma das entidades que fizeram parte do Frente Única pelo Transporte Público Floripa, que organizou os protestos. Ela é formada por movimentos sociais, partidos políticos, organizações culturais e, em sua maioria, por estudantes.
João Gabriel faz parte de uma organização chamada Reinventar. Segundo o jovem, que vai começar a estudar na UFSC no segundo semestre, o movimento é baseado nas ideias do pensador Darcy Ribeiro.
– Ele tinha uma conexão forte com a educação e foi fundador na Universidade de Brasília (UnB). O nosso movimento prega o caráter reivindicatório e de atuação política dos jovens no passado, como o Fora Collor e as Diretas, Já. Nossa postura é de sempre defender a população.
Um dos movimentos mais conhecidos dos protestos dos estudantes é o Movimento pelo Passe Livre (MPL), fundado em 2005 com base nas experiências das manifestações Salvador, em 2003, que parou a cidade por 10 dias, e da Revolta da Catraca, de Florianópolis. O MPL defende o acesso gratuito para a população.
(Por Mauricio Frighetto, DC, 14/05/2010)
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