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Show de Bocelli divide opiniões

Gasto de R$ 3 milhões em uma única apresentação na cidade reacende discussão sobre a falta de investimento em grupos e produções locais

A Prefeitura de Florianópolis, em parceria com a Funturismo, traz no dia 28 de novembro o show do tenor italiano Andrea Bocelli. A atração internacional faz parte da programação de final de ano organizada pela Secretaria Municipal de Turismo e tem despertado polêmica entre alguns músicos locais em virtude do alto investimento: o valor divulgado oficialmente é de R$ 3 milhões. De acordo com o secretário de turismo do município, Mário Cavallazzi, os recursos que vão bancar o show não são oriundos apenas da Prefeitura, mas também do Governo do Estado e da iniciativa privada. “Estamos pagando o cachê do cantor. As demais despesas correm por conta dos patrocinadores do evento e da Funturismo”, explica o secretário.

A ideia de trazer o cantor para Florianópolis, segundo Cavallazzi, foi do próprio governador do Estado. Durante a reunião de apresentação do cronograma de final de ano, realizada em outubro, o prefeito Dário Berger e o secretário reuniram-se com o Luiz Henrique da Silveira, que sugeriu a vinda de Bocelli a Florianópolis. No mesmo mês, Cavallazzi embarcou para Londres para acertar detalhes do contrato com o cantor.
Mas as opiniões se dividem quanto ao valor gasto para a realização do show. Músicos e produtores locais reconhecem a qualidade do trabalho de Bocelli, entretanto questionam a falta de investimentos em Florianópolis. O diretor da Comissão de Músicos da Filarmonica Santa Catarina, Luiz Fernando São Thiago, destaca os músicos da Orquestra e afirma que todos têm formação superior em seus instrumentos. “Uma orquestra como a nossa, que teria ressonância na Europa, por exemplo, custa anualmente R$600 mil, com 16 músicos recebendo salários compatíveis e realizando 20 concertos”, compara.

O presidente do Fórum Cultural de Florianópolis, Murilo Silva, também questionou o investimento em recente artigo publicado. “Questiono a vultosa quantia, que segundo alguns ‘sopranos’ do Palácio seria necessária para viabilizar o espetáculo”, diz. Para Murilo, o evento torna-se absurdo diante da ausência de projetos necessários no Estado. Ele vai além e afirma que o valor do show equivale às cifras gastas no Carnaval de Florianópolis: “Quatro vezes mais que o orçamento da Fundação Franklin Cascaes. Portanto, um regalo muito caro, desmedido e injusto”, finaliza.

Para a coordenadora artística do Estúdio Vozes, Rute Gebler, o show deve ser um espetáculo devido à voz maravilhosa de Andrea Bocelli e ao vasto repertório do cantor. “Ainda não temos muitas informações sobre esse show, mas acredito que será um espetáculo”. Questionada sobre a importância de músicos catarinenses tocarem com o cantor, ela defende: “Será um orgulho para o artista que trabalhar com esse expoente”.

Investimento ou gasto exorbitante?

Um dos motivos alegados pelo secretário de Turismo do município para a realização do show de Andrea Bocelli é o reconhecimento internacional da cidade. “Queremos trazer o pessoal mais cedo para a temporada e fazer com que Florianópolis seja reconhecida mundialmente”, defende Cavallazzi. E acrescenta que “ao longo da gestão de Dário Berger, o turismo foi um dos seguimentos mais fomentados.”

O maestro e diretor artístico da Camerata Florianópolis, Jeferson Della Rocca, concorda em alguns aspectos com Cavallazzi, pois acredita que o show vai movimentar a cidade, mas faz uma ressalva. “Acredito que esse evento é muito mais turismo que cultura”.

Della Rocca vai além e faz uma profunda reflexão sobre a geração de renda em Santa Catarina. “Uma ópera gera renda para cerca de 300 pessoas, enquanto que um evento internacional desse porte vai trazer mão-de-obra de fora. O grande se não é esse: eventos isolados como o show de Andrea Bocelli não geram renda para o setor cultural daqui”, lamenta o maestro, sem desmerecer o trabalho de Bocelli.

Para a produtora de espetáculos Eveline Orth, Florianópolis vem se consolidando a cada ano como um grande pólo turístico e de eventos corporativos nacionais e internacionais. “Estes setores ocupam uma fatia importante na economia, gerando empregos e aumentando a arrecadação dos impostos diretos. Outros setores também se alavancam a partir da indústria do turismo”, afirma Eveline.
A produtora defende duas frentes de investimento para que a cidade torne-se um pólo cultural como Rio de Janeiro, Nova York ou Berlim: grandes eventos e produção local. Ela acredita que o show de Andrea Bocelli pode ser uma oportunidade para Florianópolis. “Se este tipo de evento fizer parte de uma política cultural que objetive fomentar o mercado cultural do nosso município para se tornar um centro de produções culturais de grande, médio e pequeno porte, será um marco na nossa história”, conclui.

A Prefeitura estima que um milhão de pessoas prestigie o evento na Avenida Beira-Mar Norte, que deve iniciar às 19h30. Cavallazzi já adiantou que a Rede Globo tem interesse em transmitir o show ao vivo. “Já agendamos o show para uma segunda-feira por ser um dia mais flexível na grade de horários da emissora”, confidencia. Além disso, há a expectativa de participações especiais de Ivete Sangalo, Roberto Carlos e Sandy, convidados de Andrea Bocelli, mas ainda não há confirmação.

(Elida Hack Ruivo, Jornal Imagem da Ilha, 23/11/2009)

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