Esgoto, o mal da Ilha
21/09/2009
SC Wireless: MCT quer inclusão digital pensando no social
21/09/2009

A incompetência desnudada

Artigo escrito por Laudelino José Sardá (Acontecendo Aqui, 21/09/2009)

Ao ler no Diário Catarinense o pretexto da prefeitura, de que não pôde avisar à população sobre o fechamento de pistas da avenida Beira-Mar Norte, na última quinta-feira, 17, porque a empreiteira não havia dado certeza do início da reparação do asfalto, precisei rapidamente recorrer ao conselho de um médico amigo chinês. Respirei fundo, concentrei-me no vazio e retomei o equilíbrio emocional.

Aristóteles distingue duas espécies fundamentais de mentira: a jactância, ou seja, a vaidade, a ostentação, que consiste em exagerar a verdade, e a ironia, que compreende em diminuí-la. Eu fico com a segunda, do tipo ironia romântica, apoiada na supremacia do EU absoluto. A realidade está à sombra do jogo do EU. Foi o que fez a prefeitura, por orientação do seu alcaide, o aspirante ao governo do estado, Dário Berger.

Você leitor e outros milhares de cidadãos, que ficaram presos no engarrafamento, na quinta-feira, dia 17, sorriram para o mestre de obra que trancou a avenida? E seus filhos a caminho da escola, os profissionais com agenda de compromissos, os motoristas de ambulâncias conduzindo doentes, das viaturas policiais em situação de emergência, enfim, todos imobilizados conseguiram se descontrair, aproveitando a tranqueira para pôr em dia as conversas? Não se lembraram daquela máxima da ministra do Turismo, Marta Suplicy, senta-se e goze? Mas, com certeza não aplaudiram o alcaide, que, aliás, se esqueceu de mandar colocar aquela placa também irônica: “desculpe, estamos trabalhando para lhe dar mais conforto”

Acreditem se quiser: a prefeitura não quis perder a chance que a empreiteira lhe deu de iniciar o recapeamento do asfalto naquela manhã em que o sol já vencia a montanha. E o povo? Dane-se! E a semana iniciou-se da mesma forma. Mas ele avisou desta vez, né? Sim, o que adianta? A prefeitura precisa – isto sim – fazer essas obras durante a madrugada, como as realizam os prefeitos de cidades onde o povo é respeitado. Ou será que a barulheira poderia roubar o sono dos inquilinos da beira-mar?

Esse é um exemplo de imobilidade burra, de um alcaide que se acha no direito de exibir obras em nome da sua carreira política. Não há o menor respeito com o cidadão que vive na agonia da luta diária contra o relógio.

O alcaide disse, recentemente, aos alemães que a Ilha não tem problema de mobilidade. Aí cabe um troco com ingrediente também irônico: a imobilidade é tão grande e abominável que nos impede até de enxergar problema de mobilidade.

Alguém consegue deslocar-se na Ilha sem enfrentar problema de engarrafamento? Os semáforos estão sincronizados? Os guardas municipais, aqueles que vivem escondidos, pelo menos aparecem nos horários do rush? O alcaide, por acaso, tem se deslocado de helicóptero? Ah, claro, ele deve sair de casa depois das 9 horas para justamente evitar engarrafamento.

O comportamento da quase totalidade dos governantes das 5.565 cidades brasileiras é essencialmente carreirista. Recentemente, em um município baiano, o prefeito abriu concurso para uma vaga de médico. Ele se candidatou em tirou o primeiro lugar. O mais hilariante foi a justificativa que ele deu: “depois de terminar o meu mandato, vou precisar de um emprego fixo”. A outra vaga, de enfermeiro, ficou para a sua sobrinha. O governante individualista só enxerga um preponderante valor no que ele planeja e faz, sem sentir o que os cidadãos precisam ou querem.

Quais os planos essenciais de que Florianópolis necessita para proporcionar qualidade de vida aos seus moradores e aos visitantes?

Vamos por área. Na do meio ambiente o que se tem feito? Os mangues, considerados uma das maiores reservas do país, continuam cagados. Na área da chamada mobilidade urbana, não dá nem para discutir. O projeto “tapete preto” está de vento em popa. Há ruas, por onde mal passa um carro, já ganharam pavimento, mesmo não tendo rede pluvial e de esgoto. Não se desloca facilmente na Ilha nem mesmo em julho, quando os atrativos turísticos se deslocam para a região fria da serra e as escolas estão em período de férias. A mobilidade maior do senhor alcaide vai novamente ser testada na próxima temporada de verão. Na educação e saúde, reconhece-se um substancial avanço, mas é preciso que a imprensa confira a informação da publicidade da prefeitura, de que entre 10 atendimentos nos centros de saúde, apenas quatro são encaminhados a um hospital. Na área de urbanização dos balneários, apenas Ingleses ganhou uma avenida reformada, favorecida porque o alcaide é um de seus inquilinos. E os demais balneários? Com certeza, pelo que disse o alcaide na Alemanha, não têm problema de mobilidade. Além de constantes engarrafamentos, os balneários carecem de organização, atrativos, principalmente em dias de chuva, quando os turistas são empurrados para os shoppings.

A cidade de Florianópolis não é governada no sentido de buscar qualidade de vida. Ela é estrategicamente administrada em nome de uma ou mais carreiras políticas. Não se vê estratégias para se conter o crescimento acelerado das favelas, da criminalidade. O alcaide pode até argumentar que Florianópolis está em quinto lugar na estatística de roubo de carro. É pouco? E o índice de homicídio? De assalto?

Em uma cidade organizada, cujo governante foca a sua gestão na felicidade do cidadão, toda e qualquer estratégia visa, sobretudo, à sua humanização. As vias são (re) estruturadas no sentido de valorizar o ser humano; os bairros espelham a qualidade de vida na segurança, na separação de áreas residenciais da comercial e de entretenimentos; todos e quaisquer empreendimentos só são autorizados se estiverem de acordo com os preceitos mínimos que assegurem a qualidade de vida, como, por exemplo, um colégio só recebe alvará de funcionamento se não causar transtorno no trânsito ou aos moradores da localidade; os balneários são (re) estruturados de forma a que os turistas não tragam problemas, mas, ao contrário, consigam descansar e divertir-se em comunhão de alegria com os moradores. Enfim, tudo que é necessário à qualidade de vida em uma cidade não se vê em Florianópolis. As obras integram estratégias políticas megalômanas, justamente para causar impacto eleitoral. Mas a teoria de que o se vê não se sente pode significar um efeito nocivo ao aspirante de governador.

A desordem do crescimento de Florianópolis tem garantia expressa na ausência de um plano diretor. E o que faz a câmara de vereadores? Nada. O alcaide tem apoio da maioria. Alguém conhece um dos 51.500 vereadores brasileiros que tenha se preocupado com o desenvolvimento da sua cidade? Aponte um, por favor. A propósito, vou escrever sobre o aumento do número de edis. Inté.

mm
Monitoramento de Mídia
A FloripAmanhã realiza um monitoramento de mídia para seleção e republicação de notícias relacionadas com o foco da Associação. No jornalismo esta atividade é chamada de "Clipping". As notícias veiculadas em nossa seção Clipping não necessariamente refletem a posição da FloripAmanhã e são de responsabilidade dos veículos e assessorias de imprensa citados como fonte. O objetivo da Associação é promover o debate e o conhecimento sobre temas como planejamento urbano, meio ambiente, economia criativa, entre outros.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *