Há aproximadamente 25 anos, surgiu uma organização tida como uma das primeiras – senão a primeira – entidade ambientalista de Florianópolis. Era o Movimento Ecológico Livre (MEL), que começou suas atividades entre 1983 e 1984, chamando a atenção para problemas discutidos até hoje na Capital. plano diretor, saneamento básico, reciclagem do lixo, turismo ecológico e combate a ocupações irregulares foram algumas das preocupações do movimento. “Éramos pessoas que acreditavam num modelo sustentável de desenvolvimento”, afirma o ex-integrante da organização e atual superintendente da Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis (Floram), Itamar Pedro Bevilaqua.
O MEL não era apenas um movimento ecologista. Questões como racismo, feminismo e pacifismo estavam na pauta de discussões do grupo. “Começou mais como movimento cultural. Era uma espécie de ONG, mas não como hoje”, conta a ex-integrante do movimento e professora do Departamento de Sociologia e Ciência Política da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Márcia Gristotti.
As reuniões ocorriam quase sempre na Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina ou em uma sala na rua Álvaro de Carvalho, no Centro. “Às vezes vinham pessoas que nem conhecíamos. Como o próprio nome diz, era um movimento livre”, diz Márcia.
No início, o MEL era formado principalmente por jovens que estavam entrando na vida universitária. Havia também professores, empresários e profissionais liberais. O auge das atividades do movimento ocorreu na segunda metade da década de 1980, época em que o Brasil saía da ditadura militar e entrava em período de democratização. Algumas das sementes plantadas pelo MEL renderam frutos.
Os mais visíveis foram a desativação do aterro sanitário do Itacorubi e a criação do Parque Municipal da Galheta, duas bandeiras do MEL. Mas houve outras conseqüências importantes da atuação do grupo, como maior cobertura da imprensa local aos assuntos ecológicos da cidade.
Nova geração não demonstra mesmos ideais
A busca por profissionalização foi um dos fatores que colaborou para a dissolução do movimento. “Entendemos que precisávamos nos profissionalizar para divulgar os temas que defendíamos. Acabamos entrando em vários setores, como direito, a sociologia e a política”, afirma Márcia.
O MEL, na prática, ainda existe, mas não teve mais atividades. A coordenadora é a bancária Yolanda Maria Vieira da Veiga, que atua no grupo desde a década de 1980. Para ela, a falta de engajamento de novas gerações explica o declínio do grupo. “Acho que um movimento como o MEL teria condições de recomeçar, mas gente vê hoje uma gurizada meio desligada”, afirma.
Yolanda tentou reativar o antigo grupo há cerca de dois anos, mas não obteve sucesso. “Está todo mundo disperso hoje. Cada um seguiu seu caminho.”
Ex-militante não acredita em fracasso
A discussão há 20 anos de temas ainda atuais mostra que o MEL era um movimento “à frente de seu tempo” na opinião de Itamar Bevilaqua. A falta de soluções para muitas das questões nas quais o movimento atuou não é encarada por ele como um fracasso. “Valeu a pena sim. Basta ver onde estão hoje vários dos integrantes para notar que conseguimos penetrar na defesa do meio ambiente em vários segmentos da sociedade”, diz Bevilaqua, que é também professor de Direito Ambiental, citando nomes de ex-integrantes do grupo conhecidos na cidade, como o de Analúcia Hartmann (procuradora da República), André Freyesleben (ex-vereador) e Rogério Portanova (ex-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Santa Catarina, a Fapesc).
Os problemas ambientais que a cidade enfrenta hoje poderiam ter sido resolvidos na época de atuação do MEL, na opinião da professora Márcia Grisotti. “A cidade tinha mais condições de fazer com que as leis fossem implementadas. Havia menos interesses. As dificuldades hoje são maiores e mais complexas”, avalia. O plano diretor é uma das questões apontadas por Márcia como possível de solução há duas décadas. “Poderia ter sido algo mais real, que pudesse ser implantado de verdade e as pessoas respeitariam, nem que para isso ele tivesse um pouco menos de preocupações ambientais.”
Para Yolanda da Veiga, o principal o desafio de Florianópolis e do mundo hoje é melhorar o saneamento básico. “Fala-se muito na questão climática, mas pouco do esgoto. O ser humano ainda não sabe como lidar com seus resíduos.
(Felipe Silva, A Notícia, 29/07/2007)
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1 Comentário
Fiz parte do movimento ecológico livre e gostei muito da matéria que este jornal publicou.