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Dejetos suínos se transformam em biometano

A produção de biometano a partir de dejetos suínos vai se tornar uma realidade no estado. Foi inaugurada, nesta segunda-feira (08), a primeira biorrefinaria do Brasil, em Pomerode, Vale do Itajaí. A Biorrefinaria Pomerode, instalada em uma granja de médio porte, tem como objetivo o beneficiamento do Biogás gerado a partir dos dejetos e sua transformação em subprodutos, como Gás Natural (GN), Gás Natural Veicular (GNV), Gás Carbônico (CO2) e biofertilizante sólido e líquido. O projeto surgiu de uma parceria entre as empresas catarinenses Brasil Clean Energy, de Balneário Camboriú, e Eco Conceitos, de Pomerode, subsidiária no Brasil da empresa alemã de tecnologia em biogás Arche.

Aprovada e certificada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), a biorrefinaria inicia sua comercialização a partir da publicação do Marco Regulatório do Biogás no Brasil, em novembro de 2014, possibilitando à Brasil Clean Energy (BCE), responsável pelo tratamento dos efluentes e pela comercialização dos produtos, a independência administrativa e comercial.

A comercialização dos cerca de 2,5 mil m³/dia de gás renovável esperados será intermediada pela SCGÁS (Companhia de Gás de Santa Catarina), que deve iniciar a venda do insumo comprimido em cilindros. “O desenvolvimento de projetos como este demonstra que sabemos enxergar oportunidades. Ele resolve tanto o passivo ambiental resultante da destinação dos dejetos da suinocultura quanto o problema de baixa oferta de insumo de gás que atravessamos hoje”, avalia.

O Gerente de Tecnologia de Gás da SCGÁS, Ricardo Konishi, explica que o biometano possui consumidores potenciais. “Clientes do setor industrial cerâmico e postos de GNV já sinalizaram interesse em consumir, mas a venda do insumo será iniciada somente a partir da publicação do Marco Regulatório do Biogás no Brasil pela ANP”. Esperado para meados de dezembro, a lei definirá normas e procedimentos para produção, transporte, comercialização e utilização dos gases renováveis.

Magno Damasceno, diretor presidente da Brasil Clean Energy (BCE), explica que existem várias tecnologias envolvidas no processo, como a tecnologia de geração, desenvolvida pela empresa da Alemanha, que já tinha o projeto para o estado; a purificação realizada pela Brasil Clean Energy, pela qual é possível elevar o poder calorífico do biogás e transformá-lo num gás com o mesmo grau de pureza e caloria do próprio gás natural. “Com isso, se passa a viabilizar os projetos de usina de biogás do país. Com a tecnologia de purificação, temos um segundo produto que é o CO2”.

Energia disponível a partir do solo

Segundo Damasceno, o Brasil não é autossuficiente em produção do CO2 e algumas regiões são obrigadas a importar o gás, como o sul do Brasil, que é totalmente desabastecido, o que torna o valor do produto elevado. “Com o potencial que temos hoje em Santa Catarina, com as granjas de suínos e outros animais, podemos dizer que temos um pré-sal acima do solo. Não precisaríamos gastar nem um centavo na exploração do pré-sal porque temos energia disponível”.

O diretor da BCE garante que o que faltava eram tecnologias sustentadoras do projeto. Com essas tecnologias, foi possível chegar a um conceito de melhoria ambiental e manutenção dos projetos e, ainda, a uma outra tecnologia de purificação de efluentes, a ser empregada nas localidades onde houver as centrais de compostagem.

Esta ultima vai possibilitar às regiões onde houver necessidade de biofertilizante que todo efluente saído dos reatores seja encaminhado para as composteiras, de onde saem os biofertilizantes. “Em regiões onde não há possibilidade comercial, aplica-se uma tecnologia americana, também inovadora, em que conseguimos tratar os efluentes e deixar a água com qualidade de reúso em 30 segundos”.
Tecnologia inteligente

Vários anos de pesquisa e desenvolvimento transformaram o projeto em realidade, segundo Ércio Kriek, diretor-presidente da empresa Eco Conceitos. A tecnologia e o sistema alemão foram observados, levando em consideração as características do clima e do mercado brasileiro para viabilização do projeto. “Se fôssemos transportar o modelo que existe na Alemanha para cá, nós enfrentaríamos dificuldades para viabilizar os projetos. Em razão disso, foram observados alguns pontos, o que fez com que tivéssemos um biodigestor transformado e ‘tropicalizado’”.

A tecnologia utilizada no empreendimento garante uma alta eficiência no aproveitamento dos gases de decomposição de matéria orgânica, com desempenho semelhante aos utilizados na Alemanha, país referência em aproveitamento de biogás.

O gás gerado pelas fezes suínas passa por filtragem para retirada de moléculas de enxofre, evitando o mau cheiro, e por um processo de hidrólise antes de entrar nos reatores de biodigestão 100% isolados, dotados de um movimentador de substrato e com temperatura e acidez controladas. Na sequência, o gás extraído passa pela purificação, que retira os elementos químicos indesejados e eleva o poder calorífico do gás.

O biometano pode ser aproveitado na geração de energia elétrica ou térmica, com diversas aplicações em processos industriais, como combustível para automóveis (GNV), e em residências e comércios na cocção, aquecimento de água e aquecimento de ambientes.
Possibilidade para novos projetos

Magno Damasceno pontua que, em Santa Catarina, existem 18 projetos de biorrefinarias mapeados, com viabilidade para execução, com todos os compradores para o biogás, para o CO2 e para os fertilizantes. “Percebemos que as pessoas estão mais conscientes do reaproveitamento e de que é possível dar um tratamento adequado, do ponto vista ambiental, e ainda termos um ganho energético, como a transformação do gás em combustível (GNV) ou, ainda, a conversão em energia elétrica”.

Biometano – CH4

O biogás é o produto resultante da digestão anaeróbia de resíduos orgânicos de origem diversa, tais como: os restos de vegetais, frutas e outros alimentos, gorduras, lodo de tratamento de efluentes industriais e residenciais, assim como os resíduos da criação de animais (suínos, aves, bovinos e outros).

O volume de biogás gerado nos reatores depende entre outros dos seguintes fatores:

– Tipo de substrato utilizado
– Controle da temperatura empregada
– Tempo de retenção hidráulica
– PH
– Volume de sólidos
– Controle de homogeneização da mistura

Os principais componentes do biogás são: o metano (CH4), o gás carbônico (CO2), o gás sulfídrico (H2S), o oxigênio (O2), o nitrogênio (N2) e vapor de água (H2O). Estes aparecerão em percentuais variáveis, em função da origem do material. O metano é o principal e mais importante constituinte do biogás, possuindo poder calorífico entre 5.000 e 7.000 kcal/m3.

Devido ao seu alto poder calorífico e pelo fato de originar-se de fontes de biomassa totalmente renováveis, o biogás apresenta-se como importante componente energético. Uma vez submetido a um processo de purificação, onde são removidos os demais componentes, o biometano resultante tem seu poder calorífico aumentado. Podem substituir outros combustíveis, como o diesel, a gasolina, o GLP, e equipara-se ao GNV. Podendo, então, ser utilizado diretamente como combustível veicular, ou adicionado às redes de distribuição de gás natural.

Alternativamente, o biometano purificado pode alimentar turbinas e geradores de energia elétrica, que pode ser enviada às redes de distribuição das concessionárias.

Vale salientar que dos subprodutos resultantes da produção e purificação do metano pode-se obter dois outros produtos com considerável valor comercial: o gás carbônico e o biofertilizante peletizado, além de possibilidade de reutilização da água resultante na etapa da biodigestão.

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