O ParticipACT Brasil é um projeto de pesquisa desenvolvido em uma parceria da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Universidade de Bologna (UNIBO). Tem como objetivo explorar as capacidades das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) para promover a participação cidadã e a gestão de um modelo de cidade inteligente. Apesar do projeto piloto realizado na cidade de Florianópolis, a iniciativa pode ser replicada em outras regiões.
Em 2019, o ParticipACT Brasil foi uma das soluções inovadoras selecionadas no primeiro ciclo do Programa Living Lab, promovido pela Rede de Inovação Florianópolis, junto a Prefeitura Municipal de Florianópolis (PMF) e a Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE), que conta com apoio metodológico do grupo VIA Estação Conhecimento.
O aplicativo ParticipACT Brasil
O projeto baseia-se na criação de um aplicativo de dispositivo móvel chamado ParticipACT Brasil. Nele, cada usuário pode criar um alerta de manifestações sobre um serviço ou espaço públicos, adicionando fotografias e comentários e demarcando a sua localização exata em um mapa digital da cidade.
Podem ser registrados alertas de ruas pouco iluminadas, buracos na calçada, acidentes de trânsito, congestionamentos e até pontos de aglomeração durante o cenário pandêmico. Os alertas irão variar de acordo com a diversidade de ocorrências mas, em geral, são setorizados em doze categorias, sendo elas: acessibilidade, cidadania, demonstração, educação, infraestrutura, irregularidades, meio ambiente, mobilidade urbana, saúde, segurança pública, transporte público e turismo.
Há também a possibilidade de promover campanhas periódicas que convidam os usuários a registrarem dados específicos em determinado espaço de tempo. Uma das campanhas prévias, por exemplo, propôs aos alunos de uma escola pública de Belo Horizonte monitorarem as merendas oferecidas durante o período letivo. Os registros no aplicativo foram consolidados em relatórios de análise da qualidade da alimentação escolar, e encaminhados à Secretaria de Educação e ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) [1]. Já uma outra campanha pública com viés lúdico convidou a população a fotografar as ruas floridas da cidade durante a primavera, sugerindo um fortalecimento da relação entre os cidadãos e o espaço público [1].
Todos os dados registrados permanecem visíveis a qualquer um que possui o aplicativo. Assim, os alertas podem ser registrados, detectados, acompanhados e compartilhados entre os indivíduos quando desejarem. Esta interação colaborativa entre os usuários da plataforma torna-se relevante à medida que alimenta um banco de dados sobre as impressões e percepções referentes às questões urbanas, resultando em informação e conhecimento de grande valor coletivo.
Sob este aspecto, o ParticipACT se insere como uma importante ferramenta de sensoriamento urbano por meio dos dispositivos móveis, introduzindo uma nova classe de serviço participativo com alto poder de inteligência coletiva [2]. Caracteriza-se, enfim, como um aplicativo que apresenta uma nova forma de captação de dados da cidade, na qual o cidadão é protagonista e fonte de informação.
As soluções de Big Data Analytics e Mobile Crowd Sensing
A plataforma digital do ParticipACT Brasil conta com dois tipos de dados: os do ambiente virtual e os do ambiente real [1]. Os primeiros são os dados coletados de tempos em tempos por instituições que, em uma parceria estratégica, compartilham essas informações com a equipe do projeto. Ao integrar todos os materiais apresentados, gera-se um grande banco de dados urbanos referente, por exemplo, ao consumo de energia elétrica, coleta de lixo, tráfego e acidentes de trânsito, violência urbana, etc.
Os dados do ambiente real são aqueles coletados instantaneamente pelos celulares de cada usuário do aplicativo. Pode ocorrer pelos sensores de rastreamento embutidos nos smartphones, como câmeras, microfones, termômetros e acelerômetros, e também pela técnica de Mobile Crowd Sensing (MCS).
O MCS refere-se justamente ao sensoriamento da população, ou seja, ao registro e compartilhamento auto-organizado de informações entre os usuários da plataforma. Normalmente, o MCS mostra-se como uma solução vantajosa e de baixo custo, uma vez que engaja os cidadãos a cooperar voluntariamente com dados de larga escala e em tempo real por meio de seus celulares, sem a necessidade de grandes investimentos em novas tecnologias [2].
Após serem coletados, os dados do ambiente real são armazenados no sistema de nuvem do aplicativo e encaminhados a redes computacionais. Nelas, aplicam-se técnicas de análise e gerenciamento de dados que resultam em informações relevantes, responsáveis por disseminar o conhecimento nas ferramentas digitais. A este processo de análise e interpretação do banco de dados atribui-se o termo Big Data Analytics.
ParticipACT Brasil na gestão de cidades inteligentes
Compreender o processamento das informações digitais nos leva a constatar que as TICs atuam como mídias do conhecimento. Nesse contexto, os celulares se configuram como interfaces comunicativas e colaborativas que, por meio de bancos de dados, gerenciam, distribuem e armazenam conteúdos acessíveis.
O fato desses dispositivos móveis se estabelecerem como uma ferramenta familiar no mundo moderno viabilizou a produção de aplicativos como o ParticipACT, que buscam inovar as possibilidades de coleta de dados de maneira a produzir informações mais precisas e valiosas. O conjunto das informações compõem o conteúdo das plataformas digitais, que se converte em conhecimento.
Este conhecimento, quando aplicado, permeia por diferentes atores do ambiente urbano, como academia, sociedade civil e governo. Na comunidade acadêmica, por exemplo, o histórico de dados disponibilizado no aplicativo direciona e qualifica as pesquisas de diversas áreas. Já na sociedade civil, o compartilhamento de informações na plataforma MCS fortalece a participação cívica e o senso comunitário. Enquanto que na gestão pública e privada, há maior assertividade nas tomadas de decisões e nas estratégias que impactarão o futuro da cidade e de seus habitantes.
A gestão pública, neste caso, se insere como uma espécie de governo eletrônico ao redor dos cenários virtuais e reais [1], no qual o aplicativo atua como um vínculo entre a população e os governantes. Em outras palavras, o aplicativo torna-se um mecanismo de inclusão cidadã para gerar conhecimento, facilitando a compreensão dos diversos elementos urbanos inter relacionados, de forma a organizá-los e melhor administrá-los.
É a partir de então que o ParticipACT Brasil se estabelece como uma solução inovadora, capaz de remodelar o funcionamento operacional de redes e serviços tradicionais com base na inteligência coletiva, buscando o aprimoramento da gestão e do desenvolvimento inteligente de cidades mais conectadas aos cidadãos.
Referências
[1] Participact Brasil. Disponível em: http://www.participact.com.br/, Acesso em: 15 abr. 2021.
[2] Buosi, M. (2018). Mobilidade inteligente: proposta de framework de big data analytics para análise de dados de mobilidade urbana em uma smart city. [Dissertação Mestrado]. Programa de Pós-graduação em Administração, Universidade Estadual de Santa Catarina, Florianópolis.
[3] Lentez, A. A., Soares, K. L., & Mager, G. B. (2019). Design e interfaces móveis: uma análise de usabilidade em aplicativo para smart city. In: Anais do 9º CIDI | Congresso Internacional de Design da Informação, edição 2019 e do 9º CONGIC | Congresso Nacional de Iniciação Científica em Design da Informação. São Paulo: Blucher. ISSN 2318-6968, DOI 10.5151/9cidi-congic-4.0267
(VIA – Estação Conhecimento, 01/07/2021)
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