Pesquisadores brasileiros desenvolveram um novo método para aproveitamento dos resíduos de construção civil e demolição (RCD) que custa 50% mais barato e consome 80% menos energia que outras técnicas. O novo método dispensa a britagem do material a ser reciclado, o que barateia o processo e torna viável a instalação de pequenas usinas de reaproveitamento dos RCD. O nova tecnologia foi criada por pesquisadores da Escola Politécnica da USP (Poli/USP), do Centro de Tecnologia Mineral (Cetem) e da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), e,devido ao ineditismo, será patenteada, .
A nova tecnologia de reciclagem de RCD será apresentada hoje durante a Conferência sobre Resíduos de Construção e Demolição (RCD) como Material de Construção, que será realizada em São Paulo, no auditório “Prof. Francisco Romeu Landi”, do prédio da Administração da Poli (Avenida Prof. Luciano Gualberto, travessa 3, nº 380, Cidade Universitária, São Paulo).
Segundo o professor Vanderley John, do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Poli, um dos integrantes da equipe que realizou o estudo, a tecnologia desenvolvida possibilita que usinas de reciclagem simplifiquem a produção de matéria-prima para bases e sub-bases de pavimentação a partir de resíduos da construção civil. “Atualmente, a reciclagem de RCD passa necessariamente pela britagem (quebra dos resíduos em pedaços pequenos, com no máximo 63 milímetros de diâmetro)”, explica. “Isso encarece o processo, pois o britador representa mais da metade do investimento total da montagem de uma usina de reciclagem. O novo método reduz os investimentos iniciais e simplifica a operação das centrais de reciclagem, o que torna viável um maior número de centrais de reciclagem públicas ou privadas.”
Aplicações
A nova tecnologia está baseada nos resultados de uma pesquisa com amostras representativas de resíduos coletados em três cidades: Macaé (RJ), Maceió (AL) e São Paulo (SP). “Coletamos 20 toneladas de resíduos dessas três cidades”, explica John. “E constatamos que cerca da metade dos resíduos tinha tamanho inferior a 63 milímetros; ou seja, poderiam ser aplicados diretamente na composição de pavimentos, sem necessidade da britagem”, acrescenta. Esta constatação levou a equipe a propor uma forma extremamente simples de transformar resíduos em agregados: separação manual do material indesejável ao processo, seguido de peneiramento na bitola de 60 mm e de uma nova remoção manual dos contaminantes (madeira, papel, cerâmica), remanescentes da fração abaixo de 63 mm, que será comercializada como agregado de pavimentação.
Segundo John, o novo método poderá ser aplicado em ambientes urbanos e adotado por prefeituras, cooperativas ou empreendimentos privados. “A redução dos investimentos iniciais, dos custos e da complexidade de operação facilita a introdução da reciclagem, inclusive porque reduz os riscos. Assim, esperamos que essa tecnologia possibilite a ampliação do número de usinas e a margem de lucro desse novo negócio”, ressalta. Em conseqüência, evita-se a deposição ilegal desses resíduos nas margens de ruas e rios, reduzindo os impactos ambientais, além de minimizar os gastos das prefeituras com a gestão deles.
A nova tecnologia tem várias outras vantagens, a exemplo da redução do consumo de energia elétrica (60 a 80%) em relação ao sistema de reciclagem tradicional com britagem. “O novo método também torna possível a implantação das usinas nas proximidades do mercado consumidor, o que significa menores distâncias de transporte, que corresponde a dois terços do preço final do produto”, diz. Outra vantagem é que o sistema reduz de forma significativa a emissão de material particulado e principalmente de ruídos na operação de britagem. Assim, alternativas de desenvolvimento sustentável são incentivadas.
Além do professor Vanderley John, entre os pesquisadores da Poli também participaram da pesquisa o professor Artur Pinto Chaves e a pesquisadora Carina Ulsen, ambos do Departamento de Engenharia de Minas e de Petróleo, e os pesquisadores Francisco Mariano Sérgio Ângulo (atualmente no do IPT).
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Fonte: CarbonoBrasil/USP
(Carbono Brasil, 28/04/08)