O plantio de árvores para neutralizar a emissão de CO2 de empresas ou eventos tem sido uma ferramenta de Marketing tão forte que faz com que muitos consumidores percam a visão da importância dessa iniciativa. Pelo processo da fotossíntese, as florestas absorvem e estocam o carbono da atmosfera, dessa maneira, contribuem para combater o aumento do efeito estufa e o aquecimento global.
Cientes dos benefícios ambientais do reflorestamento, muitas empresas passaram a prestar serviços de consultoria nessa área. Apesar de aparentemente a iniciativa só trazer benefícios para a sociedade e o meio ambiente, a falta de padrões faz com que, em alguns casos, o processo seja desvirtuado. A tendência agora é que as empresas mostrem a sua responsabilidade por ações que vão além do plantio de árvores.
“Para que realmente seja benéfica ao meio ambiente e ao clima global, a compensação de emissões não deve ser adotada como uma solução única”, afirma o diretor de meio ambiente da ONG Iniciativa Verde, Osvaldo Stella. Ele entende que o plantio de florestas deve entrar como última alternativa na lista de ações para tornar o consumo mais consciente. “Em nossas parcerias, primeiro realizamos um inventário de emissões e, em cima disso, trabalhamos os conceitos de ‘reduzir’, ‘reutilizar’ e ‘reciclar’. Somente as emissões inevitáveis são compensadas com o plantio de árvores”, explica.
O processo de restauro ambiental realizado pela Iniciativa Verde dura, em média, 30 meses, com o plantio e a manutenção de espécies nativas em áreas de preservação permanente de mata ciliar.
Para se definir o número de árvores a serem plantadas, calcula-se a quantidade de carbono emitida durante um evento, por exemplo. As florestas plantadas levam 37 anos para alcançar o clímax de absorção de carbono. Nesse período, cada hectare de árvore é capaz de neutralizar 80 toneladas de CO2 da atmosfera.
Stella conta que além de reflorestar áreas desmatadas e contribuir para o clima do planeta, o plantio de árvores traz consigo uma série de benefícios ambientais, como a preservação de cursos de água, conservação da biodiversidade (restaurando o habitat de várias espécies de flora e fauna e possibilitando o intercambio genético); conscientização, mudança de comportamento e geração de renda no campo.
O diretor acredita ser fundamental esclarecer a população da necessidade de agir de forma pró-ativa para reduzir as emissões dentro de casa ou no trabalho, ao invés de esperara apenas pela compensação.
O plantio de árvores não é uma solução definitiva para o efeito estufa, esclarece. “Para resolver esse problema é preciso mudar os hábitos da sociedade que está acostumada com facilidades como carros poluentes e aparelhos de ar-condicionado que consomem energia elétrica”.
Por se tratar de iniciativas voluntárias, o mercado de neutralização de emissões com plantio de árvores não recebe nenhuma regulamentação, o que favorece a ocorrência de fraudes. Há registros de empresas que prometeram compensar emissões com árvores que nunca foram plantadas. Há casos também de florestas derrubadas antes de se completar o período necessário para a compensação e, até mesmo, de empresas que subestimaram a quantidade de árvores necessárias para o plantio, dando uma falsa idéia de neutralização das emissões.
Para se consolidarem no mercado, as empresas que trabalham com compensação precisam agir de maneira honesta, pois cada vez mais os resultados das suas ações serão cobrados pela sociedade.
Leia a entrevista com o diretor da ONG Iniciativa Verde, Osvaldo Stella
(Sabrina Domingos, Carbono Brasil, 15/04/08)