Assim como no setor financeiro, o uso de recursos naturais como uma espécie de empréstimo sem fundos pode levar a um colapso indiscriminado na área ambiental, produzindo conseqüências ainda mais graves e mais onerosas. O alerta é do relatório bianual Planeta Vivo 2008, da organização não-governamental WWF, que destaca o fato de a humanidade ter produzido uma bolha de crédito ambiental 30% superior à capacidade do planeta de fornecer bens e serviços à civilização de forma sustentável. Mesmo levando em conta a estratégia das instituições ambientalistas de maximizar as conseqüências na tentativa de sensibilizar mais facilmente a população sobre os riscos do descaso com a natureza, o alerta precisa ser levado a sério inclusive em países como o Brasil, que é credor nesta área.
Um aspecto particularmente preocupante do relatório é o alerta de que, se as demandas em relação ao planeta continuarem a aumentar no mesmo ritmo, já a partir de 2030 seriam necessários dois planetas para a população manter o estilo de vida atual.
O risco ocorre porque, assim como os recursos financeiros, também o chamado “capital natural” vem sendo usado de forma indiscriminada, a ponto de colocar em perigo a prosperidade do mundo, devido a impactos inevitáveis como a elevação do preço dos alimentos, da água e da energia. Se não existissem outras razões, há pelo menos uma suficientemente relevante na área econômica para exigir a imediata tomada de providências: a estimativa é de que, na área ambiental, são destruídos a cada ano o equivalente a US$ 4,5 trilhões, prejuízo superior ao da atual turbulência nos mercados globais.
Ao contrário da financeira, a crise ambiental não é percebida de imediato, por não afetar de forma visível e direta o bolso de cada um. Em relação à média mundial, países como o Brasil levam vantagem sob o ponto de vista da chamada “pegada ecológica”.
A expressão é usada para definir o grau de deterioração que as atividades humanas produzem nos sistemas naturais. Isso significa que o ser humano precisa começar já, enquanto é tempo, a usar de forma responsável a área biologicamente produtiva da qual necessita para viver com um mínimo de qualidade – o que implica terra suficiente para produzir comida, fibras e madeira, oceanos e rios que assegurem pescado e uma porção da biosfera capaz de absorver gás carbônico, permitindo a expansão das cidades. Nada disso é suficiente para permitir descuidos na área ambiental, no país e num mundo no qual tudo se mostra cada vez mais interdependente – dos mercados financeiros aos sistemas ambientais.
Cada vez mais, o Brasil e os demais países precisarão conferir prioridade à agenda ecológica. Isso significa que é preciso levar em conta aspectos ambientais na tomada de decisões sobre consumo, desenvolvimento, comércio, agricultura e pesca, por exemplo.
(DC, 30/10/2008)
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