Tese trata sobre coalizões em torno da política de turismo de Florianópolis

Tese trata sobre coalizões em torno da política de turismo de Florianópolis

Da Coluna de Fabio Gadotti (ND, 03/10/2021)

O professor Thiago Chaves acaba de defender sua tese de doutorado, na Udesc/Esag, sobre as estratégias das coalizões em torno das políticas públicas na área do turismo em Florianópolis.

À coluna, ele comentou  sobre os papéis exercidos pelos diversos atores do trade turístico, defendeu o fortalecimento de parcerias entre poder público e iniciativa privada e apontou caminhos para acabar com a fama de “cidade do nada pode”.

Quais suas principais conclusões sobre a construção das políticas de turismo em Florianópolis?
A “política pública de turismo” não pode existir apenas para enfeitar com letras planos ou intenções constitucionais, mas deve garantir na prática sua efetividade.

Em Florianópolis constatou-se que inexiste. Por mais que o governo federal  – de 2004 a 2021 – tenha buscado consolidar o plano de regionalização com as instâncias de governança, na prática a operacionalização local é carente. Ou seja, na gestão dos problemas públicos apresentados em Florianópolis ela é inexpressiva.

Apesar deste entrave, quando se trata de sua forma redistributiva, outras políticas públicas correlatas ao turismo surgem como “substitutivas”. Como por exemplo, o caso da obra de infraestrutura da Avenida das Rendeiras – quando terminada – além de melhorar o acesso à praia da Joaquina, beneficiará o turismo local, o comércio e a mobilidade. Esta ação coletiva acaba reverberando estrategicamente em outras áreas da política pública e atende indefinidamente os cidadãos que frequentam ou não determinada região.

Na sua avaliação, por quê a Capital tem dificuldade em derrubar o carimbo de “nada pode”? Entra ano e sai ano, os entraves persistem.
O alinhamento de crenças ideológicas ou políticas não é suficiente para gerar a estabilidade das coalizões. É preciso a presença de interesses convergentes entre a maioria dos atores para vencer muitos dos entraves locais.

Entre eles, este carimbo de cidade do “nada pode”, que somente se apagará quando a cidade possibilitar de forma transparente o diálogo sobre ações que provoquem uma maior coordenação e alinhamento das variadas “defesas” sobre o turismo local e regional.

As influências nas políticas públicas que desenvolvem o turismo precisam ser ampliadas com parcerias entre o poder público e o privado a partir da clareza entre segurança política e segurança jurídico-institucional.

Esta primeira deve ser garantida por parte dos gestores públicos eleitos ao darem continuidade aos bons projetos de gestões anteriores, ao nomearem secretários com conhecimento técnico e destinarem orçamento exclusivo para a pasta de turismo.

Já a segurança jurídico-institucional deve ser garantida por parte dos gestores públicos e sobretudo, dos órgãos de controle de forma preventiva um diálogo propositivo, sem aplicar vetos baseados exclusivamente em convicções ideológicas ou em “dificuldades pra vender facilidades”.

Ou seja, providenciar regras claras sob a égide legal é tornar mais redistributiva as possibilidades de construção de políticas públicas que desenvolvam o turismo e ofertem garantias viáveis para que o empreendedor invista em Florianópolis.

Qual o papel do Ministério Público, Ibama e Iphan nessa correlação de forças envolvida no debate sobre o modelo de turismo de Florianópolis?
Percebe-se que estes atores, por vezes, realizam de fato o papel da visão diametralmente oposta ao trade, regulam medidas contrárias às políticas públicas defendidas majoritariamente por determinados segmentos turísticos. Exercem um papel institucional importante, especificado pela Constituição Federal (dos pesos e contrapesos) e são decisivos na mudança ou estabilidade da política pública.

No entanto, é perceptível que esses órgãos de controle de forma intermitente em determinados conflitos de interesses dão alicerce jurídico para coalizões ligadas principalmente a políticas públicas ambientais ou sociais.

Chama atenção, no entanto, o papel do Iphan que de forma equilibrada busca exercer o papel de mediador ao moderar forças e liderar, por exemplo, a questão da ocupação turística das Fortalezas de Santa Cruz de Anhatomirim e de Santo Antônio de Ratones.

Qual o modelo equilibrado de turismo para Florianópolis?
Por parte do trade, é preciso uma maior coordenação e coesão em suas defesas, sem sopesar as habituais vaidades institucionais; já por parte dos órgãos de controle, maior apoio preventivo e mediação nos entraves entre diferentes atores.

Assim, será possível protagonizar um turismo mais equilibrado, que traga crescimento econômico; promova a inclusão comunitária; gere oportunidades de renda; possibilite infraestrutura com segurança e legalidade; apresente transformações à paisagem com responsabilidade; ocupe preservando e torne viva as vocações turísticas da Capital. Enfim, que legitime o turismo como uma autêntica política pública pelo desenvolvimento regional.