15 jul Fome é o maior problema das comunidades da Grande Florianópolis
Da Coluna de Renato Igor (NSC, 14/07/2021)
A fome é o maior problema nas comunidades da Grande Florianópolis. A conclusão é do Instituto Comunitário Grande Florianópolis (ICOM). A instituição criou, em maio, a Campanha Existe Fome na Grande Floripa. Atualmente, são 336 famílias beneficiadas com acesso à alimentação, produtos de higiene e de limpeza em áreas de vulnerabilidade social de Florianópolis e região. Este é o resultado da corrente de solidariedade gerada a partir da campanha.
No total, a mobilização alcançou, até agora, mais de R$ 52 mil, que vieram de 127 pessoas e organizações que fizeram as doações. Os recursos são aplicados na comunidade de duas formas: com repasse direto a iniciativas da sociedade civil organizada que atuam na ponta, e por meio do Banco Comunitário ICOM, correalizado pelo ICOM, pelo Instituto Pe. Vilson Groh e pelas organizações da sociedade civil locais em cada unidade (Acam, Associação João Paulo II, Casa São José e Cedep).
“Nós iniciamos essa ação no final de maio depois de muitas conversas com organizações, grupos e movimentos sociais, e com famílias atendidas pelo Banco Comunitário, e identificamos que a fome é o maior problema que nossas comunidades enfrentam nesse momento. Por isso, lançamos a campanha com o objetivo de sensibilizar sobre o assunto e fazer um convite à solidariedade”, explica Renata Machado Pereira, coordenadora de programas do ICOM.
O ICOM, em diálogo com a sociedade civil organizada, percebeu que em mais de 90% das iniciativas ouvidas, o número de doações recebidas em 2021 é insuficiente para manter as atividades e continuar atendendo as famílias com a entrega de alimentos. Por outro lado, os pedidos por cesta básica têm aumentado consideravelmente, e elas precisam escolher quem vai ser alimentado e quem não vai. Os gestores destas ações coletivas ouvidas pelo ICOM são unânimes em dizer que a situação socioeconômica atual é pior do que a enfrentada em 2020.
O desemprego é preocupante na capital que tem a cesta básica mais cara do país. Entre as famílias atendidas pelo Banco Comunitário ICOM, 80% daquelas que têm como renda menos de um salário mínimo declaram que algum membro do núcleo familiar ficou desempregado durante a pandemia. Neste cenário, a insegurança alimentar é uma realidade enfrentada pelas pessoas mais vulneráveis da nossa região.
Em 2020, o ICOM apoiou 34 iniciativas da sociedade civil organizada que atendem juntas 3.100 famílias que têm dificuldade de acesso à alimentação.
Este é um desafio enorme. Setores econômicos e importantes para a região foram devastados pela crise provocada pela pandemia. Hotelaria, turismo e eventos empregam milhares de pessoas. Além disso, há o legítimo direito de pessoas pobres de outras regiões do Brasil que buscam uma oportunidade em Santa Catarina. É legítimo, são famílias que buscam acesso à saúde, educação e empregos.
Entretanto, sem recursos, emprego e moradia, pressionam os serviços públicos.
Não há solução simples, mas ela passa pela retomada econômica e por políticas públicas. Para isso, é preciso superar a pandemia e a instabilidade política no país.