12 abr Ecossistema de inovação de SC é tema de livro que promete ser um guia ao setor
Da Coluna de Estela Benetti (NSC, 11/04/2021)
A tecnologia e a inovação lideraram a geração de valor e desenvolvimento nas últimas décadas no mundo e seguem prioritárias. Santa Catarina, em especial Florianópolis, conseguiu constituir um ecossistema de inovação com impacto no país e no exterior. As razões desse sucesso são compartilhadas no livro Ponte para a Inovação: como construir um ecossistema empreendedor, que será lançado dia 20 deste mês, em live às 17h.
A obra aborda 32 vetores que permitem desenvolver ecossistemas de sucesso, inspiradas no polo de Florianópolis. Foi organizada pelo empresário Daniel Leipnitz, diretor corporativo da Visto Sistemas, presidente do Sapiens Parque, ex-presidente e conselheiro da Associação Catarinense de Tecnologia; e pelo jornalista e consultor de comunicação para tecnologia, Rodrigo Lóssio. Os artigos sobre os 32 vetores, entre os quais educação, fomento e apoio governamental, investimentos e relacionamentos, têm autores diferentes e os dois organizadores também assinam textos.
Com quase 500 páginas, a obra, lançada pela Santa Editora, já está disponível para pré-venda no site http://ponte.tech. Também neste mês, estará em todas as plataformas digitais, numa parceria com o Clube de Autores. Saiba mais na entrevista de Leipnitz e Lóssio, a seguir:
Por que decidiram elaborar um livro com 32 vetores de desenvolvimento?
Leipnitz – Começamos a pensar em deixar um legado sobre esse período (dois mandatos de Leipnitz na presidência da Acate). Decidimos trazer os vetores que levaram ao desenvolvimento desse ecossistema de inovação, tendo como pano de fundo a região de Florianópolis. Eu e o Lósssio temos um sonho grande de que esse livro pode ser para nós, assim como é o livro Start-Up Nation para Israel.
Para que cada pessoa que vem visitar Florianópolis e Santa Catarina e queira entender o que está acontecendo aqui, possa ter uma noção lendo esse livro. Além disso, a gente procurou fazer de uma forma simples e didática com a intenção de colocar passo a passo esses vetores para que um município possa implementar projeto assim, caso tenha interesse. Outro ponto central do livro foi convidar pessoas que possam falar com propriedade sobre cada um desses vetores. Isso cria um sentimento de união dos atores que forjaram esse desenvolvimento.
Cada vetor conta com abordagem de uma liderança do setor. Pode citar alguns e explicar a importância?
Leipnitz – Os vetores foram as coisas importantes feitas e que fizeram a diferença para chegarmos até aqui. Entre os autores de capítulos sobre esses vetores temos desde o professor Carlos Alberto Schneider, da Fundação Certi, os empresários José Fernando Faraco (Digitro) e Eric Santos (RD Station), Lucia Dellagnelo (Instituto Comunitário Grande Florianópolis) e muitos outros. É uma mescla de protagonistas de vetores cruciais para o desenvolvimento do ecossistema de inovação da região e do Estado.
Entre os vetores fundamentais eu cito a Educação. Um outro é o relacionamento governamental como um todo, que inclui desde compras pelo setor público, o fomento para as empresas se desenvolverem e outros. A redução da carga tributária foi importante. Também tivemos um trabalho fantástico do BRDE e do Badesc na concessão de crédito especial, os centros de inovação e as verticais de negócios. Também avalio como muito relevante o poder do exemplo, compartilhamento de experiência e conhecimento, que motiva outros cidadãos a empreender no setor.
Como os centros de inovação fortalecem o setor?
Leipnitz– Os centros de inovação têm uma importância grande para mostrar que o setor existe. Somos um setor silencioso. Por isso eles mostram para a sociedade o que está sendo feito e têm um papel fundamental para que um dos vetores aconteça, que é o compartilhamento de informações entre empresas e profissionais. É o lugar onde as pessoas se encontram, se escutam, trocam negócios. Isso é uma questão muito importante para ter velocidade no desenvolvimento do setor de tecnologia.
Qual é a importância da comunicação ao setor de tecnologia?
Lóssio – É pela comunicação que conseguimos atrair interesse para que gestores públicos, por exemplo, estejam sensíveis às demandas e necessidades do setor. Com visibilidade, conseguimos atrair talentos para que atuem nas nossas empresas, seja incentivando a formação de novos profissionais, seja na atração de pessoas de outras regiões ou segmentos. A comunicação ajuda a enaltecer as empresas, suas lideranças, inspirar para que mais gente busque empreender, que entendam que é possível construir negócios grandes, inspiradores.
Traduzir a linguagem técnica é desafio? Como está hoje?
Lóssio – Em Florianópolis a gente teve gerações de empreendedores e de tipo de empresas. Até os anos 2010, o setor era predominantemente formado por empreendedores de áreas técnicas, como engenheiros, cientistas da computação, e a forma de se comunicar era essencialmente técnica, por atributos e recursos que as soluções que levavam ao mercado ostentavam. Comunicar negócios técnicos sempre foi um desafio, por isso traduzir esta linguagem para diferentes tipos de públicos, não só clientes, como para jornalistas, para investidores, para governantes, era muito mais importante. De 2010 para cá, com o crescimento do ecossistema, atraiu-se profissionais de diferentes áreas para empreender startups, novos negócios, e o perfil do empreendedor foi se moldando mais. A força e a capacidade tecnológica ainda fazem a diferença, mas a capacidade de comunicação, de se pensar estratégias de marketing e vendas, se tornou tão importante quanto.
Santa Catarina vem registrando, nos últimos anos, várias fusões e aquisições no setor de tecnologia. Tivemos recentemente a aquisição da RD Station pela Totvs, da Way2 pela 2W… O que isso significa?
Leipnitz –O ecossistema está mostrando uma maturidade, mostrando a sua evolução. Faço, com as devidas proporções, uma comparação com Israel. Eles também começaram com uma educação boa, criaram uma camada de pequenas startups que foram se desenvolvendo, atraindo investimentos externo e interno. Lá eles têm o fato de não ter mercado interno, aqui é diferente. Isso criou uma camada de empresas médias e hoje eles têm diversos unicórnios, multicórnios e decacórnios. Nós estamos seguindo esse caminho. Hoje, temos uma camada bastante significativa de empresas médias e estamos atraindo a atenção de diversos investidores.
A quantidade de empresas que participaram de M&A (fusões e aquisições) é muito significativa, e hoje são espalhadas. Por exemplo: a gente teve uma operação envolvendo uma empresa maravilhosa de Rio do Sul, a gente teve a aquisição da Hiper, de Brusque. Isso está começando a se espalhar no Estado. E outro ponto importante de comparação com o Israel é o fato de SC sediar laboratórios de inovação.
Hoje, o nosso Estado está sendo palco de grandes empresas que trazem a sua área de tecnologia e inovação para cá. Eu posso citar a Cargill com a Agriness; a Philips, que desenvolve toda a sua tecnologia embarcada para saúde em Santa Catarina; eu posso citar a ABInBev, que tem uma equipe gigantesca no Estado. Ela comprou a HBsis, de Blumenau, e hoje mantém mais de 1.500 colaboradores. Temos também a Mercado Livre em Florianópolis. Esse movimento está crescendo e isso vai ser muito importante para o nosso desenvolvimento e reconhecimento como um estado inovador, com talentos, com boa educação.