21 ago A violência na ilha e o modelo de segurança
Artigo escrito por Laudelino José Sardá (Acontecendo Aqui, 21/08/2009)
O assassinato de uma mulher empresária esta semana no Balneário de Cachoeira do Bom Jesus, no norte da Ilha, desencadeia uma série de questionamentos sobre o sistema de segurança de Florianópolis. Faço algumas ponderações para mostrar que o modelo de segurança em vigor é ineficiente, omisso e, sobretudo, improdutivo.
Primeiramente, é necessário que a cúpula da polícia seja despartidarizada e profissionalizada. Não se admite, em pleno século XXI, uma Secretaria de Segurança dirigida por políticos que transformam a polícia em trampolim eleitoral. O sistema de segurança ganha, a cada quatro anos, uma plataforma eleitoral, quando deveria estar alicerçado em um programa permanente, identificado com os problemas peculiares a cada região. Até a Colômbia vem apostando nesta alternativa e está superando o drama de conviver com a violência por longos anos.
Em segundo lugar, entendo que a polícia precisa estar, através de suas delegacias, núcleos ou postos, interagindo com a comunidade, numa reciprocidade de confiança e de ações. A segurança não se faz somente com policiais nas ruas, mas, sobretudo, em meio a uma sinergia de trabalhos preventivos entre a comunidade e os órgãos públicos.
Lembro-me da eficiência da polícia do bairro. Havia até viatura com o nome do bairro. De repente, instituíram a polícia global, a que cuida de tudo ao mesmo tempo. Aos poucos, para corrigir as falhas, segmentaram-na, com pelotões identificados por siglas e com viaturas de diversas cores. Puro marketing. Mas isto faz parte da pesada herança do regime ditatorial, que deu à polícia a atribuição de também caçar comunistas. A polícia deve dispor de pelotões especializados, mas toda a corporação precisa ter uma só identidade, sob pena de a população só confiar naquele pelotão constituído de homens fortes, bem armados e escondidos em suas toucas.
É necessário retomar a estratégia da polícia de bairro, para cuidar da população sem distinção.
Comecei este artigo falando do assassinato de uma empresária, lá na Cachoeira do Bom Jesus, hoje com mais de 15 mil moradores. Esse balneário não dispõe de policiais, enquanto que, a menos de cinco quilômetros de lá, um balneário chic, cujos imóveis ficam fechados nas estações frias, é privilegiado com um posto policial bem equipado, quem sabe para vigiar os edifícios de luxo vazios contra roubos e assaltos a eventuais invernistas. Por que essa discriminação?
Da mesma forma, pode-se comparar o sistema de segurança do balneário de Ingleses, onde residem mais de 50 mil pessoas, com o de Jurerê Internacional, com pouco mais de duas mil pessoas. Não há justificativa de que quem cuida desse balneário de gente rica é uma polícia privada. Não! A Polícia Militar tem uma delegacia bem no acesso, com mais de quatro viaturas e algumas motos. Por que essa diferença? Claro que Jurerê não pode privar-se de uma boa segurança, mas à polícia não cabe discriminar os distritos e bairros pelo nível social.
A cidade que segrega a sua sociedade, privilegiando classes abastadas e ignorando outros seres humanos, cria suas próprias barreiras ao desenvolvimento econômico e social. Não é sem motivo que Florianópolis tem hoje 60 bolsões de pobreza, com tendência – se não houver uma política de desenvolvimento humano eficiente – de alcançar níveis de conflitos sociais iguais ou piores que os do Rio de Janeiro.
Há bairros da Grande Florianópolis que precisam de estruturas policiais amplas e permanentes, como o Kobrasol, Balneário do Estreito, Coqueiros, Campeche, etc.etc. Quem sabe a Prefeitura, ao invés de manter uma guarda sem função, que fica a marcar ponto em frente a colégios ou a multar carros mal estacionados, transforme-a em uma verdadeira polícia municipal, para dar maior segurança à população.
Antes de encerrar, quero observar que os problemas dos 60 bolsões de pobreza não serão resolvidos pela polícia, é lógico, pois dependem de ações sociais e econômicas. Mas a polícia precisa perder o medo de estar e conviver com famílias desamparadas que vivem sob ordens de traficantes. Para isso, também os policiais necessitam de melhor remuneração, compatível com a sua função de proteger a sociedade.
Em síntese, se o governo quiser instituir uma política de segurança eficiente tem de se comprometer com a despartidarização da corporação, a começar pela Secretaria de Segurança, com a sua reestruturação, incluindo uma remuneração digna aos policiais.