25 ago Rindo da tragédia trabalhista real
O espetáculo A Comédia do Trabalho, da Companhia do Latão (SP), não apresentou aqueles dizeres típicos de filme, que avisam: qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência. A história se passa em Tropélia e o dinheiro usado são os bagos, mas a exploração dos pobres pelos ricos encontra eco nas manchetes dos jornais da chamada vida real.
Logo no início, os atores avisam: isso aqui é a tragédia do trabalho, que a gente chamou de comédia para atrair mais público. Risos.
Com cenário simples, um recorte de jornal Diário de Tropelia de fundo e bancos de madeira sobre o palco, os atores contaram a história dos empresários Léo e Créo, endividados e preocupados em como manter-se ricos, a despeito das centenas de trabalhadores demitidos.
É uma crítica ao capitalismo financeirizado, aos bancos que socorrem empresas falidas com dinheiro público, aos governos que concedem incentivos fiscais a empresas com supostos projetos sociais, à desunião entre os desfavorecidos, aos bem-nascidos que pretendem fazer filantropia sem ter muita noção do que ou com quem estão lidando. Todo o horror da sociedade mercantilizada exposta de maneira a provocar risadas e um certo incômodo aos que estão confortavelmente assistindo à peça em suas poltronas.
O espetáculo faz autorreferência em alguns momentos, como na hora do intervalo, que na verdade não liberou o público para o café. Ney Piacentini declamou uma poesia: “no mundo da mercadoria, coisa má é não ser mercadoria”.
As cenas em que Créo sonhava com fantasmas comunistas, de lenços vermelhos na cabeça e martelo e foice nas mãos, foram um dos pontos altos do espetáculo. Curioso notar que a peça estreou em 2000, em São Paulo, depois de pré-estreias em assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra daquele estado.
A última frase é um convite à reflexão. Ney, na pele de Léo, o empresário é questionado por Créo: “Que barulho foi esse?” E responde: “Nada, só uma pedra na vidraça, mas estamos vivos e com saúde”. Para bom entendedor… Foram aplaudidos de pé.
(DC, 25/08/2009)