26 ago A face feminina da pandemia
Anita Pires
Presidente da Associação FloripAmanhã, coordenadora da Rede Ver a Cidade Florianópolis
O Covid-19 escancarou as desigualdades entre homens e mulheres. Nessa crise, as mulheres são especialmente atingidas, pois acumulam a administração da casa, da família do trabalho. A violência doméstica cresceu, o cuidado com idosos, crianças e doentes se tornou urgente. É a dita “nova economia do cuidado”, trabalho feito pelas mulheres há séculos.
A questão da divisão do trabalho doméstico e o cuidado com os filhos continua muito mal resolvida, não atingindo só a família. Segundo o Fundo Monetário Internacional, o PIB mundial cresceria 4% ao ano se as mulheres tivessem acesso a escola e ao mercado de trabalho. Outro dado alarmante publicado pela Universidade do Pará, em pesquisa recente, indica que o Brasil perde um bilhão de reais ao ano com a violência contra as mulheres.
Mas, sabemos que crise e oportunidade andam lado a lado. Observando o processo que a pandemia vem percorrendo e os dados publicados, vemos que a pandemia tem rosto de mulher!
As mulheres médicas, cientistas, pesquisadoras, enfermeiras, psicólogas estão desempenhando papel fundamental no combate à pandemia. Segundo as Nações Unidas (ONU), as mulheres predominam na linha de frente no combate ao coronavírus em 70% das equipes de trabalho em saúde e serviço social. Temos exemplos como da médica infectologista brasileira Sue Ann Clemens que intermediou a parceria entre o Brasil e o Reino Unido para trazer os estudos clínicos da vacina de Oxford ao País. E a frente da Fiocruz, instituição centenária com papel importantíssimo no enfrentamento do coronavírus, está Nísia Trindade Lima, cientista de renome internacional.
As mulheres brasileiras estão batalhando na ciência há muito tempo. Agora, estão podendo mostrar sua força, competência e generosidade cuidando de milhares de pessoas.
Esta pandemia reforça que já passou muito da hora de termos mais mulheres na liderança das empresas, na política, e de termos mais homens fazendo serviços domésticos. Não é apenas justo, mas imprescindível para impulsionar a economia e uma novo pacto social com mais valorização das mulheres.
(ND, 25/08/2020)