Floripa Sustentável emite nota oficial: “A ausência da UFSC quando mais se precisa dela”

Floripa Sustentável emite nota oficial: “A ausência da UFSC quando mais se precisa dela”

O movimento Floripa Sustentável, constituído por 44 entidades representativas do setor produtivo catarinense e florianopolitano, vem a público manifestar a sua mais profunda indignação e perplexidade diante do fato de a Universidade Federal de Santa Catarina estar com suas aulas completamente paralisadas desde o dia 15 de março, ou seja, há mais de dois meses e meio – e que este estado de coisas tenha sido prorrogado “por tempo indeterminado” pela Portaria Normativa 364/2020, do Gabinete do Reitor Ubaldo Cesar Balthazar, de 29 de maio passado.

Lamentando as ameaças que suas lideranças vêm sofrendo, assim como os ataques a jornalistas e veículos de Comunicação que têm a coragem de denunciar esse descalabro, o movimento Floripa Sustentável não só não vai se calar ou acovardar, como também tem o dever de se posicionar para o pleno entendimento da comunidade catarinense:

1. Desde que ofereceu seu apoio à UFSC – e também à UDESC – por meio de uma carta ao reitor no dia 4 de maio passado, na qual destaca o fato de a instituição ainda não ter implementado “uma forma de substituir a aula presencial por uma solução tecnológica que viabilize a continuidade das atividades no formato on-line”, em momento nenhum o Floripa Sustentável teve a intenção de ferir a soberania, a autonomia, o corpo docente, discente ou funcional da UFSC e, muito menos, de “ideologizar” esse episódio. No entanto, é preciso lembrar que a nossa Universidade Federal não nasceu de “geração espontânea” há quase 60 anos atrás. Foi a comunidade catarinense, até hoje mantenedora e financiadora da UFSC por meio dos seus impostos, que criou e desenvolveu essa Instituição – e entre esses criadores estão entidades que hoje fazem parte do Floripa Sustentável. À comunidade catarinense deve sim prestar contas a UFSC, porque Santa Catarina está acima de todos nós e, consequentemente, da comunidade acadêmica. Temos orgulho da UFSC, por seu passado, por seu presente e temos obrigação de zelar por seu futuro.

2. A história e o papel da UFSC no desenvolvimento, nas crises, na produção de ideias, projetos, estudos e pesquisas que a credenciaram ser a vanguarda do pensamento catarinense ao longo dos tempos, juntamente com a UDESC, nos levaram a crer que, neste momento de pandemia, a Instituição seria a primeira a apresentar soluções tecnológicas nos mais variados campos da atividade – mais especialmente no que se refere ao Ensino à Distância, da qual é destaque nacional, e atividades no formato on-line.

3. Mas o que se viu foi o contrário: enquanto Instituições de Ensino Superior de todo o país – e maciçamente as particulares – e escolas da rede pública e privada de ensino fundamental, médio e técnico catarinenses, rapidamente passaram a funcionar on-line, a UFSC paralisou, sob a alegação de supostos empecilhos, entre os quais a verificação de que “se há condições de oferta de alguma possibilidade de ensino remoto, desde que garantidos o acesso pleno e universal”. Ou seja, o fato de uma ínfima minoria não ter acesso a smartphones, tablets ou computadores, fez com que a ampla maioria dos 46.225 alunos da UFSC ficassem sem aulas on-line. E assim a Universidade perdeu a grande oportunidade de incluir digitalmente e democraticamente aqueles poucos que não têm equipamentos, cuja arrecadação junto à comunidade o Floripa Sustentável propôs ao reitor de se encarregar.

4. Alegar que a ausência de acesso à internet é motivo para não oferecer aulas on-line em SC é uma falácia. De acordo com a Pesquisa Nacional por Domicílios Contínua Tecnologia (PNAD Contínua TIC) do IBGE, Santa Catarina tem quase 90% dos domicílios com acesso à internet. O Estado lidera também o acesso à internet por smart tevês. Porém, um dado da mesma pesquisa derruba qualquer outro argumento: os smartphones são responsáveis pelo acesso à internet em 99,2% dos lares catarinenses. Por outro lado, o uso de tabletes e computadores vem caindo continuamente, à média de 10% ao ano. A UFSC, porém, prefere esconder-se atrás de estatísticas manipuladoras, como a que aponta que “9 alunos de Ipu-Mirim, da aldeia indígena”, não têm acesso à internet. Por que não lhes oferecer agora?

5. Na Portaria 364 o reitor Ubaldo Balthazar concede um “prazo máximo de 30 dias para a conclusão de diagnósticos, coleta de informações e produção de indicadores que apontem condições plenas de oferta de alternativas a atividades de ensino, em todos os níveis e modalidades, em todas as unidades da UFSC”. Ou seja, aquilo que poderia ter sido feito ainda em março fica adiado até 30 deste mês, quando a Universidade completará a incrível marca de 3 meses e 15 de paralisação das aulas. Porém, os salários prosseguem rigorosamente em dia.
Por fim, o movimento Floripa Sustentável se solidariza com a Câmara da Pró-Reitoria de Pós-Gradução da UFSC, que havia decidido no dia 27 de maio retornar às aulas de forma on-line. Porém, para nossa surpresa, dois dias depois foi impedida de tal intento, em virtude de decisão do Conselho Universitário. Temos recebido dezenas de manifestações de apoio de professores, servidores e alunos da UFSC, indignados com o atual estado de coisas na instituição.

Mais uma vez, colocamo-nos ao lado da comunidade catarinense e acadêmica para apoiar o retorno às aulas no formato on-line e buscaremos em todas as instâncias provocar o debate e os questionamentos necessários para reverter essa inexplicável paralisação.

FLORIPA SUSTENTÁVEL

44 Entidades da comunidade catarinense, incluindo a Associação FloripAmanhã.