Seis em cada 10 trabalhadores com carteira em SC foram afetados pela crise da pandemia

Seis em cada 10 trabalhadores com carteira em SC foram afetados pela crise da pandemia

Da Coluna de Renato Igor (NSC, 24/05/2020)

A pandemia do novo coronavírus nos leva para a maior crise econômica que o país já viveu. Empresas e trabalhadores do setor privado sentem duramente os seus efeitos. São 530 mil pessoas que perderam seus empregos em dois meses de pandemia em Santa Catarina, segundo o Sebrae.

Pesquisa da entidade aponta, ainda, que 462 mil funcionários tiveram redução de salário e jornada e outros 408 mil tiveram contratos suspensos. A coluna pediu ao economista Bruno Negri analisar esses números. Segundo ele, 58% ou seis em cada 10 catarinenses do setor privado foram atingidos com a demissão, suspensão de contrato ou redução de jornada e salário.

“Isso representa menos R$ 12.789.339.300,00 na renda dos trabalhadores formais”, explica o economista. Nessa conta não entram os profissionais liberais e autônomos que viram seus negócios enfraquecer. Mesmo podendo reabrir após as restrições, muitas empresas acreditam que não compensa retomar. A falta do transporte coletivo afasta clientes e encarece a operação com o deslocamento de funcionários. O medo de contrair a doença afasta o comprador. Para piorar, a política atrapalha, não há articulação alguma entre os entes da federação e a ajuda demora para chegar a quem mais precisa.

Trabalhadores do setor formal, autônomos, profissionais liberais e empresas de todos os portes é que estão pagando a conta da pandemia. Não tivemos nenhum gesto consistente do congresso em cortar na própria carne. Os parlamentares aprovaram, de forma irresponsável, ajuda aos estados e municípios sem exigências de contrapartidas de verdade, como reformas e congelamento total de salários.

O ministro da Economia Paulo Guedes está correto ao reclamar. Erra na agressividade do discurso mas acerta na tese. É evidente que é o momento do poder público gastar e injetar dinheiro na economia, mas a ação requer responsabilidade.

Aqui em Santa Catarina, o que se fez em todos os poderes foi muito tímido. Vivemos escravizados pelo corporativismo estatal. Claro que os poderes precisam de recursos para ampliarem seus serviços e manterem o relevante trabalho que prestam. Mas todos defendem reformas desde que não afetem o próprio bolso.

Não tivemos redução alguma, mesmo que temporária, nos salários. Evidente que o servidor que ganha pouco e que está lá na ponta atendendo a população precisa ser preservado. Dos governadores da região sul, apenas Carlos Moisés não reduziu o próprio salário no período da pandemia. É um gesto simbólico e que não aconteceu.

No simpático Uruguai, o governo reduziu por dois meses os salários dos servidores públicos e aposentadorias.

O servidor não é culpado pela crise, temos excelentes profissionais e muitas vezes trabalham sem infraestrutura adequada. Mas temos, objetivamente, um fato: nem todos estão pagando a conta da crise provocada pela pandemia.