29 jul Médico vende atestado na Ilha
Profissional atestava a liberação de trabalhador do serviço
Sem saber que negociava com um jornalista, uma mulher identificada por Lúcia vendeu dois atestados médicos para dispensa do trabalho em nome do médico Nilton Olinto Cordeiro, ontem, em uma residência na localidade dos Ingleses do Rio Vermelho, no Norte da Ilha de Santa Catarina, na Capital.
Segundo vizinhos, uma casa na Servidão Netuno é o local onde reside o médico, que trabalha no posto de saúde do Rio Vermelho e a mulher. Um dos atestados saiu no nome do repórter; o outro, no de uma pessoa fictícia, pelo valor de R$ 30 cada.
O médico foi procurado pela reportagem na unidade de saúde e não quis falar. Mas, através da coordenadora, ele disse que só falaria em juízo e na presença de um advogado.
Durante a tarde, um novo telefone para o telefone fixo da residência na Servidão Netuno e Lúcia voltou a atender o repórter.
– Não. Deve ser um engano (desligou o telefone) – disse a mulher, depois de ser questionada sobre a venda dos documentos.
Cada atestado foi comprado para três dias de dispensa do trabalho devido a uma suposta viagem para o Paraguai.
No atestado do repórter, Lúcia prometeu um código de doença de uma infecção intestinal. E no documento para a pessoa fictícia, o problema seria uma tendinite.
Fato é passível de demissão do funcionário por justa causa
Para o chefe de fiscalização da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de Santa Catarina, Aurélio Naujorks, o fato descrito é passível de demissão do funcionário por justa causa. Ele lembrou que o artigo 482, da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), prevê esses desvios de comportamento.
– Um funcionário que apresenta um atestado frio, com a intenção de faltar o trabalho, está cometendo uma incontinência de conduta e um mau comportamento. Assim, ele não terá direito a retirada do FGTS, de receber o 13º salário e ao seguro-desemprego. Só vai receber o salário do mês e o proporcional de férias – afirmou o chefe da fiscalização.
Como foi a negociação
Repórter: Boa tarde. Quem fala?
Negociadora: É Lúcia.
Repórter: É clínica médica?
Negociadora: Não, é da residência dele.
Repórter: Estou precisando de um atestado e quero saber como faz.
Negociadora: Tu trabalhas onde?
Repórter: Trabalho em um restaurante em (no Bairro) Campinas (São José).
Negociadora: É de falta, né?
Repórter: É de falta, para três dias.
Negociadora: Eu preciso do teu nome completo, RG, os dias que você quer e da doença, porque preciso colocar um CID (Código Internacional de Doenças).
Repórter: Vamos colocar uma doença que dure três dias. Preciso viajar para o Paraguai. O que você pode me dar para uns três dias. Pode ser uma gripe ou resfriado?
Negociadora: Pode ser infecção intestinal?
Repórter: Pode ser.
Negociadora: Qual é o seu nome?
Repórter: Michael Tavares Gonçalves
Negociadora: A partir de qual dia você quer?
Repórter: Hoje é segunda-feira. Quero viajar amanhã. Então pode ser para terça, quarta e quinta-feira.
Negociadora: Dias 28, 29 e 30. Três dias. Vou colocar infecção intestinal.
Repórter: E quanto sai, Lúcia?
Negociadora: Tu moras onde?
Repórter: Moro em Campinas.
Negociadora: E tu vem aqui para pegar?
Repórter: Pode ser. Foi uma amiga minha que indicou.
Negociadora: Tu conheces os Ingleses?
Repórter: Sim.
Negociadora: (Explica o endereço residencial completo) Dá R$ 30 tá?
Repórter: Eu posso conseguir para a minha esposa também?
Negociadora: Ela também quer?
Repórter: Também.
Negociadora: Então passa o nome dela.
Repórter: Pode ser Valéria Gonçalves.
Negociadora: Ela trabalha aonde?
Repórter: De balconista em um mercado.
Negociadora: Então, pra ela eu vou botar uma tendinite. Então, dá R$ 60.
(DC, 29/07/2009)